terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Linguagem prolixa




Prolixidade

Ser prolixo é utilizar mais palavras do que o necessário para exprimir uma ideia. É alongar-se, é não ir direto ao assunto, é "encher linguiça". Prolixidade é o antônimo de concisão.

Um texto prolixo é, em consequência, um texto enfadonho. Sempre que uma pessoa prolonga em demasia o discurso, os ouvintes tendem a não prestar mais atenção ao que ela está dizendo.

O uso de expressões que só servem para prolongar o discurso, como "por outro lado", "na minha modesta opinião", "eu acho que", tendem a não acrescentar nada à mensagem, tornando o texto prolixo.

Atividade

Millôr Fernandes apropria-se da linguagem  prolixa e reescreve, com muito humor e criatividade, diversos provérbios populares, identifique-os.

1. Aquele que se deixa prender sentimentalmente por criatura destituída de dotes físicos de encanto ou graça acha-a dotada desses mesmos dotes que outros não lhe veem.
Resposta: Quem ama o feio bonito lhe parece

2. Por cada um dos prolongamentos articulados em que terminam pés e mãos do ser humano se estabelece a identidade do ser de tamanho descomunal.

3. Quando o sol está abaixo da linha do horizonte, a totalidade dos animais domésticos da família dos felídeos é de cor mescla entre branco e preto.

4. O traje característico que usa não identifica fundamental a pessoa que, por fanatismo, misticismo ou cálculo, se isola da sociedade, levando vida austera e desligada das coisas mundanas.

5. A criatura canonizada que vive em nosso próprio lar não é capaz de produzir feito extraordinário que vá contra as leis fundamentais da natureza.

5. Aquele que anuncia por palavras tudo o que satisfaz ao seu ego tende a perceber por seus órgãos de audição coisas que não desejaria.

6. O Espírito das Trevas não é tão destituído de encantos e graças físicas quanto se o representa por meio de traços e cores.

7. A substância insípida, inodora e incolor que já se foi não é mais capaz de comunicar movimentos ao engenho de triturar cereais.

8. De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda e asas curtas e largas, da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem algum tempo antes de passarem à moela.

Poesia-receita

“Receitas de Olhar” é um livro de poesias de Roseana Murray que você deve saborear, sem restrições. Mais do que um livro de poesias, é um livro que nos dá dicas, modo de fazer e os melhores ingredientes, para se viver bem, sem desperdiçar a sensibilidade e a  imaginação.
Mantendo a mesma linguagem e formato das receitas, a poesia-receita sintetiza, de forma clara e objetiva, o olhar sobre as coisas simples da vida.



site da escritora: http://www.roseanamurray.com/

Receita de arrumar gavetas

separe coisa por coisa:
de um lado o pólen do passado
as raízes do que foi importante
os retratos os bilhetes
os horários de chegada
de todos os navios-pirata
os sinos que anunciam
que há um amigo na estrada

do outro lado um espaço vazio
para o que vai acontecer
as surpresas do destino
os desatinos do acaso

Receita de espantar a tristeza

faça um careta
e mande a tristeza
pra longe pro outro lado
do mar ou da lua

vá para o meio da rua
e plante bananeira
faça alguma besteira

depois estique os braços
apanhe a primeira estrela
e procure o melhor amigo
para um longo e apertado abraço
Receita de olhar

nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela
Receita de se olhar no espelho

Se olhe de frente
de lado
de costas
de cabeça para baixo
pinte o espelho de azul dourado vermelho
faça caretas ria sorria
feche os olhos abra os olhos
e se veja sempre surpresa quem é você???

Produção textual: poesia-receita
Escolha uma das poesias-receitas e reescreva a partir do seu olhar. (Receita de Olhar no Espelho,  Receita de espantar tristezas, Receita de arrumar gavetas, Receita de olhar)

Epitáfio

Leia os textos a seguir e responda ao que se pede:

Texto 1: Epitáfio da Banda Titãs

Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr


Texto 2: LEMBRANÇA DE MORRER de Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. —

Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

RESPONDA
1 - Álvares de Azevedo é representante do Ultra-Romantismo brasileiro. Que características do poema lido justificam essa afirmativa?
2 - De quem o poeta confessa que sentirá saudade quando morrer?
3 - Epitáfio é uma inscrição que se coloca sobre o túmulo. Localize no texto o epitáfio que o
poeta solicita para si.
4 - Geralmente, o artista é porta-voz do seu tempo. Em grupo, comparem o poema lido com a letra da música "Epitáfio", de Sérgio Britto, transcrita acima. Apontem diferenças e semelhanças, tentando identificar em que medida os textos são influenciados pela época em que foram escritos.

