quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Exercícios literários - literatura afro-brasileira

Texto I
Essa Negra Fulô
O sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
(…)
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou,
Foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
Jorge de Lima

Questão 01
É possível inferir do texto I que:
a) A temática social explorada pelo autor não toca na problemática racial, visto que no século XX, quando o poema foi escrito, isso já não havia mais.
b) A sensualidade da mulher negra aparece explorada no texto como forma de justificar a fraqueza do homem branco diante de tamanha abundância de formas em que se vê irremediavelmente perdido, pois, sozinho, não consegue resistir à tentação da carne.
c) O trecho é um bom exemplo de como era vista a mulher negra dentro daquele contexto social racista do homem branco: ela servia sempre de escrava sexual para ele.
d) O ato de açoitar a negra Fulô sem a presença de testemunhas pode ser um indicativo de que já havia uma intenção sexual implícita por parte do Sinhô.
e) O fato de o Sinhô fugir com a negra Fulô, deixando a Sinhá abandonada, procura mostrar como o cruzamento de raças se dava naquele tempo. Mostra, também, que a mulher branca não conseguia competir sexualmente em relação à mulher negra, pois as mulheres brancas eram mais reservadas na área sexual.

Questão 02

Texto II
OUTRA NEGA FULÔ
O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
— ou será que era a mesma?
A nega tirou a saia,
a blusa e se pelou.
O sinhô ficou tarado,
largou o relho e se engraçou.
A nega em vez de deitar
pegou um pau e sampou
nas guampas do sinhô.
— Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!,
dizia intimamente satisfeito
o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.
E a mãe-preta chegou bem cretina
fingindo uma dor no coração.
— Fulô! Fulô! Ó Fulô!
A sinhá burra e besta perguntou
onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
— Ah, foi você que matou!
— É sim, fui eu que matou —
disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela pro mato, e com ele
aí sim ela deitou.
Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!
SILVEIRA, O. Outra nega fulô. Cadernos negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 109-110.

Com base no poema, é verdadeiro o que se afirma nas seguintes proposições:
( ) O título do poema contextualizado — Outra nega Fulô — conduz a uma leitura de que a relação senhor/escrava persiste nos mesmos moldes escravistas dos séculos passados.
( ) O verso 12 — “Esta nossa Fulô!” —, reiterado no final do poema, evidencia um sujeito-poético afro-brasileiro, com suas ideias e sentimentos.
( ) O poema dialoga explicitamente com “Essa negra Fulô”, escrita pelo poeta Jorge de Lima.
( ) O uso de uma linguagem simples, informal, e a rejeição à gramática normativa constituem características da poética moderna presentes no texto.
( ) O poema reitera o estereótipo depreciativo da “Nega Fulô”, que se deita com o “sinhô”.

a) F V V V F
b) V F V F F
c) V V V F F
d) F F V V F
e) V V F V F

Questão 03
Os versos do texto I são do poema Essa Nega Fulô, que faz parte da chamada poesia negra de Jorge de Lima. Trata-se de um poema ______.
a) descritivo
b) abolicionista
c) dissertativo
d) narrativo
e) épico

Questão 04
Tendo como base o texto I como exemplo do Modernismo de 30, só não se pode afirmar que:
a) Os modernistas procuraram estabilizar suas conquistas e dar ênfase às questões sociais e à introspecção.
b) Os poetas que se destacaram no início da década de trinta, já semeavam num campo preparado pela geração de vinte e dois.
c) A geração de trinta, despreocupada com as questões imediatas de vinte e dois, ( o nacionalismo, o folclore, a destruição do passado, etc.), volta-se para as questões universais do homem, o “desconcerto do mundo” e os problemas da sociedade capitalista.
d) A religiosidade e o misticismo também são incorporados na obra de alguns poetas, como Jorge de Lima, Murilo Mendes e Cecília Meireles.
e) A partir de trinta, a poesia brasileira adquire preocupações esteticistas, através de uma geração que procurou restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação verbal.

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