terça-feira, 20 de novembro de 2012

Arcadismo - Um soneto para Marília


UEMG/ 2010
TEXTO 1
Irás a divertir-te na floresta,  
Sustentada, Marília, no meu braço, 
Aqui descansarei a quente sesta 
Dormindo um leve sono em teu regaço;  
Enquanto a luta jogam os pastores,  
e emparelhados correm nas campinas,
toucarei teus cabelos de boninas,
nos troncos gravarei os teus louvores 
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
   (Tomás Antônio Gonzaga)

TEXTO 2
UM SONETO PARA MARÍLIA
                    À maneira de Dirceu

Eis que um dia na mata se banhava
Enquanto o deus as costas lhe voltava.
Cupido... e estava nu, inteiramente,                   
Pois que deixara à margem da corrente 

O arco terrível e a repleta aljava.                        
Só aguardava ocasião... E, de repente              
As armas furta sorrateiramente,
Surgem então as fauces escarninhas

Dos silvanos e sátiros astutos.
Põem-se a vaiar o Amor, sem mais cautelas
Marília que, às ocultas, o espreitava

—Ah! Temíeis as frechas quando minhas!
(E o deus sorri) Vereis agora, ó brutos,
O que Marília há de fazer com elas!
   (MARIO QUINTANA)

A respeito dos dois textos, observe os seguintes comentários:
I. Quanto ao gênero literário, o TEXTO 1  revela, encoberto na cena descritiva, um lirismo confessional, através do qual o eu poético expressa o seu amor, sua paixão.
II. O TEXTO 2 se constitui como paráfrase  do TEXTO I, ao reproduzir as mesmas ideias deste.
III. O TEXTO 2 mostra um locutor mais distanciado dos sentimentos e do confessionalismo amoroso;  quanto ao gênero literário, este texto traz uma tendência dominante do gênero narrativo.
IV. O TEXTO 2 contém insinuações humorísticas e sensuais que ‘desconstroem’ o clima lírico e confessional, presente na cena do TEXTO 1.
V. O TEXTO 2 centraliza seu foco de atenção à personagem Marília, numa tentativa de recuperar o confessionalismo amoroso escamoteado no TEXTO 1
VI. O TEXTO 2 desconstrói e dessacraliza a cena e o sentimento amoroso do TEXTO 1, constituindo-se como  paródia deste.

Está CORRETO o que se afirmou
A) apenas nos itens II, IV, V, VI.
B) apenas  nos itens I, III, V, VI.
C) apenas nos itens II, III, V, VI.
D) apenas nos itens I, III, IV, VI.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Linguagem dissertativa - exercícios


A linguagem dissertativa
1- Adequação
A redação deve obedecer à norma culta escrita, evitando-se repetições inexpressivas, gírias, vocabulário impreciso, etc.
Exemplo de impropriedade a ser evitada:
Tem um negócio que a gente sente que é uma coisa tipo quando você sente dor no peito.
Há um sentimento muito doloroso, que nos atinge às vezes no peito.

Exercício -1-
Reescreva as frases seguintes, adequando-as à norma escrita:
a) O homem tem um troço que é que o separa dos animais, a liberdade.
b) Com tantos problemas que tem, a televisão fica aí, como uma vaca no meio da sala.

2- Clareza
O texto precisa ser inteligível; para isso, devem-se evitar ambiguidades e obscuridades.
Exemplo de ambiguidade a ser evitada:
Sexo? Só com os pais.
Educação sexual? Só com os pais.

Exercício -2-
Reescreva as frases seguintes, resolvendo a ambiguidade:
a) Moradores reivindicam centro de saúde com criatividade.
b) Museu reúne quadros com mulheres de Picasso.
c) Família muda vende tudo.
d) A sociedade não percebe o mal que a televisão faz a si própria.
e) Proibido entrar na loja de patins.
f) Proibido entrar de patins na loja.

3- Concisão
As palavras e frases devem ser utilizadas com economia, evitando-se redundâncias. É preciso estar atento também à prolixidade, ao excesso de palavras desnecessárias.
Exemplo de redundância e prolixidade a evitar:
Os dois fizeram o trabalho. Seu amigo tinha convidado para fazerem um trabalho. Os dois fariam o trabalho e dividiriam o dinheiro ganho com o trabalho.
Seu amigo o convidou para fazer um trabalho. Fizeram-no e dividiram o dinheiro ganho.

