domingo, 20 de novembro de 2011

Ponto de vista - Solar dos príncipes

A literatura contemporânea tem abordado em tom mais incisivo a questão do preconceito. Vamos ler um conto de Marcelino Freire a esse respeito. Se é comum os brancos irem até uma favela e filmarem as coisas de lá, imagine se acontecesse o contrário:


 Solar dos príncipes


Quatro negros e uma negra pararam na frente deste prédio.


A primeira mensagem do porteiro foi: “Meu Deus!” A segunda: “O que vocês querem?” ou “Qual apartamento?” Ou “Por que ainda não consertaram o elevador de serviço?”


“Estamos fazendo um filme”, respondemos.


Caroline argumentou: “Um documentário”. Sei lá o que é isso, sei lá, não sei. A gente mostra o documento de identidade de cada um e pronto.


“Estamos filmando”.


Filmando? Ladrão é assim quando quer sequestrar. Acompanha o dia-a-dia, costumes, a que horas a vítima sai para trabalhar. O prédio tem gerente de banco, médico, advogado. Menos o síndico.


O síndico nunca está.


- De onde vocês são?


- Do Morro do Pavão.


- Vamos gravar um longa-metragem.


- Metra o quê?


Metralhadora, cano longo, granada, os negros armados até as gengivas. Não disse? Vou correr. Nordestino é homem. Porteiro é homem ou não é homem? Caroline dialogou: “A ideia é entrar num apartamento do prédio, de supetão, e filmar, fazer uma entrevista com o morador.”


O porteiro: “Entrar num apartamento”?


O porteiro: “Não”.


O pensamento: “Tô fodido.”


A ideia foi minha, confesso. O pessoal vive subindo o morro para fazer filme. A gente abre as nossas portas, mostra as nossas panelas, merda.


Foi assim que comprei uma câmara de terceira mão, marcamos, ensaiamos uns dias. Imagens exclusivas, colhidas na vida da classe média.


Caroline: “Querido, por favor, meu amor”. Caroline mostrou o microfone, de longe. Acenou com o batom, não sei.


Vou bem levar paulada do microfone? O microfone veio emprestado de um pai-de-santo, que patrocinou.


O porteiro apertou o apartamento 101, 102, 108. Foi mexendo em tudo quanto é andar. Estou sendo assaltado, pressionado, liguem para o 190, sei lá.


A graça era ninguém ser avisado. Perde-se a espontaneidade do depoimento. O condômino falar como é viver com carros na garagem, saldo, piscina, computador interligado. Dinheiro e sucesso. Festival de Brasília. Festival de Gramado. A gente fazendo exibição no telão da escola, no salão de festas do prédio.


Não.


A gente não só ouve samba. Não só ouve bala. Esse porteiro nem parece preto, deixando a gente preso do lado de fora. O morro tá lá, aberto 24 horas. A gente dá as boas-vindas de peito aberto.


Os malandrões entram, tocam no nosso passado. A gente se abre que nem passarinho manso. A gente desabafa que nem papagaio. A gente canta, rebola. A gente oferece a nossa coca-cola.


Não quer deixar a gente estrear a porra do porteiro. É foda. Domingo, hoje é domingo. A gente só quer saber como a família almoça. Se fazem a mesma festa que a nossa. Prato, feijoada, guardanapo. Caralho, não precisa o síndico. Escute só. A gente vai tirar a câmera do saco. A gente mostra que é da paz, que a gente só quer melhorar, assim, o nosso cartaz. Fazer cinema. Cinema. Veja Fernanda Montenegro, quase ganha o Oscar.


- Fernanda Montenegro não, aqui ela não mora.


E avisou: “Vou chamar a polícia”.


A gente: “Chamar a polícia?”


Não tem quem goste de polícia. A gente não quer esse tipo de notícia. O esquema foi todo montado num puta de sacrifício. Nicholson deixou de ir vender churro. Caroline desistiu da boate. Eu deixei esposa, cadela e filho. Um longa não, é só um curta. Alegria de pobre é dura. Filma. O quê? Dei a ordem: Filma.


Começamos a filmar tudo. Alguns moradores posando a cara na sacada. O trânsito que transita. A sirene da polícia. Hã? A sirene da polícia. Todo filme tem sirene de polícia. E tiro, muito tiro.


Em câmera violenta. Porra, Johnattan pulou o portão de ferro fundido. O porteiro trancou-se no vidro. Apareceu gente de todo tipo. E a ideia não era essa. Tivemos que improvisar.


Sem problema, tudo bem.


Na edição, a gente manda cortar.






(FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005. pp.23-27)










Assinale a afirmativa INCORRETA sobre o conto:


A) O título da narrativa refere-se, provavelmente, ao nome do prédio que os negros desejam visitar;


B) O ponto de vista está centrado exclusivamente na primeira pessoa, em um dos negros que narra a história;


C) Os estereótipos de que o nordestino trabalha de porteiro e que negros das favelas têm nomes estrangeirados são mantidos no conto;


D) O conto ironiza as relações de classe e de raça, invertendo as situações de pesquisa ou documentação.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Como fazer um gibi

Para desenhar os quadrinhos é preciso, além da inspiração, conhecer algumas técnicas
Se você tem uma idéia incrível para uma história em quadrinhos, já está a meio caminho de conseguir fazê-la. Mas há etapas a serem cumpridas antes de seu gibi ser um sucesso. Veja.

1. Criação dos personagens
Dos protagonistas aos tipos secundários, o autor precisa planejar tudo, para não cair em contradição mais tarde. O ideal é ter em mente cada personagem, com a personalidade, o aspecto físico, o estilo das roupas, os vícios e as virtudes. Nessa fase, o artista deve desenhar cada um dos tipos em posições variadas e em expressões faciais bem marcadas. Treinando o seu traço não haverá perigo de, ao longo da história, o personagem ficar irreconhecível.

2. Argumento e roteiro

O argumento é a idéia geral da história, com começo, meio e fim. Quando é trocado em miúdos, tem-se o roteiro, que deve ser planejado quadro a quadro. Nessa fase as páginas são diagramadas, as cenas descritas e os diálogos finalmente definidos.

3. Desenho

A lápis, as linhas de todos os elementos das páginas são marcadas ­ personagens, cenários, balões (já no caso dos textos, escritos a lápis), onomatopéias (palavras que reproduzem sons naturais, como Tchibum! Pou! Crás! ) e os contornos dos quadrinhos.

4. Letras

Com tinta nanquim (seus alunos podem usar uma caneta hidrográfica preta de ponta fina), o texto dos balões e as onomatopéias são finalizados. Os profissionais trabalham com páginas cujo espaço para letras já vem pré-marcado. Um erro muito comum para quem está começando é entusiasmar-se demasiadamente e desenhar todo o quadrinho antes de decidir o texto que acompanhará a imagem. Quando chega a hora de preencher os balões, descobre-se que o espaço é curto. Aí é tarde. Planeje, então, o desenho e o texto simultaneamente. O melhor modo de fazer isso é checar e rechecar o seu roteiro.

5. Arte-final

Como as letras, os demais elementos gráficos recebem a tinta preta, cobrindo cuidadosamente os traços a lápis e corrigindo eventuais falhas. Você pode optar por usar caneta ou pincel. Para dar efeito de luz e sombra, pode-se hachurar ou pontilhar. Nos quadrinhos de autor, o arte-finalista e o desenhista são a mesma pessoa.

6. Cor

A última etapa antes da impressão do gibi é a colorização dos quadrinhos. Os desenhistas profissionais vêm usando cada vez mais programas gráficos de pintura por microcomputador. Na classe, os alunos podem optar entre os lápis de cor, as canetinhas ou outras técnicas de pintura que já tenham sido trabalhadas em sala de aula.

Para ler mais

Livros sobre gibis trazem desde análises profissionais até piadas sobre super-heróis
Há uma boa bibliografia para quem quiser aprofundar-se no estudo dos gibis, conforme você pode conferir abaixo.
Como Fazer Histórias em Quadrinhos, de Juan Acevedo Global Editora, 1990. O autor organizou uma oficina de quadrinhos para crianças e, com base nessa experiência, ensina no livro os fundamentos práticos da HQ. Tel. (011) 277-7999, 22 reais.
Desvendando os Quadrinhos, de Scott McCloud, Makron Books, 1995. Artista e roteirista premiado, McCloud analisa profundamente a estética e a semiologia dos gibis.
História da História em Quadrinhos (2ª edição), de Álvaro de Moya, Editora Brasiliense, 1993. Em 34 artigos, o professor da Escola de Comunicações e Artes da USP descreve mais de 160 anos de evolução dos quadrinhos no mundo, desde seus precursores até o cenário atual. Tel. (011) 887-8436.
O Homem no Teto, de Jules Feiffer. Companhia das Letras, 1995. Romance juvenil sobre um garoto que sonha ser quadrinista, mas não conta com o apoio dos pais.
A Linguagem dos Quadrinhos, de Moacy Cirne, Editora Vozes, 1971. Estudo detalhado das criações de Mauricio de Sousa e de Ziraldo.
Quadrinhos e Arte Seqüencial, de Will Eisner, Editora Martins Fontes, 1989. Eisner, lenda viva entre os fãs do gênero, disseca a estrutura narrativa das HQs e sugere a aplicação dos quadrinhos em outros setores, como a educação.
Super-herói ­ Você Ainda Vai Ser Um, de Marcelo Duarte, Companhia das Letrinhas, 1996. O divertido jornalista revela os segredos dos personagens mais musculosos e poderosos dos quadrinhos
Fontes:
Revista Nova Escola. abril de 1998. Reportagem de Capa. edição 111

