Texto I
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava
essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim
do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e
os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho
E que meu pai chamava exílio.
A doença
(Manoel de Barros)
Nunca morei longe do meu país.Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava
essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim
do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e
os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho
E que meu pai chamava exílio.
1- A respeito da doença de que trata o título do poema de Manoel de Barros, não é correto afirmar que:
(A)a doença é de natureza conotativa, e está relacionada à sensação de distância experimentada pelo eu-lírico;
(B) a doença é de natureza conotativa, visto que é apenas uma transposição do valor referencial do vocábulo doença para o campo figurado;
(C) a doença é de natureza denotativa, e pode ser localizada no campo dos transtornos mentais;
(D)a doença a que se refere o texto é denominada “lonjuras”;
(E) alguns itens lexicais empregados no texto colaboram para a construção da temática relacionada à doença.
2- O campo semântico relacionado à doença é construído pelo emprego dos seguintes vocábulos:
(A)pessoas, doença, transmitiu, portavam;
(B) padeço, borboletas, exílio, transmitiu;
(C) pessoas, pé, costas, olho;
(D)padeço, doença, transmitiu, portavam;
(E) padeço, doença, transmitiu, constavam.
3 - A respeito da estrutura “ (...) lugar que dava essa doença nas pessoas”, pode-se afirmar que:
(A)a estrutura está de acordo com o padrão culto gramatical, visto que o pronome relativo “que”, que retoma “lugar”, é o sujeito do verbo “dar”;
(B) a estrutura está de acordo com o padrão culto gramatical, já que o verbo “dar” assume o valor de “distribuir” e tem, como objeto direto, a expressão adjetiva “essa doença”;
(C) a estrutura padrão culta correspondente é “lugar em que dava essa doença nas pessoas”, tendo em vista que “essa doença” é complemento do verbo “dar”, que tem valor de “oferecer”;
(D)a estrutura padrão culta correspondente é “lugar o qual dava essa doença nas pessoas”; e “essa doença” é sujeito do verbo “dar”, que tem valor de “acometer”;
(E) a estrutura padrão culta correspondente é “lugar em que dava essa doença nas pessoas”; “essa doença” é sujeito do verbo “dar”, que tem valor de “acometer”.
TEXTO II
Fora de si
(Arnaldo Antunes)
Eu fico louco
Eu fico fora de si
Eu fica assim
Eu fica fora de mim
Eu fico um pouco
Depois eu saio daqui
Eu vai embora
Eu fico fora de si
Eu fico oco
Eu fica bem assim
Eu fico sem ninguém em mim
4 - Uma leitura do poema de Arnaldo Antunes em que se articulam os níveis da forma e do conteúdo leva-nos à seguinte observação:
(A)o poema apresenta deslocamento e esvaziamento do eu, perspectiva que corresponde, no nível da forma, a uma subversão no uso de recursos gramaticais;
(B) o poema fala da loucura e, por isso, traz, para o nível da forma, a desconstrução sintática e fonológica típica da fala psicótica;
(C) o poema faz ver o quanto a linguagem poética não pode superar os limites impostos pela língua;
(D)o poema traz deslocamentos físicos e existenciais angustiantes, que repercutem numa espécie de linguagem onde a lógica é rompida pela dor;
(E) o poema trata do vazio existencial do homem moderno, o que, no nível da forma, se reflete nas diversas frases esvaziadas de sentido, nas quais só restam a angústia e a dor.
5 - Os recursos gramaticais que colaboram para a expressão do deslocamento/esvaziamento do eu no texto II são os seguintes:
(A)ausência de concordância de pessoa – 1ª e 3ª – nos domínios verbal e pronominal;
(B) ausência de concordância verbal e utilização de pronomes átonos no lugar de tônicos;
(C) adjetivos que expressam loucura e pronomes de 3ª pessoa;
(D)ausência de concordância na 2ª conjugação verbal e uso de pronomes possessivos;
(E) ausência de concordância de pessoa – 1ª e 3ª – e produtividade da ênclise.
6 - Quanto aos procedimentos estilísticos empregados por Arnaldo Antunes em seu poema, pode-se destacar:
(A)repetição de palavras (anáfora), metáforas e personificação;
(B) rimas, exploração expressiva do desvio sintático e redondilhas;
(C) exploração rítmica e redondilhas;
(D)repetição de palavras (anáfora) e rimas;
(E) exploração de imagens em uma estrutura mínima e ausência de ritmo.
7 - A respeito do comportamento sintático-semântico dos diversos usos do verbo ficar no poema “Fora de si”, pode-se afirmar que:
(A)na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo intransitivo com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo de ligação com o valor de tornar-se;
(B) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo de ligação com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de tornar-se;
(C) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, funciona como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de permanecer;
(D)na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de ser;
(E) na maioria dos empregos, o verbo ficar funciona como verbo de ligação com o valor de tornar-se, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de permanecer.
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