segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Níveis de coerência


Em Platão e Fiorin, (1996, p. 397) encontramos diferentes níveis de coerência:

a) Coerência narrativa – quando as implicações lógicas entre as partes da narrativa são  respeitadas. Numa narrativa, as ações acontecem num tempo sucessivo, de forma que o  que é posterior depende do que é anterior.

b) Coerência argumentativa – diz respeito às relações de implicação ou de adequação que  se estabelecem entre pressupostos ou afirmações explícitas no texto e as conclusões  decorrentes destes.

Alguns raciocínios lógicos se prestam como exemplos de incoerência argumentativa, tais como: Toda cidade tem pobres. João Pessoa tem pobres. Logo, João Pessoa é uma cidade. Existe nesta afirmação uma inadequação, entre as “premissas” e a conclusão, pois pode haver pobres em lugares que não são cidades ou vice-versa.

c) Coerência figurativa – quando há uma compatibilidade entre temas e figuras ou de  figuras entre si. As figuras se encadeiam num percurso, para manifestar um determinado tema, por isso, têm que ser compatíveis umas com as outras, senão o leitor não percebe o tema que se deseja veicular.

d) Coerência espacial – diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto de  vista de localização no espaço.

e) Coerência temporal – é a que respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo. As ações temporais devem ser sequenciadas numa temporalidade compatível, de modo que seja possível ao leitor acompanhar essa sequência temporal. Caso contrário, efetiva-se uma subversão na sucessividade dos eventos, ocasionando a incoerência. Não se deve dizer, por exemplo: “Acordei cedo, hoje, às dez horas. Fui ao trabalho, vesti a roupa, tomei banho e ui caminhar, depois do almoço...” Há uma incompatibilidade na sucessividade das ações, de forma que facilmente se percebe a incongruência dos atos.

f) Coerência no nível da linguagem – é a compatibilidade do ponto de vista da variante  linguística escolhida, em nível do léxico e da organização sintática utilizada no texto. Incoerente, pois, usar expressões chulas ou de linguagem informal num texto caracterizado pela norma culta formal. A não ser em textos, cujo gênero seja permitido tal uso.

Na linguagem oral, essa incompatibilidade é corrigida, muitas vezes, por meio de ressalvas do tipo: “com o perdão da palavra” ou “se me permitem...”

É importante esclarecer que a exploração da incoerência pode fazer parte de um programa intencionalmente arquitetado pelo produtor do texto. Por exemplo: Um publicitário poderá fazer uso propositadamente de uma incoerência, para obter efeitos diversificados de sentido no gênero textual propaganda.


Exercícios

Leia os textos a seguir e aponte em cada um:
1. O nível de incoerência. (Se é narrativa, figurativa ou argumentativa)

2. Aponte qual é a incoerência.

3. Reescreva o texto, deixando-o coerente.



Texto 1:
“Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou de rodas para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu para o carro e tirou de lá o motorista, que era um homem corpulento. Carregou-o até a calçada, parou um carro e levou o homem para o hospital. Assim, salvou-lhe a vida”.

Texto 2:
“Sem entusiasmo, Júlio foi assistir à partida do Grêmio, pois já esperava ver um mau jogo. Decepcionado, com o péssimo futebol apresentado, seguiu para casa”

Texto 3:


“Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito densa.
Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas, etc.”
Texto 4:
“O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare”.

Texto 5:


Os números da educação do Censo 2000 são animadores. Os dados mostram que mais da metade (59,9%) da população brasileira com mais de dez anos não conseguiu concluir o ensino fundamental (antigo primeiro grau), pois tem menos de oito anos completos de estudo. (http://www.klickeducacao.com.br)
Texto 6:
“O verdadeiro amigo não comenta sobre o próprio sucesso quando o outro está deprimido. Para distraí-lo, conta-lhe sobre seu prestígio profissional, conquistas amorosas e capacidade de sair-se bem das situações. Isso, com certeza, vai melhorar o estado de espírito do infeliz.” < http://www.portrasdasletras.com.br >
Texto 7:

O sonho de João era conhecer o Polo Norte. Um dia ele teve o privilégio de conhecê-lo. Ficou assustado como as pessoas lá se comportam devido ao clima: as casas não têm cobertura nem portas, além disso, elas dormem no chão porque lá ninguém agüenta o calor. E o pior, ninguém consegue andar sem tapar as narinas com um pano ou uma máscara, pois as estradas são muito poeirentas.

0 comentários:

Postar um comentário