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Exercícios literários - literatura afro-brasileira

Texto I
Essa Negra Fulô
O sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
(…)
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou,
Foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
Jorge de Lima

Questão 01
É possível inferir do texto I que:
a) A temática social explorada pelo autor não toca na problemática racial, visto que no século XX, quando o poema foi escrito, isso já não havia mais.
b) A sensualidade da mulher negra aparece explorada no texto como forma de justificar a fraqueza do homem branco diante de tamanha abundância de formas em que se vê irremediavelmente perdido, pois, sozinho, não consegue resistir à tentação da carne.
c) O trecho é um bom exemplo de como era vista a mulher negra dentro daquele contexto social racista do homem branco: ela servia sempre de escrava sexual para ele.
d) O ato de açoitar a negra Fulô sem a presença de testemunhas pode ser um indicativo de que já havia uma intenção sexual implícita por parte do Sinhô.
e) O fato de o Sinhô fugir com a negra Fulô, deixando a Sinhá abandonada, procura mostrar como o cruzamento de raças se dava naquele tempo. Mostra, também, que a mulher branca não conseguia competir sexualmente em relação à mulher negra, pois as mulheres brancas eram mais reservadas na área sexual.

Questão 02

Texto II
OUTRA NEGA FULÔ
O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
— ou será que era a mesma?
A nega tirou a saia,
a blusa e se pelou.
O sinhô ficou tarado,
largou o relho e se engraçou.
A nega em vez de deitar
pegou um pau e sampou
nas guampas do sinhô.
— Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!,
dizia intimamente satisfeito
o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.
E a mãe-preta chegou bem cretina
fingindo uma dor no coração.
— Fulô! Fulô! Ó Fulô!
A sinhá burra e besta perguntou
onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
— Ah, foi você que matou!
— É sim, fui eu que matou —
disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela pro mato, e com ele
aí sim ela deitou.
Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!
SILVEIRA, O. Outra nega fulô. Cadernos negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 109-110.

Com base no poema, é verdadeiro o que se afirma nas seguintes proposições:
( ) O título do poema contextualizado — Outra nega Fulô — conduz a uma leitura de que a relação senhor/escrava persiste nos mesmos moldes escravistas dos séculos passados.
( ) O verso 12 — “Esta nossa Fulô!” —, reiterado no final do poema, evidencia um sujeito-poético afro-brasileiro, com suas ideias e sentimentos.
( ) O poema dialoga explicitamente com “Essa negra Fulô”, escrita pelo poeta Jorge de Lima.
( ) O uso de uma linguagem simples, informal, e a rejeição à gramática normativa constituem características da poética moderna presentes no texto.
( ) O poema reitera o estereótipo depreciativo da “Nega Fulô”, que se deita com o “sinhô”.

a) F V V V F
b) V F V F F
c) V V V F F
d) F F V V F
e) V V F V F

Questão 03
Os versos do texto I são do poema Essa Nega Fulô, que faz parte da chamada poesia negra de Jorge de Lima. Trata-se de um poema ______.
a) descritivo
b) abolicionista
c) dissertativo
d) narrativo
e) épico

Questão 04
Tendo como base o texto I como exemplo do Modernismo de 30, só não se pode afirmar que:
a) Os modernistas procuraram estabilizar suas conquistas e dar ênfase às questões sociais e à introspecção.
b) Os poetas que se destacaram no início da década de trinta, já semeavam num campo preparado pela geração de vinte e dois.
c) A geração de trinta, despreocupada com as questões imediatas de vinte e dois, ( o nacionalismo, o folclore, a destruição do passado, etc.), volta-se para as questões universais do homem, o “desconcerto do mundo” e os problemas da sociedade capitalista.
d) A religiosidade e o misticismo também são incorporados na obra de alguns poetas, como Jorge de Lima, Murilo Mendes e Cecília Meireles.
e) A partir de trinta, a poesia brasileira adquire preocupações esteticistas, através de uma geração que procurou restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação verbal.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lambada da ortografia

Jogo da nova ortografia

O jogo é composto de um conjunto de perguntas objetivas, cada uma delas com quatro opções de resposta. Ao final dele, você receberá um feedback sobre seu desempenho no desafio como um todo.



