terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Epitáfio

Leia os textos a seguir e responda ao que se pede:

Texto 1: Epitáfio da Banda Titãs

Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr


Texto 2: LEMBRANÇA DE MORRER de Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. —

Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

RESPONDA
1 - Álvares de Azevedo é representante do Ultra-Romantismo brasileiro. Que características do poema lido justificam essa afirmativa?
2 - De quem o poeta confessa que sentirá saudade quando morrer?
3 - Epitáfio é uma inscrição que se coloca sobre o túmulo. Localize no texto o epitáfio que o
poeta solicita para si.
4 - Geralmente, o artista é porta-voz do seu tempo. Em grupo, comparem o poema lido com a letra da música "Epitáfio", de Sérgio Britto, transcrita acima. Apontem diferenças e semelhanças, tentando identificar em que medida os textos são influenciados pela época em que foram escritos.

Epitáfio

É a inscrição que se coloca na lápide de um túmulo. Na sua origem, era uma inscrição que narrava os maiores feitos dos grandes heróis e/ou cavaleiros, nobres e reis. Posteriormente se popularizou, e passou a ser utilizado para exaltar as qualidades de uma pessoa (um bom pai, um bom marido, uma boa mulher, etc...) ou os sentimentos das pessoas próximas ("deixará saudades", "nunca o esqueceremos"). Ultimamente não tem sido mais tão utilizado, embora se encontre alguns ainda em cemitérios.

Curiosidades

O norte-americano Thomas Hall percorreu 875 cemitérios – nos Estados Unidos e no exterior – selecionando inscrições tumulares que mais tarde reuniu em um livro chamado Grave humour (Humor na tumba). Abaixo, seguem algumas dessas “pérolas”. As duas últimas frases – sugestões de epitáfios – foram extraídas de um livro nacional, Aqui jaz.

Aqui jaz um ateu completamente vestido para não ir a lugar algum.
Em um cemitério de Thurmont, Maryland

No início eu não era, depois passei a ser, agora novamente não sou.
Na lápide de Arthur Homan, em um cemitério de Cleveland, Ohio

Debaixo dessa pedra descansa o tio Peter, que em princípios de maio despiu suas ceroulas.
Em um cemitério de Edimburgo, Escócia.

Aqui jaz Buck Allen, que era rápido no gatilho, mas lento para sacar.
Em um cemitério de Silver City, Nevada

Isso é tudo!
Epitáfio de Thomas Stagg, em um cemitério de Londres

Aqui jaz Jonny Yeats – Perdoem-me por não ficar de pé.
Em um cemitério de Ruidoso, Novo México

Rab McBeth, que morreu por não poder continuar respirando.
Epitáfio de um homem que foi enforcado, em Larne, Irlanda

Aqui jaz quem chamou Bill Smith de corno.
Em um cemitério de Criplle Creek, Califórnia

Como acabei muito cedo, me pergunto por que comecei?
Na lápide de um jovem em um cemitério de Plymouth, Massachussets

Aqui jaz Jonathan Blake, que pôs o pé no acelerador ao invés de botar no freio.
Em um cemitério de Uniontown, Pensilvânia

Aqui deveria estar o corpo de Margareth Bent, que morreu e desapareceu.
Em um cemitério de Dorchetsire, Inglaterra

Era. Não é mais.
Epitáfio de Arthur Haine, em um cemitério de Vancouver, Washington

Aqui jaz Lester Moore, com quatro balas de um Colt 44.
Em um cemitério de Tombstone, Arizona

Eu fui alguém. Quem? Não é da sua conta.
Em um cemitério de Stowe, Vermont

Morto, mas não perdoado.
Epitáfio em um cemitério de Atlanta, Geórgia (escrito pela viúva)

Fui!
Epitáfio de Robert Phillip, em Kingsbride, Inglaterra

Ezekial Aikle, idade: 102 anos – Os bons morrem jovens!
Em um cemitério de East Dalhousie, Nova Escócia

Passei a vida tentando ficar rico. Vou ver se agora – com mais tempo – consigo.
Em um cemitério de Charleston, Carolina do Sul

Eu disse que estava doente!
Em um cemitério da Geórgia

A defesa descansa.
Epitáfio de um advogado em Rockford, Illinois


EPITÁFIOS DE GENTE FAMOSA:

Leia alguns epitáfios engraçados retirados do "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios" de Aran & Castelo.

