quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Variedades linguísticas

 "E o cabo eleitoral, dirigindo-se ao candidato, sentado frente à televisão:

 - Firmei
 - Não, Sirvió Santos"

Variações lingüísticas
O modo de falar do brasileiro
Alfredina Nery*

Toda língua possui variações lingüísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações lingüísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.

1) Em sociedades complexas convivem variedades lingüísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;

2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;

3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.

Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.


Variações regionais: os sotaques

Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:
Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.
Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação lingüística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.

Antigamente
"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.

Língua e status

Nem todas as variações lingüísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para percebers que há preconceito em relação a elas.

Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:

O Poeta da Roça
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o pape
De argun menestré, ou errante canto
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)

Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.

Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira".

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mio
Para pior pio
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades lingüísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações lingüísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito lingüístico.
*Alfredina Nery Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura




Gíria e jargão
A língua muda conforme situação
Alfredina Nery*

A língua varia no tempo e no espaço. Há ainda as variaçãoes linguísticas dos grupos sociais (jovens, grupos de profissionais, etc) e até mesmo, há variação quando um único indivíduo, em situações diferentes, usa diferentemente a língua, de forma a se adequar ao contexto de comunicação. Uma dessas variações é a "gíria", que são as palavras que entram e saem da moda, de tempos em tempos.

Você conhece o "Dicionário dos Mano"? Aqui vão alguns exemplos:

·         Mano não briga: arranja treta.
·         Mano não cai: capota.
·         Mano não entende: se liga.
·         Mano não passeia: dá um rolê.
·         Mano não come: ranga.
·         Mano não fala: troca idéia
·         Mano não ouve música: curte um som.

A gíria teve sua origem na maneira de falar de grupos marginalizados que não queriam ser entendidos por quem não pertencesse ao grupo. Hoje, entende-se a gíria como uma linguagem específica de grupos específicos, como os jovens. Grupos sociais distintos têm seus "modos de falar", como é o caso dos mais escolarizados e, até mesmo, os grupos profissionais que se expressam por meio das linguagens técnicas de suas profissões.

Jargão

Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc.
Imagine que você foi a um hospital e ouviu um médico conversando com outro. A certa altura, um deles disse:

"Em relação à dona Fabiana, o prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio."

É provável que você tenha levado algum tempo até entender o que o médico falou. Isso porque ele utilizou, com seu colega de trabalho, termos com os quais os dois estão acostumados. Com a paciente, o médico deveria falar de uma maneira mais simples. Assim:

"Bem, dona Fabiana, a senhora pode parar de tomar o remédio, sem problemas"


Diferentes situações de comunicação

Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação formal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes, isso não acontece conosco, no cotidiano? Na família e com amigos, falamos de uma forma, mas numa entrevista para procurar emprego é muito diferente. Essas diferenças lingüísticas dependem de:

·         familiaridade ou distância dos que participam do ato de linguagem;
·         grau de formalidade da ocasião;
·         tipo de texto usado: conferência, texto escrito, conversa, artigo etc.

Portanto, para saber se adequar a diferentes situações de comunicação, com variações lingüísticas próprias de cada ocasião, você precisa ser um "poliglota na própria língua"...




Divirta-se com os textos que exploram as variedades como forma de humor.


Texto 1: Assalto


- Assaltante Cearense
Ei, bixim…
Isso é um assalto..
Arriba os braços e num se bula nem faça munganga…
Passa vexado o dinheiro senão eu planto a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora…
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da molesta…


- Assaltante Mineiro
Ei cumpadre, prestenção..
Isso é um assarto, uai…
Levanto os braços e fica quetinho quesse trem na minha mão tá cheio de bala…
Mió passar logo os trocados que eu num tô bão hoje…
Vai andando, uai, tá esperando o que, uai..


- Assaltante Gaúcho
Ô gurí, ficas atento…
Báh, isso é um assalto…
Levantas os braços e te aquieta, tchê!
Não tentas nada e tomas cuidado que esse facão corta que é uma barbaridade…
Passa os pilas prá cá!
E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala!!


- Assaltante Carioca
Seguiiiinnte, cara…
Tu se fudeu, isso é um assalto…
Passa a grana e levanta os braços cara…
Não fica de bobeira que eu atiro bem pra caralho…
Vai andando e se olhar pra traz vira presunto…


- Assaltante Baiano
Ô meu rei.( longa pausa )…….. isso é um assalto…
Levanta os braços, mas não se avexe não…
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado…
Vai passando a grana, bem devagarinho…
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado…
Não esquenta, meu irmãozinho, vou deixar teus documentos na próxima encruzilhada…


- Assaltante Paulista
Ôrra, meu…..
Isso é um assalto, meu….
Alevanta os braços, meu….
Passa a grana logo, meu…
Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Timão, meu….
Se manda, meu….