 

As meta-regras de coerência


COERÊNCIA TEXTUAL

Dos trabalhos que desenvolvem os aspectos da coerência dos textos, o de Charolles (1978) é frequentemente citado em estudos descritivos e aplicados. Partindo da noção de textualidade apresentada por Beaugrande e Dressier, Charolles também entende a coerência como uma propriedade ideativa do texto e enumera as quatro meta-regras que um texto coerente deve apresentar:

1. Repetição: Diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso. Um texto coerente tem unidade, já que nele há a permanência de elementos constantes no seu desenvolvimento. Um texto que trate a cada passo de assuntos diferentes sem um explícito ponto comum não tem continuidade. Um texto coerente apresenta continuidade semântica na retomada de conceitos, ideias. Isto fica evidente na utilização de recursos linguísticos específicos como pronomes, repetição de palavras, sinônimos, hipônimos, hiperônimos etc. Os processos coesivos de continuidade só se podem dar com elementos expressos na superfície textual; um elemento coesivo sem referente expresso, ou com mais de um referente possível, torna o texto malformado.

2. Progressão: O texto deve retomar seus elementos conceituais e formais, mas não deve limitar-se a isso. Deve, sim, apresentar novas informações a propósito dos elementos mencionados. Os acréscimos semânticos fazem o sentido do texto progredir. No plano da coerência, percebe-se a progressão pela soma das ideias novas às que são já tratadas. Há muitos recursos capazes de conferir sequenciarão a um texto.

3. Não-contradição: um texto precisa respeitar princípios lógicos elementares. Não pode afirmar A e o contrário de A. Suas ocorrências não podem se contradizer, devem ser compatíveis entre si e com o mundo a que se referem, já que o mundo textual tem que ser compatível com o mundo que representa. Esta não-contradição se expressa nos elementos linguísticos, no uso do vocabulário, por exemplo. Em redações escolares, costuma-se encontrar significantes que não condizem com os significados pretendidos. Isso resulta do desconhecimento, por parte do emissor, do vocabulário a que recorreu.

4. Relação: um texto articulado coerentemente possui relações estabelecidas, firmemente, entre suas informações, e essas têm a ver umas com as outras. A relação em um texto refere-se à forma como seus conceitos se encadeiam, como se organizam, que papeis exercem uns em relação aos outros. As relações entre os fatos têm que estar presentes e ser pertinentes.


Exercícios
1. Identifique, em cada um dos textos a seguir, a meta-regra de coerência que foi infringida. Em alguns casos, mais de uma meta-regra foi infringida. Tente estabelecer a principal. (Estes textos foram retirados de PETRAS. O melhor do besteirol.)

a.              “É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele construiu com suas próprias mãos”.  (Político, em um discurso, homenageando Lincoln)
b.              “Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for suficiente, na segunda parte damos o resto”. (Yogi Berra, jogador norte-americano de beisebol, famoso por suas declarações esdrúxulas)
c.              “Mantle rebate com as duas mãos porque é anfíbio”. (idem)
d.             “Alguma força sinistra entrou, aplicou uma outra fonte de energia e apagou as informações contidas na fita”. (Alexandre Haig, oferecendo ao juiz John Sirica uma teoria sobre um “buraco” de 18,5 minutos nas fitas de Nixon, durante o caso Watergate).
e.              “Nós não temos censura. O que temos é uma limitação do que os jornais podem publicar”. (Louis Net, ex-vice-ministro da Informação da África do Sul).
f.              “Substituição de bateria: substitua a bateria velha por uma bateria nova”. (Instrução em manual de aparelho elétrico).
g.               “Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falando em um comício em Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres).
h.             “Por que os judeus e árabes não podem se reunir e discutir a questão como bons cristãos?” (Arthur Balfour, estadista britânico, primeiro-ministro e ministro do Exterior).
i.               “Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o resultado é o desemprego”. (Calvin Coolidge, presidente americano em 1931).
j.               “Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o cara que o perdeu e, se ele fosse pobre, devolveria”. (Yogi Berra).
k.              “Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores trabalha e a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece justamente o contrário”. (Diretor de empresa, defendendo membros do seu staff).
l.               “Um homem não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, a menos que ele seja uma ave”. (Sir Boy Roche, deputado representante de Tralee no Parlamento Britânico).
m.           Precisamos de leis que protejam a todos. Homens e mulheres, normais e bichas, qualquer que seja sua perversão sexua...ahn, preferência. (Bella Abzug, político de Nova Iorque, em um comício em defesa da Emenda dos Direitos Iguais).
n.             “Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que mais tarde se viu que eram inverídicas” (Presidente Nixon, em depoimento durante as investigações do caso Watergate).
o.             “Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado fazendo isso será processado”. (Tabuleta numa estação ferroviária).
p.              “Aproximadamente 80% da poluição do ar são causados por hidrocarbonetos liberados pela vegetação, de modo que não vamos exagerar e criar, e exigir o cumprimento de padrões rigorosos de emissão por fontes artificiais” (Presidente Ronald Reagan).
q.              “Quando dois trens se aproximarem em um cruzamento, ambos devem parar por completo e nenhum dos dois iniciar viagem até que o outro tenha passado” (De uma lei do Kansas).