Epitáfio

É a inscrição que se coloca na lápide de um túmulo. Na sua origem, era uma inscrição que narrava os maiores feitos dos grandes heróis e/ou cavaleiros, nobres e reis. Posteriormente se popularizou, e passou a ser utilizado para exaltar as qualidades de uma pessoa (um bom pai, um bom marido, uma boa mulher, etc...) ou os sentimentos das pessoas próximas ("deixará saudades", "nunca o esqueceremos"). Ultimamente não tem sido mais tão utilizado, embora se encontre alguns ainda em cemitérios.

Curiosidades

O norte-americano Thomas Hall percorreu 875 cemitérios – nos Estados Unidos e no exterior – selecionando inscrições tumulares que mais tarde reuniu em um livro chamado Grave humour (Humor na tumba). Abaixo, seguem algumas dessas “pérolas”. As duas últimas frases – sugestões de epitáfios – foram extraídas de um livro nacional, Aqui jaz.

Aqui jaz um ateu completamente vestido para não ir a lugar algum.
Em um cemitério de Thurmont, Maryland

No início eu não era, depois passei a ser, agora novamente não sou.
Na lápide de Arthur Homan, em um cemitério de Cleveland, Ohio

Debaixo dessa pedra descansa o tio Peter, que em princípios de maio despiu suas ceroulas.
Em um cemitério de Edimburgo, Escócia.

Aqui jaz Buck Allen, que era rápido no gatilho, mas lento para sacar.
Em um cemitério de Silver City, Nevada

Isso é tudo!
Epitáfio de Thomas Stagg, em um cemitério de Londres

Aqui jaz Jonny Yeats – Perdoem-me por não ficar de pé.
Em um cemitério de Ruidoso, Novo México

Rab McBeth, que morreu por não poder continuar respirando.
Epitáfio de um homem que foi enforcado, em Larne, Irlanda

Aqui jaz quem chamou Bill Smith de corno.
Em um cemitério de Criplle Creek, Califórnia

Como acabei muito cedo, me pergunto por que comecei?
Na lápide de um jovem em um cemitério de Plymouth, Massachussets

Aqui jaz Jonathan Blake, que pôs o pé no acelerador ao invés de botar no freio.
Em um cemitério de Uniontown, Pensilvânia

Aqui deveria estar o corpo de Margareth Bent, que morreu e desapareceu.
Em um cemitério de Dorchetsire, Inglaterra

Era. Não é mais.
Epitáfio de Arthur Haine, em um cemitério de Vancouver, Washington

Aqui jaz Lester Moore, com quatro balas de um Colt 44.
Em um cemitério de Tombstone, Arizona

Eu fui alguém. Quem? Não é da sua conta.
Em um cemitério de Stowe, Vermont

Morto, mas não perdoado.
Epitáfio em um cemitério de Atlanta, Geórgia (escrito pela viúva)

Fui!
Epitáfio de Robert Phillip, em Kingsbride, Inglaterra

Ezekial Aikle, idade: 102 anos – Os bons morrem jovens!
Em um cemitério de East Dalhousie, Nova Escócia

Passei a vida tentando ficar rico. Vou ver se agora – com mais tempo – consigo.
Em um cemitério de Charleston, Carolina do Sul

Eu disse que estava doente!
Em um cemitério da Geórgia

A defesa descansa.
Epitáfio de um advogado em Rockford, Illinois


EPITÁFIOS DE GENTE FAMOSA:

Leia alguns epitáfios engraçados retirados do "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios" de Aran & Castelo.

· Ai, tô morta! (Agnaldo Timóteo)

· Nelson Ned é a puta que o pariu! (Anão Zangado)

· Causa mortis: pneumonia. (Anão Atchim)

· Estou dando para os vermes o que sempre recusei aos homens... (Angélica)

· Do pró ao pó (Arnaldo Jabor)

· Caí do cavalo (Beto Carreiro)

· Isso é uma vergonha! (Bóris Casoy)

· É preciso passar o inferno a limpo. (Idem)

· Cuidado: inflamável (Boris Ieltsin)

· Alguma coisa aconteceu em meu coração (Caetano Veloso)

· Moli (Cebolinha)

· A César o que é de César: um buraco (César Maia)

· Hay que apodrecerse (Che Guevara)

· Pai, viu o que deu não afastar de mim o cálice? (Chico Buarque)

· Ohana nas alturas (Cláudia Ohana)

· Às margens do rio Piedra eu sentei e a-do-rei! (Clodovil)

· No túmulo com Danuza (Danuza Leão)