Exercício -3-
Reescreva as frases seguintes, dando concisão à linguagem:
a) Um córtex grande não determina necessariamente a inteligência. Mas um córtex pequeno também não determina a falta de Inteligência.
b) Novidade inédita na área de informática agita o mercado.
c) Compre uma calça e ganhe grátis um brinde.

4- Coesão
A organização do texto deve ser feita com nexos lógicos adequados, encadeando-se logicamente as ideias e evitando-se frases e períodos desconexos.
Exemplos de confusão a ser evitada:
Deve existir uma forma de avaliar os candidatos; e isso não é possível apenas fazendo uma prova, onde os candidatos poderiam talvez ter ido melhor no dia seguinte ou no anterior por questões psicológicas, mentais ou o que for.
Deve haver uma forma de avaliar os candidatos, mas isso não é possível com a aplicação de uma única prova, pois seu desempenho pode variar em dias diferentes, graças ás condições psicológicas, por exemplo.

Exercício -4-
Reescreva as frases seguintes, com linguagem organizada e coesa:
a) Sabemos que o ministério gasta demais com tratamento que nós podíamos evitar as doenças.
b) Às vezes as ideias aparecem de repente, mas aquelas boas ideias são as planejadas antes de se concluir algum ou podem surgir horas exatas a utilizá-las.

5- Expressividade
Quem redige deve buscar uma elaboração própria e expressiva de linguagem, evitando os clichês, as frases feitas e os lugares comuns.
Exemplo de chavão ou clichê:
O homem de hoje não vive, ele vegeta na selva de pedra da cidade grande.
O homem da cidade grande não vive plenamente; apenas luta pela subsistência, como numa selva.

Exercício -5-
Reescreva as frases abaixo, utilizando uma linguagem sem clichês:
a) As crianças são a esperança, o futuro do Brasil.
b) As pessoas viraram máquinas frias e insensíveis, viraram peças de engrenagem, robôs que não sabem que só o amor constrói.
c) O dinheiro não traz felicidades, pois dessa vida não se leva nada.
d) Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho.


fonte: Língua Portuguesa - Novas Palavras, 3 ano EM. Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Trabalho de equipe: Entrevista ficcional com o escritor Érico Verissimo


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Projeto: Ecologia na rede


PROJETO ECOLOGIA NA REDE





NOME DA ESCOLA: E.E.B. GIOVANI PASQUALINI FARACO.
NOME DA EQUIPE: GUARDIÕES DO RIO


OBJETIVO DO BLOG:

Objetivo geral:

Envolver toda comunidade escolar com as questões de educação e conservação ambiental e, principalmente, de revitalização do espaço no entorno do rio Cachoeira e da escola.

Objetivos específicos:

- Analisar, argumentar e posicionar-se criticamente em relação a temas ambientais que envolvam o nosso bairro e o rio Cachoeiro.
- Implementar diversas medidas de restauração e conservação ambiental das áreas localizadas nos terrenos próximos da escola e do rio Cachoeira.
- Criar um espaço virtual de diálogo com alunos e moradores do bairro.
- Respeitar o rio e vida em toda a sua diversidade.


PÚBLICO A QUEM SE DESTINA:

O blog está destinado principalmente aos estudantes e demais membros da comunidade escolar, utilizando, portanto, uma linguagem mais dinâmica, ao gosto do público jovem, sem esquecer da seriedade e vericidade das informações.


IDENTIFICAÇÃO E APRESENTAÇÃO:

 Tema do Blog:

O tema escolhido pela equipe é o Rio Cachoeira e a revitalização dos espaços – praças, jardins, pontes, calçadas – circundantes do mesmo.

Problematização:

Nossa escola localiza-se entre os bairros Costa e Silva e Santo Antônio, Joinville/SC e é vizinhado rio Cachoeira. No primeiro encontro da equipe, identificamos o abandono, em alguns trechos, do Rio Cachoeira: trechos sem mata ciliar, lixo espalhados nas proximidades e mesmo no rio, a vegetação invadindo os espaços e dificultando a passagem dos transeuntes, o ar de abandono. Além disso, falamos e cobramos ações dos outros relacionadas ao meio-ambiente, ações em prol da sustentabilidade e esquecemos do nosso espaço, da importância das nossas praticas locais. 


PLANEJAMENTO DO TRABALHO (Cronograma prévio):

Durante os próximos meses, os alunos organizarão textos diversos (artigos de opinião, enquetes, entrevistas, vídeos e charges) e ações alinhadas com ideias conservação e preservação do meio-ambiente, com o intuito de sensibilizar e envolver toda a comunidade escolar na revitalização dos espaços próximos do rio e da escola.