Textos jornalísticos


1. Os trechos a seguir foram retirados de jornais. Indique quais são parte de uma notícia (ou reportagem) e quais são parte de um artigo de opinião:

Trecho I: "(...) O Brasil precisa de agricultura livre de transgênicos para suprir o mercado interno com alimentos saudáveis e baratos e, depois, vender aos ricos mercados da Europa, Japão e China, que rejeitam OGMs. (Organismos Geneticamente Modificados) Eles pagam até 10% a mais para se ver livres do milho 'frankenstein'*. A soja certificada como não-transgênica recebe dos europeus prêmio de até 8 dólares por tonelada (...)."

Trecho II: "(...) A discussão em torno da possível criação de uma zona livre da plantação de grãos transgênicos nos Estados do Paraná e de Santa Catarina causou reação do governo do Rio Grande do Sul. Enquanto paranaenses e catarinenses analisam supostas vantagens econômicas com a produção de alimentos sem modificação genética, gaúchos apostam que os produtores irão rejeitar determinações contrárias à libertação do cultivo de sementes transgênicas (...)."

Trecho III: (...) Na última safra, mais de 80% da soja plantada no Estado (RS) foi transgênica. Os agricultores gaúchos esperam a decisão do governo para saber se poderão utilizar sementes do organismo modificado geneticamente para a próxima safra ou não. Publicamente, já disseram que, mesmo que sem permissão, pretendem repetir o uso (...)."

2. Justifique sua resposta à questão anterior dizendo por que definiu os textos como notícia ou como artigo de opinião.

3. Qual o assunto dos três textos?

4. Identifique nos trechos de opinião qual questão está sendo discutida e qual a posição do autor em relação a ela.

UNIDOS POR UMA MESMA LÍNGUA


Já não se fala mais português como antigamente. Todos os brasileiros que vão a Portugal voltam impressionados com as diferenças de expressões entre os dois países irmãos. Com o passar do tempo, deixamos de usar várias palavras, eles lá inventaram novas e nós aqui criamos também um monte delas. A verdade é que, se hoje um repórter português viesse de Portugal para o Brasil para fazer uma entrevista com o presidente Itamar, é bem provável que os dois necessitassem de um bom intérprete.

Repórter: Vossa excelência já deita ao desprezo o corrido nas celebrações do mardigras ou sente-se ressabiado?

Intérprete: O senhor não dá mais importância ao que aconteceu nas comemorações do Carnaval ou ainda está aborrecido?

Itamar: Claro que dou, mas o que interessa é desaparecer a miséria do nosso povo.
Intérprete: Óbvio que sim, porém o que me apetece é escafeder-se a dependura da nossa plebe.

Repórter: Consta cá que alguns dos seus ministros vivem a dize-tu-direi-eu. Vossa excelência não acha que é contra?

Intérprete: Dizem por aqui que alguns dos seus ministros vivem em grande discussão. O senhor não acha que isso é ruim?

Itamar: É mentira.

Intérprete: É peta.

Repórter: Pois. Se calhar também é peta o paredão dos voadores e hospedeiras que cá por pouco ocorreu?

Intérprete: Sei. Vai ver que também é mentira a greve dos pilotos e das aeromoças que aqui quase aconteceu?

Itamar: Não, não é mentira. Como também não é mentira acontecer greves dos bancários.
Intérprete: Quais peta quais nada. Como por suposto não é peta ocorrer paredões de amanuenses dos armazéns de finanças.

Repórter: E a inchação?

Intérprete: E a inflação?

Itamar: A inflação está sendo combatida. Temos agora um plano sensacional.
Intérprete: A inchação está a ser fustigada. Possuímos de momento um projeto bestial.
Repórter: E a questão do recato de feira no setor dos ordenadores? De que forma arranjou-se?
Intérprete: E o problema da reserva de mercado na área dos computadores? De que jeito foi solucionado?

Itamar: Pois não, isso não existe mais.

Intérprete: Pois sim, isto cá já não há.

Repórter: Por suposto a USA está a querer atalaiar as taxas sobre os vossos productos como os calçados de cabedal?

Intérprete: É claro que os Estados Unidos estão querendo controlar os impostos sobre os seus produtos, como os sapatos de couro.

Itamar: É.

Intérprete: Sim.

Repórter: Grato. Soube-me muito bem o cafezinho e a conferência.

Intérprete: Obrigado. Gostei muito do cafezinho e da entrevista.

