Charges

História

A charge teve origem na França nos séculos XVIII e XIX, em meio a conflitos políticos e a necessidade de criticar e satirizar a realidade caótica da época. Sua etimologia vem também do francês, significa “carregar, atacar”. Esta carga pode ser o exagero da expressão (figuras exarcebadas) ou o discurso agressivo, burlesco e caricatural para denunciar dadas situações.
O aprimoramento da técnica no que diz respeito à parte gráfica está intimamente relacionado com o desenvolvimento técnico empresarial da imprensa. O principal suporte da charge é o Jornal, ambos foram criados num mesmo período histórico, pelo mesmo motivo que era denunciar os acontecimentos políticos e sociais que impediam a burguesia de se desenvolver.
Um grande desenhista do século XIX foi Honoré Daumier, que produzia para o jornal La Caricature, caricatura porque a charge se originou e compõe esta forma de desenho e expressão.



Estilo verbal e estrutura composicional

A técnica do chargista consiste em traçar aspectos exagerados mas, ao mesmo tempo, sintético da realidade ao qual se refere. Ela se concretiza como um retrato fiel e legível da sociedade, exige do leitor que ele consiga dramatizar a ação e propõe uma idéia de movimento.
A charge ocupa normalmente um ou dois quadros, coloridos ou não. O desenho, caracterizado como a linguagem não-verbal, muitas vezes, fala mais do que a própria linguagem verbal. Como o texto brinca com jogos de opinião, o que não é dito por texto ou mostrado pelo desenho também torna-se bastante relevante no significado que a charge pretende transmitir.
A caricatura mescla as fisionomias dos sujeitos representados e suas qualidades morais, assim o desenho tem caráter metafórico. A escrita e a pontuação funcionam como elementos gráficos, não funcionam apenas para representar a linguagem verbal (texto), por isto as palavras são escritas à mão e os desenhos das letras carregam consigo a carga emocional do que é dito.
Estes sujeitos são personagens reais que por algum motivo chamam a atenção do público leitor. Os motivos variam do bom ao ruim dependendo do modo como o autor que mostrá-los. A temática do gênero é de extrema importância para se compreender como os desenhos e os textos verbais se comportam para produzir o riso. O humor é carnavalesco na medida em que o texto provoca um riso ressentido sobre a realidade sócio-política, julgando-a cruel e injusta.



Temática

O repertório da charge está relacionado às práticas e aos personagens sociais em um determinado tempo e espaço. Ao contrário do cartum que retrata temas sempre recorrentes do comportamento humano, a charge tem prazo de validade e tem como principal tema a política.
Prevê que o leitor esteja atento aos últimos fatos para poder compreender a crítica, estabelece com o receptor certa cumplicidade (ou não) sobre aquilo que diz. Ela pode ser lida com base no conhecimento enciclopédico do leitor ou ser uma ferramenta que pretende persuadir e formar a opinião dele enquanto cidadão politizado.
Vista pelos críticos como uma crônica moderna e capaz de substituir algumas reportagens, a charge costuma sublimar as funções psicológicas e sociológicas do pensamento coletivo. Retrata os maiores medos e paixões humanas, cativa o leitor ao compreender seus desejos mais íntimos de expressão... é uma reflexão profunda do inconsciente coletivo.
O texto da charge é polifônico e dialógico. O que quer dizer que ela expressa várias vozes e formas de pensar sobre um mesmo tema, são vozes que se interpelam, se chamam pela necessidade de argumentar e persuadir as outras sobre suas ideologias. As várias vozes formam um diálogo entre o eu – autor/personagem, o tu – leitor, e o outro – aquele de quem falamos.
O eu do texto pretende persuadir o leitor a ter uma visão, normalmente satírica, do outro. Por isto o humor e o sentido irão depender da habilidade do chargista em contrapor mais de uma forma de pensar o mundo em uma mesma fala, cena ou personagem. E cabe ao leitor ter a sensibilidade em perceber o quem fala e o de quem falamos nas charges, notando assim que há duplo sentido nas palavras dos personagens, que é a principal marca dos gêneros humorísticos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

* BAKHTIN, Mihkail. Problemática e definição In: Estética da Criação Verbal. São 3ª ed. Paulo: Martins Fontes, 2000.
* SOUZA, Maria Irene Pellegrino de Oliveira e MACHADO, Rosemeri Passos Baltazar. O verbal e não-verbal na produção dos efeitos de sentido no gênero charge. In: Gêneros textuais: teoria e prática II. CRISTÓVÃO, V. L. L.; NASCIMENTO, E. L. (orgs.). Palmas e União da Vitória: Kaygangue, 2005.

* BRESSANIN, Alexandra. Gênero charge na sala de aula: o sabor do texto. Acessado em 20 de junho de 2010 << http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/8.pdf >>

* NERY, Laura. Charge: cartilha do mundo imediato. Acessado em 20 de junho de 2010 << http://www.letras.puc-rio.br/catedra/revista/7Sem_10.html >>

IMAGENS DAS CHARGES

Aprofundar propostas: http://www.nanihumor.com/search/label/elei%C3%A7%C3%B5es%202010?updated-max=2010-08-02T11%3A13%3A00-03%3A00&max-results=20
Chuva Dossiê: http://www.prosaepolitica.com.br/?p=37396
Dilma com apoio de Lula: http://huxley-gilmour.blogspot.com/
Dilma Vida Futura: http://primasfalando.blogspot.com/2010/08/charge.html
Horário Eleitoral: www.an.com.br
Modelito Dilma: http://formigueiros.com/2009/11/campanha-dilma-para-presidente-2010/
Pesquisa 2010: www.an.com.br
Proibido entrar Ética: http://www.blogdogusmao.com.br/v1/2009/12/15/charge-do-nani-8/




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Tire suas dúvidas com Chico Caruso



Chico Caruso fez uma distinção bem clara, valendo-se de uma analogia cinematográfica (vai com aspas, mas a citação é de cabeça): "Se você afasta a câmera, pegando o plano geral, sem detalhes, e a piada é universal, como a do náufrago, é um cartum." Então todos aqueles desenhinhos sem palavras do Quino são cartuns, as vinhetas do Borjalo também e as marginais do Mad, feitas pelo Aragonés, idem.




"Se você aproxima a câmera, pegando o chamado plano americano -- da cintura pra cima -- e localiza a piada, aí é charge." Fica fácil ver que todas essas piadas políticas, que aparecem nas manchetes ou nas páginas de opinião dos jornais são charges. Os quadrados que Ique, Chico e Paulo Caruso, Angeli, e Claudio Paiva ocupam ou ocuparam nos jornais do Rio e São Paulo foram sempre ocupados com charges







"E se você fecha a câmera só na cabeça, o close, é caricatura." Ou seja, aqueles retratos deformados que fizeram o nome do Álvarus, do Cássio Loredano, do Liberati, do Al Hirschfeld na New Yorker, do Nássara.








 Quadrinhos são coisa bem mais complexa, porque se valem de elementos da pintura, ilustração, literatura, cartum, charge, caricatura e até cinema, podendo trocar influências e idéias num toma lá dá cá que às vezes é só toma lá, às vezes é só dá cá. Além disso, como Will Eisner colocou em seu livro, quadrinhos são arte sequencial, ao contrário da charge e do cartum, que se resolvem em um só quadro.


Produção textual: Charge
Turmas: 1o anos