Propomos as seguintes ações:
1.    Encontros semanais com a equipe – as sextas-feiras.
2.    Observação diária das questões ambientais que envolvem o rio Cachoeira e o bairro e os impactos na vida social.
3.    Leituras individuais de jornais e revistas para levantamento de pautas.
4.    Pesquisa na internet sobre as questões ambientais relacionadas ao rio Cachoeira.
5.    Criação de textos e vídeos diversos de acordo com as pautas propostas.
6.    Revisão dos textos, edição dos vídeos e postagem.
7.    Divulgação do blog na escola através de encontros com as turmas, de e-mail e de redes sociais (Orkut, twitter, facebook)
8.    Ação direta entre escola e comunidade através de promoções e eventos a serem definidos.
9.    Entrevistas e enquetes.
10. Avaliação das ações da equipe e do resultado do blog.


FORMAS DE AVALIAÇÃO:

As avaliações serão constantes através de enquetes e dos comentários postados pelos visitantes.

Acesse ao blog:
http://guardioes-do-rio.blogspot.com.br/


domingo, 8 de julho de 2012

O anão e o príncipe



Texto II, para responder a questão 1

O anão e o príncipe 


Aproveitei os feriados da semana passada para curtir algumas releituras que há muito vinha adiando. Não chegou a ser um fato heroico em minha biografia: choveu nesses dias dedicados a Tiradentes e à Consciência Negra. 

Com chuva, o Rio é uma cidade como outra qualquer: não se tem muita coisa a fazer. O melhor mesmo é aproveitar o tempo ― que de repente fica enorme e custa a passar ― em revisitar os primeiros deslumbramentos, buscando no passado um aumento de pressão nas caldeiras fatigadas que poderão me levar adiante ― embora isso não me adiante muito. 

De qualquer forma, é uma força que se busca e que não depende da generosidade de ninguém. Tranquei-me no escritório, desliguei computador, telefone e campainha e reli, ao todo, de uma só tirada, quatro livros que há muito me prometera reler todos os anos. 

Leituras antigas, de um tempo em que estava longe a ideia de um dia escrever um livro. Bem verdade que, às vezes, vinha a tentação de botar para fora alguma coisa, sem confessar isso a ninguém, eu me julgava um projeto de escritor, mas sem fanatismo, e desde que não precisasse botar os bofes para fora. 

Carlos Heitor Cony. 


QUESTÃO 1

Considerando o texto II, julgue os itens a seguir, assinalando (V) para os verdadeiros e (F) para os falsos. 

0.( ) As palavras “heroico” (linha 3) e “ideia” (linha 18), de acordo com a nova reforma ortográfica, não estão grafadas corretamente, pois não apresentam o acento agudo. 

1.( ) A expressão conotativa “desde que não precisasse botar os bofes para fora” (linhas 21 e 22 ) significa que o autor tinha como projeto ser um escritor, mas não gostaria de se cansar demais trabalhando. 

2.( ) O texto de Cony é literário porque apresenta a função poética como predominante e o foco narrativo em terceira pessoa, tendo o próprio narrador como personagem principal. 

3.( ) As expressões “releituras” (linha 2), “revisitar” (linha 8), “buscando no passado” (linha 9) e “Leituras antigas” (linha 17) deixam claro que os quatro livros que o narrador pretende ler já foram obras lidas por ele no passado. 

4.( ) A conclusão a que chega o narrador é que não se deve peregrinar através da narrativa e nem se defrontar com o passado.

Sinopse

Leia com atenção as definições do Dicionário Houaiss para sinopse. 

Sinopse. s. f. relato breve, síntese, sumário (de um filme, de um livro, de uma ópera); em revista científica, apresentação concisa da matéria de um artigo, de um comunicado etc. e que, para dar ao leitor um apanhado do texto integral, é colocada entre este e o título. 
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1.ª reimpressão. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. p. 2581. 


Como água para chocolate 

Sinopse: Baseado em romance do mesmo nome, de Laura Esquivel, Como Água Para Chocolate acompanha a história de um camponês chamado Pedro (Marco Leonardi) que, em 1910, em plena Revolução Mexicana, apaixona-se por Titi (Lumi Cavazos). Ele quer voltar para a Guerra, mas ela o enfeitiça com seu amor e seus dotes culinários. Podia ser apenas mais uma história de amor, mas trata-se de um dos mais belos filmes do cinema latino-americano em todos os tempos. Foi a produção estrangeira de maior bilheteria nos Estados Unidos em 1993. DVD Video. Romance. Duração aprox.: 104 minutos. NTSC. 