Itamar: Não há de quê.

Intérprete: Não há de quê.

Repórter: Mas que coincidência, pá! Então vocês cá também dizem não há de quê?

......................
(Revista Veja, 15/03/1994: 22).In: TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2 º graus. São Paulo: Cortez, 1996.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O pitoresco na justiça

(Num de seus inúmeros depoimentos na Justiça, Zé da Ilha, "o Saudoso", prestou esta declaração.)

Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi esquiar e caçar uma outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho de sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira, e troquei por centavos um embrulhador. Quando então vi as novas do embrulhador, plantado como um poste bem na quebrada da rua, veio uma pára-queda se abrindo. Eu dei a dica, ela bolou. Eu fiz a pista, colei. Solei, ela bronquiou. Eu chutei. Bronquiou mas foi na despistas porque, muito vivaldino, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando. Morando na jogada, o Zezinho aqui, ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou a amarração dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e procurei engrupir o pagante, mas sem esperar recebi um cataplum no pé do ouvido. Aí, dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça, uma muquecada nos amortecedores e taquei os dois pés na caixa da mudança, pondo por terra. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai muito rápido, virou pulga e fez a Dunquerque, pois vermelho não combinava com a cor do meu linho. Durante o boogie, uns e outros me disseram que o sueco era tira e que iria me fechar o paletó. Não tenho vocação pra presunto e corri. Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem vazio, da Lapa, precisamente às quinze para a cor de rosa. Como desde a matina não tinha engulido gordura, o ronco do meu pandeiro estava me sugerindo sarro. Entrei no china pau e pedi um boi à Mossoró com confeti de casamento e uma barriguda bem morta. Engolia a gororoba e como o meu era nenhum, pedi ao caixa pra botá no pindura que depois eu ia esquentar aquela fria. Ia me pirá quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do mangue, foi direto ao médico legal pra me esculachar. Eu sou preto mas não sou o Gato Félix, me queimei e puxei a solingem. Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América. Aproveitei a confusão pra me pirá, mas um dedo duro me apontou aos xipófagos e por isto estou aqui.

Atordoado, o juiz mandou chamar um "tradutor" que esclareceu o seguinte:


Tradução do depoimento

— Senhor Doutor, a história foi a seguinte: depois que fui abandonado por minha companheira, resolvi procurar uma outra que me preparasse a comida e lavasse meus ternos. Quando caminhava pela rua, entrei num botequim, tomei uma cachaça e comprei um jornal. Depois de ler as notícias do jornal, encostado num poste, na esquina da rua, vi que uma morena se aproximava toda faceira. Olhei-a, ela também. Segui-a de longe e olhando de soslaio para trás, vira que seu companheiro a seguia. Percebendo o jogo, fiquei de longe e vi quando ele a segurou pelo braço e mandou-a para casa. Fui saindo, mas antes de poder me afastar mais, o amásio da moça me agrediu. Revidei dando-lhe com o sapato um chute no peito, um soco no maxilar e de um salto, com outro chute no peito, joguei-o por terra. Ele sacou sua arma e atirou, mas eu já havia fugido, porque o sangue não combinava com a cor do meu temo. Durante a briga, disseram-me que o moço era policial e me mataria. Não tenho vocação para defunto. Corri e peguei um ônibus, descendo no fim da linha, no Largo da Lapa, precisamente às 15 para as seis horas (hora do crepúsculo). Como desde manhã não havia me alimentado, e meu estômago reclamava, entrei num restaurante chinês e pedi um bife a cavalo com arroz e urna cerveja preta bem gelada. Tomei a refeição e como não tinha dinheiro, pedi ao caixa para assentar no caderno que depois eu pagaria a conta. Ia sair quando o policial apareceu. Disse que eu era malandro, e foi direto ao cozinheiro para falar mal de mim. Eu sou preto, mas não sou Gato Félix, fiquei aborrecido e puxei da navalha. Agredi o meu rival. Ele ficou todo ensanguentado. Aproveitei a confusão para fugir, mas alguém me delatou apontando-me aos "Cosme e Damião" e por isto eu estou aqui.

MARCUSCHI, Luiz Antônio: Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2007.

Exercícios de coesão e coerência 3


1. As frases abaixo apresentam problemas de coesão textual. Identifique o problema e depois reescreva as frases, tornando-as coesas.

a) Mais de cinquenta mil pessoas compareceram ao estádio para apoiar o time onde seria disputada a partida final.

b) Não concordo em nenhuma hipótese com seus argumentos, pois eles vão ao encontro dos meus.

c) A casa, que ficava em uma região em que fazia bastante frio durante o inverno.

d) A plateia, conquanto reconhecesse o enorme talento do artista, ao final do espetáculo aplaudiu-o de pé por mais de cinco minutos.

e) Durante todo o interrogatório, em nenhum momento o acusado não negou que tivesse sido ele o autor do delito.