· Logo hoje que eu estava toda encaralhada, puta que me pariu! (Dercy Gonçalves)

· Finalmente, não preciso fazer mais nada (Dorival Caymmi)

· Atenção, velas, flores e fotos autografadas estão à venda no estande da Igreja Universal, à direita de quem entra no cemitério (Edir Macedo)

· A Sociedade Protetora dos Animais conserva esta área (Edmundo)

· Meu nome era Enéas! (Enéas)

· Não morri, estou fazendo pós-graduação da vida (Fernando Henrique Cardoso)

· Desta vez, doeu demaaaisss! (Gal Costa)

· A complexitude do sincretizamento da afrocrença nagô com a mitologização da catolicitude, não deixa duvidanças: desencarneci. (Gilberto Gil)

· Sempre adorei criança. Malpassada (Herodes)

· Enterrem meu topete na beira do rio (Itamar Franco)

· Foi o único jeito dele pular cerca... (José Rainha)

· Foi culpa da Rede Globo (Leonel Brizola)

· Aqui jaz um malvadinho (Luiz Eduardo Magalhães)

O "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", de Aran & Castelo, Editora Ática - São Paulo, 1996, pág. 61 e seguintes, traz inúmeras sugestões sobre epitáfios, todas engraçadíssimas. Quem prestar atenção ao último e à data em este foi feito, logo pela manhã, não vai achar graça nenhuma (foi na data e hora da morte "dele").


Várias ideias para sua lápide

Aran & Castelo


· O Agrônomo: Favor regar o solo com Neguvon. Evita vermes.

· O Alcoólatra: Enfim, sóbrio.

· O Alcoólico Anônimo: Já que era pra acabar assim, preferia cirrose.

· O Alérgico: Flores no túmulo do lado. Sou alérgico a pólen.

· O Alpinista: Pra cima todo santo ajuda.

· O Arqueólogo: Enfim, fóssil.

· O Assistente Social: Alguém aí, me ajude!

· O Baiano: Finalmente vou descobrir se o Caetano Veloso existe mesmo.

· O Cangaceiro fanho: Tã mi dano um cangaço.

· O Cartunista: Partiu sem deixar traços.

· O Católico: Deus é grande, mas não é dois. É três.

· O Curto e Grosso: Fodeu.

· O Delegado: Tá olhando o quê? Circulando, circulando!

· O Ecologista: Entrei em extinção.

· O Encanador: Aqui gás.

· O Enólogo: Cadáver envelhecido em caixão de carvalho, aroma de formol
  e aftertasling que denota a presença de microorganismos diversos.

· O Espiritualista: Volto já.

· O Fanho: Anqui janz.

· O Funcionário Público: É no túmulo ao lado.

· O Garanhão: Rígido, como sempre.

· O Herói: Corri para o lado errado.

· O Hipocondríaco: Eu não disse que estava doente?

· O Humorista: Isto não tem a menor graça.

· O Jangadeiro Diabético: Foi doce morrer no mar.

· O Jóquei: Cruzei o disco final.

· O Judeu: O que vocês estão fazendo aqui? Quem está tomando conta
  da lojinha?

· O Kamikaze: Cai matando.

· O Latifundiário: Invasores serão expulsos à bala.

· O Lobista: Tudo bem. Eu conheço um cara que é amigo de um primo de
  Deus.

· O Maníaco Sexual: Deixo para trás os melhores ânus da minha vida.

· O Megalomaníaco: Deus estava precisando de uma força.

· O Micreiro: Por favor, me dê um restart.

· A Ninfomaníaca: Uau, esses vermes insaciáveis vão me comer todinha.

· O Obstetra: Morrer é um parto.

· O Otimista: Pelo menos não pago mais imposto de renda.

· O Paulistano: Ôrra, meu, que merda! Até aqui tem fila?!

· O Pessimista: Aposto que está fazendo o maior frio no Inferno.

· O Político de Esquerda: Mortos, fora do cemitério! Terra para quem
  trabalha!

· O Psicanalista: A Eternidade não passa de um complexo de superioridade
  mal resolvido.

· O Sanitarista: Sujou.

· A Sex-Symbol: Agora, só a terra vai comer.

· O Soldado Desconhecido: Quê? Eu seguro a bomba?

· O Viciado: Enfim, pó.


Aran & Castelo, autores do livro "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", já escolheram os seus: "Agora sim, espirituoso" e "Tô fora...", respectivamente. Pode-se dizer que é um tratado sobre epitáfios, sob a ótica do humor. O texto acima foi extraído do livro citado, Editora Ática - São Paulo, 1996, págs. 11 a 56.