· Ai, tô morta! (Agnaldo Timóteo)

· Nelson Ned é a puta que o pariu! (Anão Zangado)

· Causa mortis: pneumonia. (Anão Atchim)

· Estou dando para os vermes o que sempre recusei aos homens... (Angélica)

· Do pró ao pó (Arnaldo Jabor)

· Caí do cavalo (Beto Carreiro)

· Isso é uma vergonha! (Bóris Casoy)

· É preciso passar o inferno a limpo. (Idem)

· Cuidado: inflamável (Boris Ieltsin)

· Alguma coisa aconteceu em meu coração (Caetano Veloso)

· Moli (Cebolinha)

· A César o que é de César: um buraco (César Maia)

· Hay que apodrecerse (Che Guevara)

· Pai, viu o que deu não afastar de mim o cálice? (Chico Buarque)

· Ohana nas alturas (Cláudia Ohana)

· Às margens do rio Piedra eu sentei e a-do-rei! (Clodovil)

· No túmulo com Danuza (Danuza Leão)

· Logo hoje que eu estava toda encaralhada, puta que me pariu! (Dercy Gonçalves)

· Finalmente, não preciso fazer mais nada (Dorival Caymmi)

· Atenção, velas, flores e fotos autografadas estão à venda no estande da Igreja Universal, à direita de quem entra no cemitério (Edir Macedo)

· A Sociedade Protetora dos Animais conserva esta área (Edmundo)

· Meu nome era Enéas! (Enéas)

· Não morri, estou fazendo pós-graduação da vida (Fernando Henrique Cardoso)

· Desta vez, doeu demaaaisss! (Gal Costa)

· A complexitude do sincretizamento da afrocrença nagô com a mitologização da catolicitude, não deixa duvidanças: desencarneci. (Gilberto Gil)

· Sempre adorei criança. Malpassada (Herodes)

· Enterrem meu topete na beira do rio (Itamar Franco)

· Foi o único jeito dele pular cerca... (José Rainha)

· Foi culpa da Rede Globo (Leonel Brizola)

· Aqui jaz um malvadinho (Luiz Eduardo Magalhães)

O "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", de Aran & Castelo, Editora Ática - São Paulo, 1996, pág. 61 e seguintes, traz inúmeras sugestões sobre epitáfios, todas engraçadíssimas. Quem prestar atenção ao último e à data em este foi feito, logo pela manhã, não vai achar graça nenhuma (foi na data e hora da morte "dele").


Várias ideias para sua lápide

Aran & Castelo


· O Agrônomo: Favor regar o solo com Neguvon. Evita vermes.

· O Alcoólatra: Enfim, sóbrio.

· O Alcoólico Anônimo: Já que era pra acabar assim, preferia cirrose.

· O Alérgico: Flores no túmulo do lado. Sou alérgico a pólen.

· O Alpinista: Pra cima todo santo ajuda.

· O Arqueólogo: Enfim, fóssil.

· O Assistente Social: Alguém aí, me ajude!

· O Baiano: Finalmente vou descobrir se o Caetano Veloso existe mesmo.

· O Cangaceiro fanho: Tã mi dano um cangaço.

· O Cartunista: Partiu sem deixar traços.

· O Católico: Deus é grande, mas não é dois. É três.

· O Curto e Grosso: Fodeu.

· O Delegado: Tá olhando o quê? Circulando, circulando!

· O Ecologista: Entrei em extinção.

· O Encanador: Aqui gás.

· O Enólogo: Cadáver envelhecido em caixão de carvalho, aroma de formol
  e aftertasling que denota a presença de microorganismos diversos.

· O Espiritualista: Volto já.

· O Fanho: Anqui janz.

· O Funcionário Público: É no túmulo ao lado.

· O Garanhão: Rígido, como sempre.

· O Herói: Corri para o lado errado.

· O Hipocondríaco: Eu não disse que estava doente?

· O Humorista: Isto não tem a menor graça.

· O Jangadeiro Diabético: Foi doce morrer no mar.

· O Jóquei: Cruzei o disco final.

· O Judeu: O que vocês estão fazendo aqui? Quem está tomando conta
  da lojinha?

· O Kamikaze: Cai matando.

· O Latifundiário: Invasores serão expulsos à bala.

· O Lobista: Tudo bem. Eu conheço um cara que é amigo de um primo de
  Deus.