2. Nas questões abaixo, apresentamos alguns segmentos de discurso se­parados por ponto final. Retire o ponto final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os elementos de coe­são adequados.

a) O solo do Nordeste é multo seco e aparentemente árido. Quan­do caem as chuvas, imediatamente brota a vegetação.

b) Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento e os preços vão disparar.

c) Inverta a posição dos segmentos contidos na questão 2 e use o conetivo apropriado:                 Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca deso­ladora assolou a região sul, principal celeiro do país.           

d) O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas chuvas inundaram a cidade.

3. Os textos a seguir apresentam problemas de coesão por causa do mau uso do conectivo, isto é, da palavra que estabelece a conexão. A pala­vra ou expressão conectiva inadequada vem em destaque. Procure desco­brir a razão dessa impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.

a) Em São Paulo já não chove há mais de dois meses. Apesar de que já se pense em racionamento de água e energia elétrica.

b) As pessoas caminham pelas ruas. Despreocupadas, como se não existisse perigo algum, mas o policial continua folgadamente tomando o seu café no bar.

c) Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado do Maracanã não é dos piores.
d) Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com fome, onde ocorre o grande número de desistências.

Exercícios de coesão

Complete as lacunas do texto a seguir, utilizando, em relação à palavra tartaruga, os mecanismos de coesão que julgar adequados
 
A morte da tartaruga

O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu _______________ com um pau (tinha nojo) e constatou que ________________ tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. “Cui­dado, senão você acorda o seu pai”.  Mas o menino não se conformava. Pegou   ________________ no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava __________________, mas ele respondeu que não queria, queria ____________________, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobrezinho parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte ___________________.

Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremu­nhado, ver de que se tratava. O menino mostrou-lhe __________________. A mãe disse: "Está aí assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei o que faço. Já lhe prometi tudo, mas ele continua berrando desse jeito." O pai examinou a situação e propôs: "Olha, Henriquinho. Se_________________ está morta não adianta mesmo você chorar. Deixa _________________ aí e vem cá com o pai". O garoto depôs cuidadosamente ___________________ junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse: "Eu sei que você sente muito a morte _________________. Eu também gostava muito ________________ . Mas n6s vamos fazer pra _________________ um grande funeral." (Empregou de prop6sito a palavra difícil.) O menininho parou imediatamente de chorar. "Que é funeral?". O pai lhe explicou que era um enterro. "Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastantes balas, bombons, doces e voltamos pra casa. Depois botamos _______________ na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o 'Happy­-Birth-Day-To-You' pra ________________ e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos ____________________ e botamos uma pedra em cima com o nome _______________e o dia em que ________________morreu. Isso é que é funeral! Vamos fazer isso?" O garotinho estava com outra cara. "Vamos, papai, vamos!              _________________vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar _________________. " Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. "Papai, papai, vem cá, ___________________está viva!" O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. _________________ estava andando de novo, normalmente. "Que bom, hein?" - disse -" ________________ está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!" "Vamos sim, papai" - disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande - "Eu mato      ___________________ ."

Moral: O importante não é a morte, é o que ela nos tira.

(Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro, Nórdica, 1979).

Exercícios de coesão e coerência 2

Leia e responda.

1-      Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando em relação à palavra Vera, os mecanismos de coesão que julgar adequados.

Desde cedo o rádio noticiava: um objeto voador não identificado estava provocando pânico entre os moradores de Valéria. A primeira reação de Vera foi sair da cama e correr para o porto. Fazia seis meses que Vera andava trabalhando em Parintins. Vera levantava cedo todos os dias e passava a manhã inteira conversando com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Vera estava em Parintins, tentando convencer os trabalhadores a mudar a técnica do plantio da várzea.

2-      Reescreva as orações usando elementos de coesão para elaborar um texto com elas:
a)      Os homens não ficam deslumbrados na frente de uma vitrine.
b)      Eles não compram por impulso. Não têm paciência para a burocracia do crediário.
c)      O público feminino sente uma atração irresistível pelas ofertas e liquidações do mercado consumidor.
d)     As propagandas normalmente são direcionadas às mulheres.
e)      As mulheres têm papel importante na decisão de compra de um homem.
f)       Eles dizem que as mulheres têm bom gosto, conhecem marcas e sabem se um produto é bom, caro ou barato.