Brazil – O Filme 

Sinopse: Não, não se passa em terras brasileiras a visão de Terry Gilliam para o futuro, com um estado burocrático, ineficiente, mas obstinado em cercear a liberdade dos cidadãos como nas histórias de George Orwell. “Brazil” vem apenas da música de Ary Barroso. Revista Monet, n.º 50, maio de 2007, p. 41. 

a) Com base na definição de Houaiss, aponte se ambos os textos podem ser considerados sinopses. Por quê? 

b) Retire do(s) texto(s) que você apontou como sinopse, no item a, dois elementos que caracterizam a construção desse gênero textual.


Arcadismo X Romantismo


Questão 1

Texto 1

Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza.
(Marília de Dirceu, Lira XIX, 1.ª parte)

Texto 2

Como cheirosa e doce a tarde expira!
Do amor e luz inunda a praia bela!
E o sol já roxo e trêmulo desdobra
Um íris furta-cor na fronte dela!
(...)
Se ela estivesse aqui! no vale agora
Cai doce a brisa morna desmaiando:
Nos murmúrios do mar fora tão doce
Da tarde no palor viver amando!
(“Tarde de verão”, Lira dos vinte anos)


Vocabulário: palor: palidez

Os dois fragmentos apresentam diferentes concepções de paisagem decorrentes tanto da situação tematizada quanto das tendências estilísticas de época. 


a) Apresente, pelo menos, dois versos de cada fragmento que revelam essas diferentes concepções (ou impressões) da paisagem.

b) Considerando os movimentos literários (ou estilos de época) a que pertencem os fragmentos, discorra sobre essa diferença no tratamento da paisagem.

Análise do conto: Apelo

Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.

Apelo
Dalton Trevisan

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. 


a) Identifique e escreva qual é o tema do conto, o tipo de narrador e o espaço (ou espaços) em que se passa a ação. 


b) Em relação à compreensão do conto, discorra sobre as relações que podem ser estabelecidas entre o tema, o tipo de narrador e o espaço (ou espaços) em que se passa a ação.

Análise do conto: Continuidade dos parques


Continuidade dos parques

Havia começado a ler o romance uns dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou a abri-lo quando regressava de trem à chácara; deixava interessar-se lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta ao caseiro e discutir com o mordomo uma questão de uns aluguéis, voltou ao livro com a tranquilidade do gabinete que dava para o parque dos carvalhos. Esticado na poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intrusões, deixou que sua mão esquerda acariciasse uma e outra vez o veludo verde e começou a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a ilusão romanesca ganhou-o quase imediatamente. Gozava do prazer quase perverso de ir descolando-se linha a linha daquilo que o rodeava e de sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto encosto, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que mais além das janelas dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra a palavra, absorvido pela sórdida disjuntiva dos heróis, deixando-se ir até as imagens que se combinavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte.

Antes entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, com a cara machucada pela chicotada de um galho. Admiravelmente ela fazia estalar o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não tinha vindo para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal se amornava contra seu peito e por baixo gritava a liberdade refugiada. Um diálogo desejante corria pelas páginas como riacho de serpentes e sentia-se que tudo estava decidido desde sempre. Até essas carícias que enredavam o corpo do amante como que querendo retê-lo e dissuadi-lo desenhavam ame a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada havia sido esquecido: álibis, acasos, possíveis erros. A partir dessa hora cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O duplo repasso sem dó nem piedade interrompia-se apenas para que uma mão acariciasse uma bochecha. Começava a anoitecer.

Já sem se olharem, atados rigidamente à tarefa que os esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao norte. Da direção oposta ele virou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu, por sua vez, apoiando-se nas árvores e nas cercas, até distinguir na bruma do crepúsculo a alameda que levava à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O mordomo não estaria a essa hora, e não estava. Subiu os três degraus da varanda e entrou. Do sangue galopando nos seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma galeria, uma escada carpetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e depois o punhal na mão, a luz das janelas, o alto encosto de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.
Relato publicado no segundo volume de contos de Júlio Cortázar, Las armas secretas (1956). 

  
A narrativa de ficção 

1. Todo texto narrativo, se constrói a partir da presença de alguns elementos básicos: narrador, personagens, cenário, tempo e enredo.
a) Quem conta a história em “Continuidade dos parques”?
b) Quais são as personagens envolvidas na história? Como elas são caracterizadas?
c) O texto apresenta dois cenários. Quais são eles? O que se descobre sobre o primeiro cenário no final da história?
d) Em que intervalo de tempo a história se passa?
e) Há no texto, um acontecimento que desencadeia a ação final. Qual é ele?

