Leia o texto para responder as questões de 1 a 3.
Pronomes“Antes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu:— Me faz um favor?—O quê?— Você não vai ficar chateado?—O que é?— Não fala tão certo?— Como assim?— Você fala certo demais. Fica esquisito.—Por quê?— E que a turma repara. Sei lá, parece...— Soberba?— Olha aí, ‘soberba’. Se você falar ‘soberba’ ninguém vai saber o que é. Não fala ‘soberba’. Nem ‘todavia’. Nem ‘outrossim’. E cuidado com os pronomes.— Os pronomes? Não posso usá-los corretamente?— Está vendo? Usar eles. Usar eles!O Carlinhos ficou tão chateado que, junto com a turma, não falou nem certo nem errado. Não falou nada. Até comentaram:— O Carol, teu namorado é mudo?Ele ia dizer ‘Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado’, mas se conteve a tempo. Depois, quando estavam sozinhos, a Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava.— Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos.Aquela voz de cobertura de caramelo.”(VERISSIMO, Luis Fernando. Contos de verão. O Estado de S. Paulo, 16 jan. 2000.)
02. Em dois momentos no texto, Carlinhos usa os pronomes corretamente. Em um desses momentos é corrigido pela namorada, que deixa claro o que se espera, em uma situação de informalidade, como utilização “adequada” da colocação pronominal.
a) Transcreva do texto esses dois momentos e justifique, do ponto de vista gramatical, a colocação pronominal utilizada por Carlinhos.
b) Qual seria a utilização dos pronomes esperada pela turma e pela própria Carolina?
03. Carolina pede ao namorado que não fale “certo demais” porque “a turma repara”. E possível afirmar que, segundo a namorada, a maneira de Carlinhos falar poderia parecer esnobe aos amigos dela, uma demonstração de “superioridade linguística”. Poderíamos dizer que esse juízo sobre a maneira de falar de Carlinhos é a manifestação de “um preconceito lingüístico às avessas”. Em que ele se baseia?
04. (Enem-MEC) O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos a seguir.
PronominaisDê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom brancoda Nação BrasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarroANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1998.
“Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja reproduzir a fala dos personagens [...].“01. O pedido feito por Carolina a Carlinhos se baseia na definição da fala do namorado como “certa demais”. O que isso significa? Justifique sua resposta.CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980.
Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos
a) Condenam essa regra gramatical.
b) Acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra.
c) Criticam a presença de regras na gramática.
d) Afirmam que não há regras para uso de pronomes.
e) Relativizam essa regra gramatical.
Leia o texto para responder as questões de 5 a 8.
Papos“— Me disseram...— Disseram-me.— Hein?O correto é ‘disseram-me’. Não ‘me disseram’.— Eu falo como quero. E te digo mais... ou é ‘digo-te’?—O quê?— Digo-te que você...— O ‘te’ e o ‘você’ não combinam.— Lhe digo?— Também não. O que você ia me dizer?— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara.Como é que se diz?— Partir-te a cara.— Pois é. Partir-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.— E para o seu bem.— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...—O quê?— O mato.— Que mato?— Mato-o. Mato-lhe. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?— Eu só estava querendo...— Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo é elitismo!— Se você prefere falar errado...— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?— No caso... não sei.— Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?— Esquece.— Não. Como ‘esquece’? Você prefere falar errado? E o certo é ‘esquece’ ou ‘esqueça’? lumine-me. Mo diga. Ensines-lo-me, vamos.— Depende.— Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.— Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.— Agradeço-lhe a permissão para falar errado que me dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.—Porquê?— Porque, com todo esse papo, esqueci-lo.”VERISSIMO, Luis Fernando. Novas comédias da vida pública — A versão dos afogados. Porto Alegre: L&PM, 1997.
05. Esse texto de Luis Fernando Verissimo trata, de forma humorística, da adequação ou não, por parte dos falantes, no uso da colocação pronominal. Qual parece ser a intenção do cronista ao tratar do assunto?
06. Quando um dos interlocutores do texto afirma que o correto é “disseram-me” e não “me disseram”, está fazendo referência a uma das regras da gramática normativa para a colocação pronominal.
a) De que regra trata a correção feita no texto?
b) Em uma conversa informal, como é o caso do texto transcrito, essa correção é adequada? Justifique sua resposta.
07. O interlocutor que é corrigido, ao tentar, ironicamente, utilizar a colocação pronominal de forma adequada, comete alguns equívocos. Quais as incorreções presentes nos trechos “vê se esquece-me” e “não sabes-o”?
08. Quando um dos interlocutores afirma que “pronome no lugar certo é elitismo”, traz à tona uma interessante discussão sobre o uso da colocação pronominal segundo as regras da norma culta. Se observarmos atentamente o texto, perceberemos que, ao tentar adequar-se a essas regras, o falante passa a adotar, preferencialmente, a colocação enclítica e a mesoclítica. De que forma a opção por essas duas posições do pronome na frase confirmaria o “elitismo” a que se refere o texto?
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