Mais idéias para sua lápide

Aran & Castelo

· O Agnóstico: Deus é grande, mas não é dois.
· O Ansioso: Uma cueca limpa, por favor.
· O Ateu: Tão bem vestido e nenhum lugar para ir...
· O Britânico: Morri, presumo.
· O Cego: Aqui onde?
· O Cinéfilo: From Here to Eternity
· O Comunista: O Paraíso não existe. Avisem Karl Marx. Pensando bem, Karl
  Marx também não existe. Esquece.
· O Cri-cri: Volto a insistir: para mim isso foi só um desmaio.
· O Decorador: Aqui repousa Fabinho Darling num caixão lindíssimo de 
  mogno perolado, com luxuosas alças douradas em estilo Luiz XV. Acima,
  mármore de Carrara marrom, combinando com o vaso de cerâmica
  marajoara. As flores são manufaturadas em papel crepom multicolorido e
  pintado à mão.
· O Doente de hemorróidas: Ainda bem que não enterram a gente sentado.
· O Editor: Fora de catálogo.
· O Ejaculador precoce: Eu já esperava por isso, mas não tão rápido.
· O Empreiteiro: Este mausoléu é mais um empreendimento da Construtora
  Odebretch & Corleone, com o apoio do Governo Federal, Estadual e
  Municipal. Consulte nosso corretor.
· O Enrustido: Aqui jaz Sebastião. Tião, para o pessoal da obra. Sebás,
  para os íntimos.
· O Esportista: Asa delta, nunca mais.
· O Favelado: Aqui, mais uma casa própria entregue pela Nossa Caixa,
  Nosso Banco.
· O Feirante: Olha o cadáver fresquinho, dona freguesa!
· O Fotógrafo: Velei.
· O Geólogo: É pau, é pedra, é o fim do caminho.
· O Impotente: De pé, nunca mais.
· O Juiz: Isso não é justo.
· O Mal-humorado: Não incomodem.
· O Místico: À margem do rio Piedra eu sentei e dancei.
· O Pagodeiro: Favor não batucar na lápide.
· O Paranóico: Ta olhando o quê?
· O Proctologista: Tomei no cu.
· O Punk: Enfim, podre.
· O Segurança: Favor deixar o crachá visível.
· O Telegrafista: Fim da mensagem Pt.
· O Workaholic: Podem continuar rezando, que meu celular está tocando.
· O Zumbi: Aqui jazia.

Estamos em pleno clima de guerra! (out/2001). Nunca se sabe o dia de amanhã. Por isso o Releituras dá dicas, a seus inúmeros leitores, de epitáfios cheios de humor. Escolha o seu!
Aran & Castelo, autores do livro "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", já fizeram suas opções: "Agora sim, espirituoso" e "Tô fora"... O texto foi extraído do livro citado, Editora Ática - São Paulo, 1996, págs. 11 a 56.

 
 

Produção textual: epitáfio

Agora é a sua vez. Escreva um epitáfio, em linguagem sintética, que defina quem você é, ou melhor, era.



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Acesso livre a Vinicius de Moraes - clic

Livros do poeta carioca são digitalizados e estão disponíveis para download

Está disponível na Biblioteca Brasiliana USP o acervo completo de poemas de Vinicius de Moraes. Sua poesia compreende 15 livros, que foram doados à biblioteca pelo bibliófilo José Mindlin.  Entre as obras digitalizadas, estão "O Caminho para a Distância" (1933), seu primeiro livro publicado, e a primeira edição de "Orfeu da Conceição" (1956), entre outros. A digitalização e publicação de sua poesia só foi possível graças à autorização da VM Empreendimentos Artísticos e Culturais, que detém os direitos sobre a obra de Vinicius. Para conferir os livros disponibilizados, acesse www.brasiliana.usp.br

fonte: Revista Língua Portuguesa, no 56 - Junho de 2010.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Questão de estilo 4

Escândalo e Literatura


O CASO DO DINHEIRO NA CUECA

"Cueca e dinheiro,
o outono da ideologia
do vil companheiro."

À moda Machado de Assis:
"Foi petista por 25 anos e 100 mil dólares na cueca"

À moda Dalton Trevisan:
"PT. Cem mil. Cueca. Acabou."

À moda concretista:
"PT
Cueca
Cu
PT
Eca
Peteca
Te
Peca
cloaca".

À moda Graciliano Ramos:
"Parecia padecer de um desconforto moral.
Eram os dólares a lhe pressionar os testículos".

