terça-feira, 19 de outubro de 2010

Incentivo a leitura (clic)



Por que meu aluno não lê?

            “Os meus alunos não gostam de ler” é, sem dúvida, a queixa mais comumente ouvida entre os professores.[ ... ]
            Para formar leitores, devemos ter paixão pela leitura. Concordamos com o autor francês Bellenger [ ... ], que a leitura se baseia no desejo e no prazer: “Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta é uma opção. É tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida, um apelo, uma ocasião de amar sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece sob o prazer.” [ ... ]
            Ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue extrair o sentido. Essa é uma boa caracterização da tarefa de ler em sala de aula: para uma grande maioria dos alunos ela é difícil demais, justamente porque ela não faz sentido. [ ... ]
            As práticas desmotivadoras, perversas até, pelas consequências nefastas que trazem, provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza do texto e da leitura, e, portanto, da linguagem. Elas são práticas sustentadas por um entendimento limitado e incoerente do que seja ensinar português, entendimento este tradicionalmente legitimado tanto dentro como fora da escola. É dessa legitimidade que se deriva um dos aspectos mais nefastos das práticas limitadoras que discutiremos: elas são perpetuadas não só dentro da escola, mas também funcionam como o mecanismo mais poderoso para a exclusão fora da escola. Os diversos concursos para os cargos públicos [ ... ] exigem do candidato o conhecimento fragmentado e mecânico sobre a gramática da língua decorrente de uma abordagem de ensino que é ativamente contrária a uma abordagem global, significativa, baseada no uso da língua.
            É por isso que uma das primeiras barreiras que o professor tem que negociar para poder ensinar a ler é a resistência do próprio aluno, ou dos pais do aluno quando este é uma criança mais nova. Já ouvimos um aluno dizer “Eu não quero trabalhar textos, eu quero aprender português”, expressando o mesmo pré-conceito de um adulto analfabeto em curso supletivo de alfabetização que nos disse: Eu não quero trabalhar textos, eu quero aprender a ler.” Essas convicções estão baseadas numa concepção de saber lingüístico desvinculada do uso da linguagem: no primeiro caso, o aluno está reivindicando a regra gramatical tradicional,
que não faz sentido, que deve ser memorizada só para a prova, mas que será a que determinará sua inclusão ou exclusão no banco, na repartição pública, na faculdade; no segundo caso, o aluno reivindica a decifração e cópia de letras e sílabas, como um fim em si, sem perceber que essas atividades são apenas prelúdio para a atividade de leitura, porque nunca ninguém desvendou para ele o verdadeiro significado da atividade.
            E justamente essa resistência a que é usada pelo burocrata (que pode ser o diretor da escola, outros professores), para efetivamente impedir uma prática alternativa. E encontramos, na maioria dos casos, e muito rapidamente o professor novo (recém-chegado ou recém-formado e com uma proposta renovadora e inovadora) que desiste, em parte pelo fato de ele se encontrar dentro de uma estrutura de poder na escola, no degrau mais baixo, e também, pelo fato de sua proposta estar baseada apenas numa convicção de necessidade de mudança, mas sem a formação necessária para essa mudança. Por isso, acreditamos na formação teórica do professor na área de leitura.

KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: Teoria e Prática.













 
Assista ao vídeo: Ler deveria ser proibido

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