· O Maníaco Sexual: Deixo para trás os melhores ânus da minha vida.

· O Megalomaníaco: Deus estava precisando de uma força.

· O Micreiro: Por favor, me dê um restart.

· A Ninfomaníaca: Uau, esses vermes insaciáveis vão me comer todinha.

· O Obstetra: Morrer é um parto.

· O Otimista: Pelo menos não pago mais imposto de renda.

· O Paulistano: Ôrra, meu, que merda! Até aqui tem fila?!

· O Pessimista: Aposto que está fazendo o maior frio no Inferno.

· O Político de Esquerda: Mortos, fora do cemitério! Terra para quem
  trabalha!

· O Psicanalista: A Eternidade não passa de um complexo de superioridade
  mal resolvido.

· O Sanitarista: Sujou.

· A Sex-Symbol: Agora, só a terra vai comer.

· O Soldado Desconhecido: Quê? Eu seguro a bomba?

· O Viciado: Enfim, pó.


Aran & Castelo, autores do livro "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", já escolheram os seus: "Agora sim, espirituoso" e "Tô fora...", respectivamente. Pode-se dizer que é um tratado sobre epitáfios, sob a ótica do humor. O texto acima foi extraído do livro citado, Editora Ática - São Paulo, 1996, págs. 11 a 56.

Mais idéias para sua lápide

Aran & Castelo

· O Agnóstico: Deus é grande, mas não é dois.
· O Ansioso: Uma cueca limpa, por favor.
· O Ateu: Tão bem vestido e nenhum lugar para ir...
· O Britânico: Morri, presumo.
· O Cego: Aqui onde?
· O Cinéfilo: From Here to Eternity
· O Comunista: O Paraíso não existe. Avisem Karl Marx. Pensando bem, Karl
  Marx também não existe. Esquece.
· O Cri-cri: Volto a insistir: para mim isso foi só um desmaio.
· O Decorador: Aqui repousa Fabinho Darling num caixão lindíssimo de 
  mogno perolado, com luxuosas alças douradas em estilo Luiz XV. Acima,
  mármore de Carrara marrom, combinando com o vaso de cerâmica
  marajoara. As flores são manufaturadas em papel crepom multicolorido e
  pintado à mão.
· O Doente de hemorróidas: Ainda bem que não enterram a gente sentado.
· O Editor: Fora de catálogo.
· O Ejaculador precoce: Eu já esperava por isso, mas não tão rápido.
· O Empreiteiro: Este mausoléu é mais um empreendimento da Construtora
  Odebretch & Corleone, com o apoio do Governo Federal, Estadual e
  Municipal. Consulte nosso corretor.
· O Enrustido: Aqui jaz Sebastião. Tião, para o pessoal da obra. Sebás,
  para os íntimos.
· O Esportista: Asa delta, nunca mais.
· O Favelado: Aqui, mais uma casa própria entregue pela Nossa Caixa,
  Nosso Banco.
· O Feirante: Olha o cadáver fresquinho, dona freguesa!
· O Fotógrafo: Velei.
· O Geólogo: É pau, é pedra, é o fim do caminho.
· O Impotente: De pé, nunca mais.
· O Juiz: Isso não é justo.
· O Mal-humorado: Não incomodem.
· O Místico: À margem do rio Piedra eu sentei e dancei.
· O Pagodeiro: Favor não batucar na lápide.
· O Paranóico: Ta olhando o quê?
· O Proctologista: Tomei no cu.
· O Punk: Enfim, podre.
· O Segurança: Favor deixar o crachá visível.
· O Telegrafista: Fim da mensagem Pt.
· O Workaholic: Podem continuar rezando, que meu celular está tocando.
· O Zumbi: Aqui jazia.

Estamos em pleno clima de guerra! (out/2001). Nunca se sabe o dia de amanhã. Por isso o Releituras dá dicas, a seus inúmeros leitores, de epitáfios cheios de humor. Escolha o seu!
Aran & Castelo, autores do livro "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios", já fizeram suas opções: "Agora sim, espirituoso" e "Tô fora"... O texto foi extraído do livro citado, Editora Ática - São Paulo, 1996, págs. 11 a 56.

 
 

Produção textual: epitáfio

Agora é a sua vez. Escreva um epitáfio, em linguagem sintética, que defina quem você é, ou melhor, era.



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