2. No conto, há duas histórias narradas: a do fazendeiro-leitor e a dos amantes. Uma reflete a outra, e as duas histórias terminam por se entrelaçar. Explique como o trabalho de construção de cenário, das personagens e do enredo ajuda a promover esse efeito.

3. Após a leitura do conto, podemos afirmar que a primeira pista que Cortázar nos fornece sobre o caráter fantástico de sua narrativa é o título da história. Por quê?

4. A literatura e as demais formas de arte podem levar o ser humano a refletir sobre as angústias e alegrias da própria existência. A leitura do conto nos ajudaria a compreender melhor a realidade? Por quê?

sábado, 7 de julho de 2012

Poemas de Manoel de Barros e Arnaldo Antunes

Texto I
A doença
     (Manoel de Barros)
Nunca morei longe do meu país.
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava
essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim
do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e
os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho
E que meu pai chamava exílio.

1- A respeito da doença de que trata o título do poema de Manoel de Barros, não é correto afirmar que:
(A)a doença é de natureza conotativa, e está relacionada à sensação de distância experimentada pelo eu-lírico;
(B) a doença é de natureza conotativa, visto que é apenas uma transposição do valor referencial do vocábulo doença para o campo figurado;
(C) a doença é de natureza denotativa, e pode ser localizada no campo dos transtornos mentais;
(D)a doença a que se refere o texto é denominada “lonjuras”;
(E) alguns itens lexicais empregados no texto colaboram para a construção da temática relacionada à doença.

2- O campo semântico relacionado à doença é construído pelo emprego dos seguintes vocábulos:
(A)pessoas, doença, transmitiu, portavam;
(B) padeço, borboletas, exílio, transmitiu;
(C) pessoas, pé, costas, olho;
(D)padeço, doença, transmitiu, portavam;
(E) padeço, doença, transmitiu, constavam.

3 - A respeito da estrutura “ (...) lugar que dava essa doença nas pessoas”, pode-se afirmar que:
(A)a estrutura está de acordo com o padrão culto gramatical, visto que o pronome relativo “que”, que retoma “lugar”, é o sujeito do verbo “dar”;
(B) a estrutura está de acordo com o padrão culto gramatical, já que o verbo “dar” assume o valor de “distribuir” e tem, como objeto direto, a expressão adjetiva “essa doença”;
(C) a estrutura padrão culta correspondente é “lugar em que dava essa doença nas pessoas”, tendo em vista que “essa doença” é complemento do verbo “dar”, que tem valor de “oferecer”;
(D)a estrutura padrão culta correspondente é “lugar o qual dava essa doença nas pessoas”; e “essa doença” é sujeito do verbo “dar”, que tem valor de “acometer”;
(E) a estrutura padrão culta correspondente é “lugar em que dava essa doença nas pessoas”;  “essa doença”  é sujeito do verbo “dar”, que tem valor de “acometer”.


TEXTO II
Fora de si
                  (Arnaldo Antunes)
Eu fico louco
Eu fico fora de si
Eu fica assim
Eu fica fora de mim
Eu fico um pouco
Depois eu saio daqui
Eu vai embora
Eu fico fora de si
Eu fico oco
Eu fica bem assim
Eu fico sem ninguém em mim

4 - Uma leitura do poema de Arnaldo Antunes em que se articulam os níveis da forma e do conteúdo leva-nos à seguinte observação:
(A)o poema apresenta deslocamento e esvaziamento do eu, perspectiva que corresponde, no nível da forma, a uma subversão no uso de recursos gramaticais;
(B) o poema fala da loucura e, por isso, traz, para o nível da forma, a desconstrução sintática e fonológica típica da fala psicótica;
(C) o poema faz ver o quanto a linguagem poética não pode superar os limites impostos pela língua;
(D)o poema traz deslocamentos físicos e existenciais angustiantes, que repercutem numa espécie de linguagem onde a lógica é rompida pela dor;
(E) o poema trata do vazio existencial do homem moderno, o que, no nível da forma, se reflete nas diversas frases esvaziadas de sentido, nas quais só restam a angústia e a dor.

5 - Os recursos gramaticais que colaboram para a expressão do deslocamento/esvaziamento do eu no texto II são os seguintes:
(A)ausência de concordância de pessoa – 1ª e 3ª – nos domínios verbal e pronominal;
(B) ausência de concordância verbal e utilização de pronomes átonos no lugar de tônicos;
(C) adjetivos que expressam loucura e pronomes de 3ª pessoa;
(D)ausência de concordância na 2ª conjugação verbal e uso de pronomes possessivos;
(E) ausência de concordância de pessoa – 1ª e 3ª – e produtividade da ênclise.