À moda Rimbaud:
"Prendi os dólares na cueca,
e vinte e cinco anos de rutilantes empulhações
cegaram-me os olhos,
mas não o raio-x"

À moda Álvaro de Campos:
"Os dólares estão em mim
já não me sou
mesmo sendo o que estava destinado a ser
nunca fui senão isto:
um estelionato moral na cueca das idéias vãs"

À moda Drummond:
"Tinha um raio-x no meio do caminho,
e agora José?"

À moda Proust:
"Acabrunhado com todas aquelas denúncias e a perspectiva de mais um dia tão
sombrio como os últimos, juntei os dólares elevei-os à cueca. Mas no mesmo
instante em que aquelas cédulas tocaram a minha pele, estremeci, atento ao
que se passava de extraordinário em mim.
Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa. Esse
prazer logo me tornara indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus
desastres, ilusória sua brevidade, tal como o fazem a ideologia e o poder,
enchendo-me de uma preciosa essência."

À moda TS Eliot:
"Que dólares são estes que se agarram a esta imundície pelancosa?
Filhos da mãe! Não podem dizer! Nem mesmo estimam o mal porque
conhecem não mais do que um tanto de idéias fraturadas, batidas pelo tempo.
E as verdades mortas já não mais os abrigam nem consolam."

À moda Lispector:
            "Guardei os dólares na cueca e senti o prazer terrível da traição. Não a
traição aos meus pares, que estávamos juntos, mas a séculos de uma crença
que eu sempre soube estúpida, embora apaixonante.
            Sentia-me ao mesmo tempo santo e vagabundo, mártir de uma causa e seu mais
sujo servidor, nota a nota".

À moda Lênin:
            "Não escondemos dólares na cueca, antes afrontamos os fariseus da
social-democracia. Recorrer aos métodos que a hipocrisia burguesa
criminaliza não é, pois, crime, mas ato de resistência e fratura
revolucionária. Não há bandidos quando é a ordem burguesa que está sendo
derribada. Robespierre não cortava cabeças, mas irrigava futuros com o
sangue da reação. Assim faremos nós: o dólar na cueca é uma arma que temos
contra os inimigos do povo. Não usá-la é fazer o jogo dos que querem deter a
revolução. Usá-la é dever indeclinável de todo revolucionário."

À moda Stálin:
            "Guarda a grana e passa fogo na cambada!"

À moda Gilberto GIl:
            "Se a cueca fosse verde como as notas, teríamos resgatado o sentido de
brasilidade impregnado nas cores diáfanas de nosso pendão, numa sinergia
caótica com o mundo das tecnologias e dos raios que, diferentemente dos da
baianidade, não são de sol nem das luzes dos orixás, mas de um aparelho
apenas, aleatoriamente colocado ali, naquele momento, conformando uma quase
coincidência entre a cultura do levar e trazer numerário, tão nacional, tão
brasileira quanto um poema de Torquato"

À moda Ferreira Gullar
"Sujo, sujo, não como o poema
mas como os homens em seus desvios"

À moda Paulinho da Viola
            "Dinheiro na cueca é vendaval"

À moda Camões
"Eis pois, a nau ancorada no porto
à espreita dos que virão d'além
na cobiça da distante terra,
trazendo seus pertences, embarcam
minh'alma se aflige
tão cedo desta vida descontente"

À moda Guimarães Rosa:
"No tudo. Ficado ficou.
Era apenas a vereda errada dentre as várias."

À moda Shakespeare
            "Meu reino por uma ceroula!!! "

À moda Dráuzio Varela:
            "Ao perceber na fila de embarque o cidadão à frente, notei certa obesidade
mediana na região central. Se tivesse me sentado ao seu lado durante o vôo,
recomendaria um regime, vexame que me foi poupado pelos agentes da PF de
plantão no aeroporto. Cuidado portanto, nem toda morbidez é obesidade"

À moda Neruda:
            "Cem mil dólares
            e uma cueca desesperada"


Um Haicai:

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Variedades linguísticas

 "E o cabo eleitoral, dirigindo-se ao candidato, sentado frente à televisão:

 - Firmei
 - Não, Sirvió Santos"

Variações lingüísticas
O modo de falar do brasileiro
Alfredina Nery*

Toda língua possui variações lingüísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações lingüísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.

1) Em sociedades complexas convivem variedades lingüísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;

2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;

3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.

Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.


Variações regionais: os sotaques

Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:
Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.
Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação lingüística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.

Antigamente
"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.

Língua e status

Nem todas as variações lingüísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para percebers que há preconceito em relação a elas.

Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:

O Poeta da Roça
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o pape
De argun menestré, ou errante canto
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)

Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.

Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira".