Texto 2: Antigamente



ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
HAVIA OS QUE tomaram chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”, ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os eruditos, se alguém espirrava — sinal de defluxo — eram impelidos a exortar: “Dominus tecum”. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.
ANTIGAMENTE, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um cabrito, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da Corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
ACONTECIA o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtysica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora.
Carlos Drummond de Andrade

Texto 3: Cinema gaúcho 
Para uma fácil aceitação da população gaúcha, os cinemas locais mudam os nomes dos filmes. Veja abaixo o nome de alguns filmes que já foram mudados pelos gaúchos.

Uma Linda Mulher
Uma Chinoca Buenacha

O Poderoso Chefão
O Bagual Cuiudo

O Exorcista
Vem Capeta, Que te Arrebento a Facão!

Os Sete Samurais
Sete Gaudérios cas Vista Estreita

Godzila
Que Baita Lagarto!

Os Brutos Também Amam
Os Guapos

Perfume de Mulher
Asa de Chinoca

Mamãe Faz Cem anos
A Véia tá Cheirando a Defunto

Corra Que A Polícia Vem Aí
Vamo Saí Ginetiando, Que vem Vindo os Milico

E O Vento Levou
Se foi com o Minuano!

Guerra Nas Estrelas
Peleia no Firmamento

Um Peixe Chamado Wanda
O Muçum-Prenda

A Noviça Rebelde
Madre Alvorotada

O Corcunda de Notre Dame
O Tortinho Estropiado

O Fim Dos Dias
O Bagualão contra o Demo

A Pantera Cor-de-rosa
Gato-do-Mato Fresco

O Náufrago
Mais Perdido que cusco em Tiroteio

Os Filhos do Silêncio
Boca Fechada não Entra Mosca

7 Anos No Tibet
Sete anos na bailanta do Tio Beto

Querida, Encolhi As Crianças
China Véia! Encolhi as Cria

Titaníc
O caíacão furado

Forest Gump
Um trovador dos Pampa

A múmia
Um xirú enfaichado

O senhor dos anéis
O piá dono da argola

Despedida de solteiro
Bochincho lá nas tia

Máquina mortífera
O caminhão do Ambrózio não tem freio!

300
Mas há!


Texto 4: Cinema nordestino

Para uma fácil aceitação da população nordestina, os cinemas locais mudam os nomes dos filmes. Veja abaixo o nome de alguns filmes que já foram mudados pelos nordestinos.

Uma Linda Mulher
A Cabrita Aprumada

O Poderoso Chefão
O Coroné Arretado

O Exorcista
Arreda Capeta!

Os Sete Samurais
Os Jagunço di Zóio Rasgado

Godzila
O Calangão

Os Brutos Também Amam
Os Vaquero Baitola

Sansão e Dalila
O Cabiludo e a Quenga

Perfume de Mulher
Cherim di Cabocla

Tora, Tora, Tora!
Oxente, Oxente, Oxente!

Mamãe faz cem anos
Mainha num Morre Mais!

Guerra nas Estrelas
Arranca-rabo nu Céu

Um Peixe Chamado Wanda
O Lambarí cum nomi di Muié

Noviça Rebelde
Beata Increnquera

O Corcunda de Notre Dame
O Monstrim da Igreja Grandi

O Fim dos Dias
Nóis Tamo é Lascado

Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita
Um Cabra Pai D' égua di Quem Ninguém Discunfia

Os Filhos do Silêncio
Os Minino du Mudim

A Pantera Cor-de-rosa
A Onça Aviadada

Texto 5: Dicionário mineirês/português 
Muitas pessoas se confundem quando vão a Minas Gerais visitar o parente caipira e não entendem o que ele está dizendo. Seus problemas acabaram, acaba de sair o Dicionário Mineirês/Português, o guia definitivo para entender os mineiros. Confira:

PRESTENÇÃO - É quano eu tô falano iocê num tá ovino.

CADIQUÊ? - Assim, tentanu intendê o motivo.

CADIM - É quano eu num quero muito, só um poquim

DEU - o mez qui "di mim". Ex.: Larga deu, sô!

SÔ - fim de quarqué frase. Qué exêmpro tamem? Cuidadaí, sô!

DÓ - o mez qui "pena", "cumpaxão" : "ai qui dó, gentch...!!"

NIMIM - o mez qui in eu. Exempro: Nòoo, ce vivi garrado nimim, trem!... Larga deu, sô!!...

NÓOO - Num tem nada a vê cum laço pertado, não! Omez qui "nossa!.." Vem de Nòoosinhora!...

PELEJANU - omez qui tentanu: Tô pelejanu quesse diacho né di hoje, qui nó! (agora é nó mez!)

MINERIM - Nativo duistadiminnss.

UAI - Uai é uai, sô... Uai!

ÉMÊZZZ?! - minerim querêno cunfirmá.

NÉMÊZZZ?! - minerim querêno sabê si ocê concorda.

OIAQUI - Minerim tentano chama atenção pralguma coizz...