6 - Quanto aos procedimentos estilísticos empregados por Arnaldo Antunes em seu poema, pode-se destacar:
(A)repetição de palavras (anáfora), metáforas e personificação;
(B) rimas, exploração expressiva do desvio sintático e redondilhas;
(C) exploração rítmica e redondilhas;
(D)repetição de palavras (anáfora) e rimas;
(E) exploração de imagens em uma estrutura mínima e ausência de ritmo.

7 - A respeito do comportamento sintático-semântico dos diversos usos do verbo ficar no poema “Fora de si”, pode-se afirmar que:
(A)na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo intransitivo com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo de ligação com o valor de tornar-se;
(B) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo de ligação com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de tornar-se;
(C) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, funciona como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de permanecer;
(D)na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de ser;
(E) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo de ligação com o valor de tornar-se, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de permanecer.

Num monumento à aspirina X Hino à dor

 TEXTO I

Num monumento à aspirina
(João Cabral de Melo Neto)

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre um claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

1 - Sobre o poema de João Cabral de Melo Neto, pode-se afirmar que:
(A)apresenta uma dimensão metalinguística, porque vislumbra em seu objeto-tema os valores que guiam sua escrita – e toda a poética do autor – , como o “acabamento esmerado”, a forma “sucinta” e o pensamento “cartesiano”;
(B) remete diretamente a dois temas centrais da poética do autor: Recife e Sevilha, cidades que encerram valores como a racionalidade e a construção, expressos pela solaridade da “aspirina”;
(C) nega a saúde “artificial” que se conquista através da “aspirina” e, conseqüentemente, combate a idéia de uma poesia baseada apenas na “aparência” – questão central em toda a poética de João Cabral de Melo Neto;
(D)retoma o drama barroco claro/escuro, mantendo-se na tensão entre estes pólos, e a poesia, nesse sentido, assemelha-se à “aspirina”, que, inutilmente, tenta expulsar a “noite” com seu sol “portátil”;
(E) nega a linguagem poética convencional, eloquente e apegada a uma visão cientificista do real, cujo exemplo mais acabado seria a poética de Augusto do Anjos.

2 - Quanto ao título do poema de João Cabral, pode-se afirmar que:
(A)nega o ideal modernista, que buscava valorizar as coisas simples e cotidianas;
(B) constitui uma homenagem à poesia romântica, voltada para a valorização da natureza;
(C) nega os valores da poesia voltada para a natureza, ao propor a imagem de um “sol artificial”;
(D)faz uma crítica à poesia que homenageia seres e coisas sem importância, como a “aspirina”;
(E) desmonta as expectativas de homenagem a seres, coisas e fatos de grande valor histórico e/ou social.

3 - O poema “Num monumento à aspirina” apresenta reiteradamente o sinal de pontuação “dois pontos”. A respeito do uso desse sinal no texto, pode-se afirmar que:
(A) está empregado em desacordo com a escrita padrão por estar reaplicado dentro do mesmo período, o que acarreta um valor antitético;
(B) reaplicado dentro do mesmo período, nos primeiros versos de cada estrofe, traz um efeito de inclusão de idéias e assume certo valor explicativo, ao desdobrar o conteúdo anterior;
(C) não assume qualquer valor explicativo, já que constitui um recurso meramente estilístico, muito recorrente na obra de João Cabral de Melo Neto;
(D) reaplicado dentro do mesmo período, nos primeiros versos de cada estrofe, indica uma enumeração de elementos, introduzindo uma seqüência de metáforas;
(E) reaplicado dentro do mesmo período, nos primeiros versos de cada estrofe, traz um efeito de enumeração de elementos e assume valor conotativo, ao desdobrar o conteúdo anterior.

4. A respeito dos elementos que compõem a estrutura do período que se inicia no 5º verso do poema, pode-se afirmar que:
(A)os pronomes relativos “que” empregados nos versos 6 e 7 referem-se ao “sol” de que trata o poema e exercem o papel de sujeito;
(B) o período é constituído de uma oração explicativa que, por sua vez, contém três orações substantivas encaixadas;
(C) o sujeito dos verbos “levanta” e “vem” (verso 10), que não está explícito, tem por referência o “sol de um comprimido de aspirina”;
(D)os pronomes relativos “que” empregados nos versos 6 e 7 referem-se ao “dia” e exercem o papel de objeto direto;
(E) o sujeito dos verbos “levanta” e “vem” (verso 10) está explícito (“sol artificial”).