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mio
Para pior pio
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades lingüísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações lingüísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito lingüístico.
*Alfredina Nery Professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura




Gíria e jargão
A língua muda conforme situação
Alfredina Nery*

A língua varia no tempo e no espaço. Há ainda as variaçãoes linguísticas dos grupos sociais (jovens, grupos de profissionais, etc) e até mesmo, há variação quando um único indivíduo, em situações diferentes, usa diferentemente a língua, de forma a se adequar ao contexto de comunicação. Uma dessas variações é a "gíria", que são as palavras que entram e saem da moda, de tempos em tempos.

Você conhece o "Dicionário dos Mano"? Aqui vão alguns exemplos:

·         Mano não briga: arranja treta.
·         Mano não cai: capota.
·         Mano não entende: se liga.
·         Mano não passeia: dá um rolê.
·         Mano não come: ranga.
·         Mano não fala: troca idéia
·         Mano não ouve música: curte um som.

A gíria teve sua origem na maneira de falar de grupos marginalizados que não queriam ser entendidos por quem não pertencesse ao grupo. Hoje, entende-se a gíria como uma linguagem específica de grupos específicos, como os jovens. Grupos sociais distintos têm seus "modos de falar", como é o caso dos mais escolarizados e, até mesmo, os grupos profissionais que se expressam por meio das linguagens técnicas de suas profissões.

Jargão

Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc.
Imagine que você foi a um hospital e ouviu um médico conversando com outro. A certa altura, um deles disse:

"Em relação à dona Fabiana, o prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio."

É provável que você tenha levado algum tempo até entender o que o médico falou. Isso porque ele utilizou, com seu colega de trabalho, termos com os quais os dois estão acostumados. Com a paciente, o médico deveria falar de uma maneira mais simples. Assim:

"Bem, dona Fabiana, a senhora pode parar de tomar o remédio, sem problemas"


Diferentes situações de comunicação

Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação formal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes, isso não acontece conosco, no cotidiano? Na família e com amigos, falamos de uma forma, mas numa entrevista para procurar emprego é muito diferente. Essas diferenças lingüísticas dependem de:

·         familiaridade ou distância dos que participam do ato de linguagem;
·         grau de formalidade da ocasião;
·         tipo de texto usado: conferência, texto escrito, conversa, artigo etc.

Portanto, para saber se adequar a diferentes situações de comunicação, com variações lingüísticas próprias de cada ocasião, você precisa ser um "poliglota na própria língua"...




Divirta-se com os textos que exploram as variedades como forma de humor.


Texto 1: Assalto


- Assaltante Cearense
Ei, bixim…
Isso é um assalto..
Arriba os braços e num se bula nem faça munganga…
Passa vexado o dinheiro senão eu planto a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora…
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da molesta…


- Assaltante Mineiro
Ei cumpadre, prestenção..
Isso é um assarto, uai…
Levanto os braços e fica quetinho quesse trem na minha mão tá cheio de bala…
Mió passar logo os trocados que eu num tô bão hoje…
Vai andando, uai, tá esperando o que, uai..


- Assaltante Gaúcho
Ô gurí, ficas atento…
Báh, isso é um assalto…
Levantas os braços e te aquieta, tchê!
Não tentas nada e tomas cuidado que esse facão corta que é uma barbaridade…
Passa os pilas prá cá!
E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala!!


- Assaltante Carioca
Seguiiiinnte, cara…
Tu se fudeu, isso é um assalto…
Passa a grana e levanta os braços cara…
Não fica de bobeira que eu atiro bem pra caralho…
Vai andando e se olhar pra traz vira presunto…


- Assaltante Baiano
Ô meu rei.( longa pausa )…….. isso é um assalto…
Levanta os braços, mas não se avexe não…
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado…
Vai passando a grana, bem devagarinho…
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado…
Não esquenta, meu irmãozinho, vou deixar teus documentos na próxima encruzilhada…


- Assaltante Paulista
Ôrra, meu…..
Isso é um assalto, meu….
Alevanta os braços, meu….
Passa a grana logo, meu…
Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Timão, meu….
Se manda, meu….



Texto 2: Antigamente



ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
HAVIA OS QUE tomaram chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”, ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os eruditos, se alguém espirrava — sinal de defluxo — eram impelidos a exortar: “Dominus tecum”. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.
ANTIGAMENTE, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um cabrito, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da Corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
ACONTECIA o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtysica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora.
Carlos Drummond de Andrade

Texto 3: Cinema gaúcho 
Para uma fácil aceitação da população gaúcha, os cinemas locais mudam os nomes dos filmes. Veja abaixo o nome de alguns filmes que já foram mudados pelos gaúchos.

