segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Exercícios de coesão e coerência


O perigoso vírus



Não sei se é verdade, mas circula um boato nos meios da informática de que está sendo preparado um novo vírus de computador, feito especialmente para interferir nos programas que escrevem os discursos do presidente. A característica mais fantástica desse vírus é que sua influência, ao contrário dos outros, não aparece dentro da máquina, mas apenas na hora que ele é instalado no teleprompter, aparelho que permite às pessoas ler olhando diretamente para a televisão. É o que se usa normalmente nos telejornais, e teme-se que o vírus depois se propague, mas a intenção inicial é colocá-lo apenas para os discursos presidenciais. Não há dúvida de que esse vírus vai revolucionar e dinamizar todos os pronunciamentos feitos à nação.

Os testes realizados têm sido muito promissores mas ainda faltam alguns aperfeiçoamentos, pois, por mais que mexam na programação, o vírus ainda insiste em dar algum nexo a certos trechos do discurso. Os técnicos acham que esse pequeno problema poderá ser resolvido em pouco tempo, inclusive com o auxílio do próprio texto dos pronunciamentos. Já fico pensando nas maravilhas que poderiam acontecer. Oito horas da noite, todos sentados em frente à televisão, ansiosos pelas palavras do presidente, entra o emblema anunciando a cadeia nacional, contam-se os segundos regressivos e aparece a imagem simpática e descontraída do presidente Itamar. Olha direto para a câmara e começa:

“Senhoras e senhores, moços e moças. É fundamental, antes de mais nada, que neste pronunciamento eu informe à nação que o rato roeu a roupa do rei de Roma.
Mas só os pessimistas não percebem que isso nunca impedirá o nosso desenvolvimento porque, enquanto a aranha arranha a jarra, a jarra a aranha arranha.

É claro que ainda não dominamos a inflação, mas continua a nossa luta contra esse monstro, esse pato, que papou a pinta do Pluto, e o papa, num papo, passou um pito no Pepe, que pintava pipa no pé da papaia.

Aos detratores da nossa política econômica, respondo que o nosso desenvolvimento jamais se fará farinha farinhada, porque não esfarela farofa; de farofeiro fazendo farol, e às favas o povo.

Evidentemente que o Brasil é um país de características próprias, pois se aqui nevasse aqui se usava esqui, mas como aqui não neva aqui não se usa esqui.

Não posso deixar de dizer também que não sou daqueles que se intimidam na hora da batalha. Quanto maior o desafio, maior o meu empenho prenhe de pinho de pamonha do pampa.

Finalmente, para terminar, pois já está na hora da novela, afirmo que é claro que, quando aqui cheguei, constatei na hora que aqui há eco e que aqui o eco há. E aos céticos que me perguntarem: "O quê? Aqui há eco? Aqui há eco? Que eco é?" Eu respondo sem medo: "É o eco que há cá!'' (Veja. 2/2/94)


1) O texto presidencial se torna engraçado porque, ao término de cada parágrafo, ocorrem "quebras" que surpreendem o leitor. Que tipo de surpresa é essa?


2) Do ponto de vista da textualidade, as "quebras" que ocorrem no texto são de coesão ou de coerência? Justifique com base no texto.


3) Identifique, nos três primeiros parágrafos do texto, marcas de coesão textual que indiquem:
a) temporalidade:

b) causalidade:

c) simultaneidade:

d) oposição:


4) A textualidade só pode ser avaliada no contexto discursivo para o qual o texto foi produzido.


a) Considerando a situação em que o presidente fala à nação, o texto seria incoerente? Por quê?


b) Considerando que o discurso do presidente faz parte de uma crônica de um conceituado humorista, publicada numa revista de grande circulação nacional, o texto seria incoerente nesse outro contexto?


c) Qual seria, então, a função das "quebras" lógicas no texto?

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