PÃO DI QUEJU - Iosscêis sabe!... Cumida fundamentar qui disputa com o tutu a preferêca dus minêro

TUTU - Mistura de farinha di mandioca (o di mio) cum fejão massadim. Bom dimais da conta, gentch!!..

TREIM - Qué dize quarqué coizz qui um minerim quizé! Ex: "Já lavei US Trem!" "Qui trem bão!!"

NNN - Gerúndio du minreis. Ex: "Eles tão brincannn", "Cê tá innn, eu tô vinnn..."

PÓPÔPÓ? - Mineira perguntando pro marido se Pode Pôr o Pó.

PÓPÔPOQUIM - Resposta afirmativa do marido.

JISGIFORA - Cidadi pertin du Ridijanero. Cunfunde a cabeça do minerim que si acha qui é carioca.

DEUSDE - desde. Ex: "Eu sô magrelin deusde rapazin!"

ISPÍA - nome da popular revista "VEJA"

ARREDA - verbu na form imperativ (danu órdi), paricido cum saí. "Arredaí, sô!"

"IM" - diminutivo. Ex: lugarzim, piquininim, vistidim, etc.

DENDAPIA - Dentro da pia.

TRADAPORTA - Atrás da porta.

BADACAMA - Debaixo da cama.

PINCOMÉ - Pinga com mel.

ISCODIDENTE - Escova de dente.

PONDIÔNS - Ponto de ônibus.

SAPASSADO - Sábado passado.

VIDIPERFUME - Vidru de perfume.

OIPROCÊVÊ (ou OPCV) - óia procê vê

TISSDAÍ - Tira ISS daí.

CAZOPÔ - Caxa disopor.

ISTURDIA - Otru dia.

PROINOSTOINO? - pronde nós tamo inu?

CÊSSÁ SÊSSE ONS PASSNASSAVASS? - ocê sabe se esse ônibus passa na Savassi?

JIGIFORA - Cidade pertinho do Rio de Janeiro. Confunde a cabeça do mineiro, que não sabe se é carioca

BELZONTE - Capitar do istado.


Texto 6: frases de revistas femininas

Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo. (Revista Claudia, 1962).

A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1965).

A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas. (Jornal das Moças, 1959).

Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças, 1957).

Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças,1957).

O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. ELE é quem decide sempre! (Revista Querida, 1953).

Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite espere-o linda, cheirosa e dócil. (Jornal das Moças, 1958).

É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957).

O lugar de mulher é no lar. (Revista Querida, 1955).


Texto 7: Naqueles tempos
PREPARADA - era uma moça que cursou a universidade, fez pós graduação no exterior e falava no mínimo dois idiomas.

TIGRÃO - Era aquele bonequinho dos Sucrilhos Kellog's ,o Tony. E a criançada colecionava quebra-cabeças com a cara dele.

CACHORRA - Era a fêmea do cachorro, a melhor guardiã que se podia ter em casa.

ASPIRAR UMA CARREIRA - Era sonhar com o sucesso profissional em advocacia, medicina, arquitetura...

PASSAR CEROL NA MÃO - era uma tremenda burrice. O cerol era pra passar na linha. E "aparar pela rabiola" também era burrice, pois, podia estancar e você perdia a pipa.

HIPPIE - não usava rendinha, nem sutiã, nem bijuteria de prata com esmeralda.

BONDE - Era um meio de transporte superado.

DAR PRESSÃO - era o que o garçom fazia, quando tirava um chope legal no bar.

SILICONE - Era uma substância líquida, com a qual os rapazes poliam o estofamento do "carango", antes de buscar a garota pra sair pra ver "corrida de submarino"..

TIAZINHA - Era aquela simpática senhora, tia da nossa mãe, que contava histórias e nos dava biscoitos de polvilho.

FEITICEIRA - Era uma vassoura moderna, pra limpar carpetes...

"TÁ DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO" - Era o slogan norte-americano em relação ao terceiro mundo... aliás, pensando bem... até que isso não mudou ...

Texto 8: O roubo dos patos

Ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
    Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
    - Oh, bucéfalo anácroto! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência do que o vulgo denomina nada.
    E o ladrão, confuso, diz:
    - Doutor, eu levo ou deixo os patos???
                        RUI BARBOSA


Texto 9: Causo mineiro

Sapassadu era sessembru, taveu na cuzinha tumandu uma pincumel e cuzinhandu um kidicarni cumastumati pra fazê uma macarronada cum galinhassada. Quascaí di sustu quanduvi um barui vinde dendufornu parecenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinhaprassá. U fornu isquentô, omioistorô e u fiofó da galinhispludiu!... Nossinhora!...fiquei brancu quinem um litileite. Foi um trem doidim, quascaí dendapia, fiquei sensabê doncovim, nuncotô e proncovô. Ópcevê quilocura...grazadeus ninguém simaxucô!!!

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