Uma Linda Mulher
Uma Chinoca Buenacha

O Poderoso Chefão
O Bagual Cuiudo

O Exorcista
Vem Capeta, Que te Arrebento a Facão!

Os Sete Samurais
Sete Gaudérios cas Vista Estreita

Godzila
Que Baita Lagarto!

Os Brutos Também Amam
Os Guapos

Perfume de Mulher
Asa de Chinoca

Mamãe Faz Cem anos
A Véia tá Cheirando a Defunto

Corra Que A Polícia Vem Aí
Vamo Saí Ginetiando, Que vem Vindo os Milico

E O Vento Levou
Se foi com o Minuano!

Guerra Nas Estrelas
Peleia no Firmamento

Um Peixe Chamado Wanda
O Muçum-Prenda

A Noviça Rebelde
Madre Alvorotada

O Corcunda de Notre Dame
O Tortinho Estropiado

O Fim Dos Dias
O Bagualão contra o Demo

A Pantera Cor-de-rosa
Gato-do-Mato Fresco

O Náufrago
Mais Perdido que cusco em Tiroteio

Os Filhos do Silêncio
Boca Fechada não Entra Mosca

7 Anos No Tibet
Sete anos na bailanta do Tio Beto

Querida, Encolhi As Crianças
China Véia! Encolhi as Cria

Titaníc
O caíacão furado

Forest Gump
Um trovador dos Pampa

A múmia
Um xirú enfaichado

O senhor dos anéis
O piá dono da argola

Despedida de solteiro
Bochincho lá nas tia

Máquina mortífera
O caminhão do Ambrózio não tem freio!

300
Mas há!


Texto 4: Cinema nordestino

Para uma fácil aceitação da população nordestina, os cinemas locais mudam os nomes dos filmes. Veja abaixo o nome de alguns filmes que já foram mudados pelos nordestinos.

Uma Linda Mulher
A Cabrita Aprumada

O Poderoso Chefão
O Coroné Arretado

O Exorcista
Arreda Capeta!

Os Sete Samurais
Os Jagunço di Zóio Rasgado

Godzila
O Calangão

Os Brutos Também Amam
Os Vaquero Baitola

Sansão e Dalila
O Cabiludo e a Quenga

Perfume de Mulher
Cherim di Cabocla

Tora, Tora, Tora!
Oxente, Oxente, Oxente!

Mamãe faz cem anos
Mainha num Morre Mais!

Guerra nas Estrelas
Arranca-rabo nu Céu

Um Peixe Chamado Wanda
O Lambarí cum nomi di Muié

Noviça Rebelde
Beata Increnquera

O Corcunda de Notre Dame
O Monstrim da Igreja Grandi

O Fim dos Dias
Nóis Tamo é Lascado

Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita
Um Cabra Pai D' égua di Quem Ninguém Discunfia

Os Filhos do Silêncio
Os Minino du Mudim

A Pantera Cor-de-rosa
A Onça Aviadada

Texto 5: Dicionário mineirês/português 
Muitas pessoas se confundem quando vão a Minas Gerais visitar o parente caipira e não entendem o que ele está dizendo. Seus problemas acabaram, acaba de sair o Dicionário Mineirês/Português, o guia definitivo para entender os mineiros. Confira:

PRESTENÇÃO - É quano eu tô falano iocê num tá ovino.

CADIQUÊ? - Assim, tentanu intendê o motivo.

CADIM - É quano eu num quero muito, só um poquim

DEU - o mez qui "di mim". Ex.: Larga deu, sô!

SÔ - fim de quarqué frase. Qué exêmpro tamem? Cuidadaí, sô!

DÓ - o mez qui "pena", "cumpaxão" : "ai qui dó, gentch...!!"

NIMIM - o mez qui in eu. Exempro: Nòoo, ce vivi garrado nimim, trem!... Larga deu, sô!!...

NÓOO - Num tem nada a vê cum laço pertado, não! Omez qui "nossa!.." Vem de Nòoosinhora!...

PELEJANU - omez qui tentanu: Tô pelejanu quesse diacho né di hoje, qui nó! (agora é nó mez!)

MINERIM - Nativo duistadiminnss.

UAI - Uai é uai, sô... Uai!

ÉMÊZZZ?! - minerim querêno cunfirmá.

NÉMÊZZZ?! - minerim querêno sabê si ocê concorda.

OIAQUI - Minerim tentano chama atenção pralguma coizz...

PÃO DI QUEJU - Iosscêis sabe!... Cumida fundamentar qui disputa com o tutu a preferêca dus minêro

TUTU - Mistura de farinha di mandioca (o di mio) cum fejão massadim. Bom dimais da conta, gentch!!..