TEXTO II

Hino à dor
(Augusto dos Anjos)

Dor, saúde dos seres que se fanam,
Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam...

És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!

Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tato
Prendo a orquestra de chamas que executas...

E, assim, sem convulsão que me alvoroce,
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!

5 - Quanto aos termos técnico-científicos usados no poema de Augusto dos Anjos, pode-se afirmar que:
(A)apontam uma visão cientificista da vida e sugerem que a própria poesia – tendo em vista a dolorosa existência humana – pode ser reduzida a um fenômeno biológico;
(B) emprestam ao poema uma perspectiva naturalista que exclui o homem de qualquer dimensão cósmica;
(C) embora sejam tradicionalmente prosaicos, no poema ajudam a exprimir uma totalidade – física, química, biológica – em que a dor se confunde com a existência humana;
(D)demonstram entusiasmo com a explicação cientificista da existência, daí resultando um otimismo que acaba por converter a poesia numa espécie de “ufanismo” eloquente;
(E) sugerem a falência da linguagem científica como explicação única da existência humana.

6 - Uma interpretação da imagem “claridades absolutas”, no último verso do poema de Augusto dos Anjos, leva-nos à seguinte consideração:
(A)surge como prêmio final, ou seja, como uma metáfora da morte;
(B) sugere a estreiteza do universo interior do sujeito poético, em oposição à amplidão da dor;
(C) é uma metáfora que aponta o ideal clássico de poesia, segundo o qual esta resultaria da compreensão racional do universo;
(D)aponta uma espécie de lucidez embutida na própria dor, tendo em vista que esta leva a um entendimento radical da verdade humana;
(E) é uma paródia da poesia soturna do romantismo, sobretudo a da primeira geração.

7 - Quanto à posição de Augusto dos Anjos no quadro histórico da poesia brasileira, é correto afirmar que:
(A)tendo em vista a linguagem original do poeta, sua postura existencial e seu pendor para a dessacralização da poesia, não é possível inseri-lo simplesmente na estética pré-modernista, sendo mais correto entendê-lo como um poeta modernista;
(B) a simples inserção histórica do poeta nos quadros do Parnasianismo ou do Simbolismo parece inadequada, visto que sua procura pelo infinito na matéria e a frustração de não encontrá-lo no que é efêmero empresta à sua poética dimensão mais propriamente romântica;
(C) considerando que sua poesia está voltada para os temas da miséria da carne e da putrefação e que sua linguagem é baseada no materialismo evolucionista, pode-se dizer que o poeta está inteiramente integrado à escola naturalista;
(D)se a postura existencial do poeta o aproxima da frieza parnasiana e do ideal de observação positiva preconizado pelo cientificismo naturalista, o impulso de fundar uma literatura brasileira aproxima-o da literatura pré-modernista;
(E) não basta considerar os temas da miséria da carne e da putrefação e a linguagem baseada no materialismo evolucionista; é preciso ter em conta a poesia amorosa de Augusto dos Anjos, que o situa numa perspectiva romântica.

8 - Ao comparar os poemas de João Cabral de Melo Neto e de Augusto dos Anjos, identifica-se a seguinte semelhança:
(A)linguagem original, vocabulário exótico, rebuscado, científico, que acentua o caráter angustiante do pessimismo cósmico;
(B) linguagem “desmetaforizada”, o que cristaliza o desejo de superação da dor por meio da ciência;
(C) imagens e metáforas em que a própria poesia é questionada como instrumento de superação da dor;
(D)paródia dos ideais parnasianos de distanciamento e descrição objetiva, com conseqüente superação da dor por meio da subjetividade;
(E) vocabulário e imagens que, na tradição literária, de modo geral, são despidos de qualquer valor poético.

9 - Os poemas de João Cabral de Melo Neto e de Augusto do Anjos apresentam imagens ligadas à claridade. Com relação ao uso dessas imagens nos dois textos, analise as afirmativas a seguir:
I. Enquanto o poema de Cabral faz o elogio de uma luz artificial, que vence a dor, o de Augusto dos Anjos faz o elogio de uma luz que emana da própria dor.
II. Enquanto no poema de Cabral a claridade é uma metáfora da natureza humana, no de Augusto dos Anjos ela é material, real.
III. Enquanto no poema de Cabral a claridade é material, real, no de Augusto dos Anjos a luz é uma metáfora da natureza humana.
IV. Enquanto no poema de Cabral a luz está ligada ao fim da dor, no de Augusto dos Anjos a luz está na própria dor.
V. Enquanto o poema de João Cabral fala de uma dor objetiva, concreta, o de Augusto dos Anjos fala de uma dor abstrata, sem qualquer conotação física.