TREIM - Qué dize quarqué coizz qui um minerim quizé! Ex: "Já lavei US Trem!" "Qui trem bão!!"

NNN - Gerúndio du minreis. Ex: "Eles tão brincannn", "Cê tá innn, eu tô vinnn..."

PÓPÔPÓ? - Mineira perguntando pro marido se Pode Pôr o Pó.

PÓPÔPOQUIM - Resposta afirmativa do marido.

JISGIFORA - Cidadi pertin du Ridijanero. Cunfunde a cabeça do minerim que si acha qui é carioca.

DEUSDE - desde. Ex: "Eu sô magrelin deusde rapazin!"

ISPÍA - nome da popular revista "VEJA"

ARREDA - verbu na form imperativ (danu órdi), paricido cum saí. "Arredaí, sô!"

"IM" - diminutivo. Ex: lugarzim, piquininim, vistidim, etc.

DENDAPIA - Dentro da pia.

TRADAPORTA - Atrás da porta.

BADACAMA - Debaixo da cama.

PINCOMÉ - Pinga com mel.

ISCODIDENTE - Escova de dente.

PONDIÔNS - Ponto de ônibus.

SAPASSADO - Sábado passado.

VIDIPERFUME - Vidru de perfume.

OIPROCÊVÊ (ou OPCV) - óia procê vê

TISSDAÍ - Tira ISS daí.

CAZOPÔ - Caxa disopor.

ISTURDIA - Otru dia.

PROINOSTOINO? - pronde nós tamo inu?

CÊSSÁ SÊSSE ONS PASSNASSAVASS? - ocê sabe se esse ônibus passa na Savassi?

JIGIFORA - Cidade pertinho do Rio de Janeiro. Confunde a cabeça do mineiro, que não sabe se é carioca

BELZONTE - Capitar do istado.


Texto 6: frases de revistas femininas

Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo. (Revista Claudia, 1962).

A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1965).

A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas. (Jornal das Moças, 1959).

Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças, 1957).

Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças,1957).

O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. ELE é quem decide sempre! (Revista Querida, 1953).

Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite espere-o linda, cheirosa e dócil. (Jornal das Moças, 1958).

É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957).

O lugar de mulher é no lar. (Revista Querida, 1955).


Texto 7: Naqueles tempos
PREPARADA - era uma moça que cursou a universidade, fez pós graduação no exterior e falava no mínimo dois idiomas.

TIGRÃO - Era aquele bonequinho dos Sucrilhos Kellog's ,o Tony. E a criançada colecionava quebra-cabeças com a cara dele.

CACHORRA - Era a fêmea do cachorro, a melhor guardiã que se podia ter em casa.

ASPIRAR UMA CARREIRA - Era sonhar com o sucesso profissional em advocacia, medicina, arquitetura...

PASSAR CEROL NA MÃO - era uma tremenda burrice. O cerol era pra passar na linha. E "aparar pela rabiola" também era burrice, pois, podia estancar e você perdia a pipa.

HIPPIE - não usava rendinha, nem sutiã, nem bijuteria de prata com esmeralda.

BONDE - Era um meio de transporte superado.

DAR PRESSÃO - era o que o garçom fazia, quando tirava um chope legal no bar.

SILICONE - Era uma substância líquida, com a qual os rapazes poliam o estofamento do "carango", antes de buscar a garota pra sair pra ver "corrida de submarino"..

TIAZINHA - Era aquela simpática senhora, tia da nossa mãe, que contava histórias e nos dava biscoitos de polvilho.

FEITICEIRA - Era uma vassoura moderna, pra limpar carpetes...

"TÁ DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO" - Era o slogan norte-americano em relação ao terceiro mundo... aliás, pensando bem... até que isso não mudou ...

Texto 8: O roubo dos patos

Ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
    Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
    - Oh, bucéfalo anácroto! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência do que o vulgo denomina nada.
    E o ladrão, confuso, diz:
    - Doutor, eu levo ou deixo os patos???
                        RUI BARBOSA


Texto 9: Causo mineiro

Sapassadu era sessembru, taveu na cuzinha tumandu uma pincumel e cuzinhandu um kidicarni cumastumati pra fazê uma macarronada cum galinhassada. Quascaí di sustu quanduvi um barui vinde dendufornu parecenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinhaprassá. U fornu isquentô, omioistorô e u fiofó da galinhispludiu!... Nossinhora!...fiquei brancu quinem um litileite. Foi um trem doidim, quascaí dendapia, fiquei sensabê doncovim, nuncotô e proncovô. Ópcevê quilocura...grazadeus ninguém simaxucô!!!