Assinale a alternativa correta:

(A)apenas a afirmativa III está correta;
(B) as afirmativas I, II e IV estão corretas;
(C) apenas as afirmativas I e IV estão corretas;
(D)apenas as afirmativas I e III estão corretas;
(E) apenas as afirmativas II e IV estão corretas.

10 - A respeito do “diálogo” que se estabelece no poema de Augusto dos Anjos, pode-se afirmar que:
(A)o eu-lírico se dirige ao leitor, já que, além do uso de pronomes e verbos na 2ª pessoa do singular, a função exercida pela palavra “dor” no primeiro verso jamais poderia ser a de vocativo;
(B) o eu-lírico se dirige à dor, o que pode ser comprovado pela presença de adjetivo feminino, de pronomes e verbos na 2ª pessoa do singular – procedimentos que não possibilitam atribuir a função de vocativo à palavra “dor” no primeiro verso do poema;
(C) o eu-lírico se dirige à dor, o que pode ser comprovado pela presença de adjetivo feminino, de pronomes e verbos na 2ª pessoa do singular – procedimentos que possibilitam atribuir a função de vocativo à palavra dor no primeiro verso do poema;
(D)o eu-lírico se dirige à própria dor, o que pode ser comprovado pela presença de adjetivo feminino, de pronomes e verbos na 2ª pessoa do plural – procedimentos que possibilitam atribuir a função de vocativo à palavra dor no primeiro verso do poema;
(E) o eu-lírico se dirige à própria dor, o que pode ser comprovado pela presença de adjetivo masculino, de pronomes e verbos na 2ª pessoa do singular.

Fonte: http://alub.com.br/mundoalub/alub_pre/documentos/pdf/PROVA-1D.pdf

Seis ou treze coisas que aprendi sozinho

Texto III, para responder às questões 1 e 2


Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho 

Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos.
Manoel de Barros.



Questão 1
Considerando o texto III, julgue os itens a seguir, assinalando (V) para os verdadeiros e (F) para os falsos. 

0.( ) O poema apresenta uma linguagem, na norma padrão, que é utilizada em diversos gêneros, sobretudo em poemas amorosos, seguindo os padrões poéticos regidos pelas normas. 

1.( ) “Casas começam a morrer” (verso 2), “capins” (verso 3), “pedras” (verso 5), “mendigos” (verso 5),“cachorros” (verso 5), “Terrenos sitiados” (verso 6) explicitam o primeiro verso do poema “Lugar em que há decadência”. 

2.( ) A característica realista mais evidente no poema é a apropriação de cenas comuns, cotidianas, da cultura popular como forma de valorização da identidade nacional. 

3.( ) O último verso do poema ― “as ruínas darão frutos” ― está em sentido conotativo e representa que a 
“decadência”, que aparece no primeiro verso, tende a aumentar. 

4.( ) No verso “Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros”, há uma gradação, pois o termo “Luares” foi empregado com o valor de “decadência”. 


Questão 2
Considerando o texto III, julgue os itens a seguir, assinalando (V) para os verdadeiros e (F) para os falsos. 

0.( ) O verbo haver, no sentido de existir, é impessoal e se conjuga sempre na 3ª pessoa do singular. Por analogia, a mesma regra de concordância se aplica ao verbo existir, como em Existe casas habitadas por morcegos. 

1.( ) A locução verbal “começam a morrer” (verso 2) focaliza o ponto inicial do evento descrito pelo verbo principal. Esse tipo de propriedade é chamada de aspecto verbal. 

2.( ) Embora os verbos entrar e subir sejam considerados tradicionalmente como intransitivos (verbos que não exigem complemento), nos versos 3 e 4, eles se apresentam com um objeto indireto, representado pelo pronome “lhes”. 

3.( ) Certos advérbios costumam ter mobilidade na sentença, podendo aparecer em diversas posições. É o caso do termo “só” (verso 5), cujo deslocamento, como em Só luares encontrarão pedras..., não altera a interpretação do verso. 

4.( ) No verso 5, o emprego de vírgulas entre “pedras”, “mendigos” e “cachorros” seria apropriado, caso se tratasse de um texto que não tivesse um caráter literário.