3-      Quando o treinador Leão foi escolhido para dirigir a seleção brasileira de futebol, o jornal Correio Popular publicou um texto com muitas imprecisões, do qual conta a seguinte passagem:

“Durante a sua carreira de goleiro, iniciada no Comercial de Ribeirão Preto, sua terra natal, Leão, de 51 anos, sempre impôs seu estilo ao mesmo tempo arredio e disciplinado. Por outro lado, costumava ficar horas aprimorando seus defeitos após os treinos. Ao chegar à seleção brasileira em 1970, quando fez parte do grupo que conquistou o tricampeonato mundial, Leão não dava um passo em falso. Cada atitude e cada declaração eram pensados com um racionalismo típico de sua família, já que seus outros dois irmãos, Edmílson, 53 anos, e Édson, 58, são médicos.” (Correio Popular, Campinas, 20 out. 2000.)


a)      O que aconteceria com Leão se ele, efetivamente, ficasse “aprimorando seus defeitos”? Reescreva o trecho de maneira que seja eliminado o equívoco.


b)      A expressão “por outro lado”, no início do segundo período, contribui para tornar o trecho incoerente. Por quê?


4. Construa uma nova versão para o texto a seguir, utilizando, em relação à palavra baleia, os mecanismos de coesão que julgar adequados.

Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e até há pouco ne­nhum oceanógrafo ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticariam uma espécie de eu­tanásia instintiva. Segundo outra, as baleias se desorientariam por influência de tempes­tades magnéticas ou de correntes marinhas.

5. Nestas questões ocorrem alguns fragmentos narrativos que apresentam algum tipo de incoerência. Tente identificar e explicar o tipo de incoerência que você vê.


1- Devo confessar que morria de Inveja de minha coleguinha por causa daquela boneca que o pai lhe trouxera da Suécia: ria, chorava, balbuciava palavras, tomava mamadeira e fazia xixi. Ela me alucinava. Sonhei com ela noites a fio. Queria dormir com ela uma noite que fosse.

Um dia, minha vizinha esqueceu-a em minha casa. Fui dor­mir e, no dia seguinte, quando acordei, lá estava a boneca no mes­mo lugar em que minha amiguinha havia deixado. Imaginando que ela estivesse preocupada, telefonei-lhe e ela mais do Que de­pressa veio buscá-la.

2- Conheci Sheng no primeiro colegial e aí começou um namo­ro apaixonado que dura até hoje e talvez para sempre. Mas não gosto da sua família: repressora, preconceituosa, preocupada em manter as milenares tradições chinesas. O pior é que sou brasileira, detesto comida chinesa e não sei comer com pauzinhos. Em ca­sa, só falam chinês e de chinês eu só sei o nome do Sheng.

No dia do seu aniversário, já fazia dois anos de namoro, ele ganhou coragem e me convidou para jantar em sua casa. Eu não podia recusar e fui. Fiquei conhecendo os velhos, conversei com eles, ouvi multas histórias da família e da China, comi tantas coi­sas diferentes que nem sei. Depois fomos ao cinema eu e o Sheng.

3- Era meia-noite. Oswaldo preparou o despertador para acor­dar às seis da manhã e encarar mais um dia de trabalho. Ouvin­do o rádio, deu conta de que fizera sozinho a quina da loto. Fora de si, acordou toda a família e bebeu durante a noite inteira. Às quinze para as seis, sem forças sequer para, erguer-se da cadeira, o filho mais velho teve de carregá-lo para a cama. Não tinha mais força nem para erguer o braço.

Quando o despertador tocou, Osvaldo, esquecido da loteria, pôs-se Imediatamente de pé e, ia preparar-se para ir trabalhar. Mas o filho, rindo, disse: pai, você não precisa trabalhar nunca mais na vida.

O quarto espelha as características de seu dono: um esportis­ta, que adorava a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades Intelectuais: Por toda a parte, havia sinais disso: raque­tes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesi­nha, as obras completas de Shakespeare.

6. Os textos seguintes são trechos de redações de alunos citados por Maria Thereza Fraga Rocco em seu livro Crise na linguagem; a redação no vestibular. Neles há algum tipo de incoerência. Aponte-a e comente-o.
a) "Pelo tarde chegou uma carta a mim endereçada, abri-a correndo sem nem tomar fôlego. O envelope não tinha nada dentro, estava vazio. Dentro só tinha uma folha, em branco."
b) "Eu não ganhei nenhum presente, só ganhei uma folha em bronco, meu retra­to de pôster e um disco dos Beatles.”.
c) "Pela manhã recebi uma carta repleta de conselhos. Era uma carta em branco e não liguei para os conselhos já que conselhos não interessam para mim pois sei cuidar da minha vida."

Exercícios de coesão e coerência


O perigoso vírus



Não sei se é verdade, mas circula um boato nos meios da informática de que está sendo preparado um novo vírus de computador, feito especialmente para interferir nos programas que escrevem os discursos do presidente. A característica mais fantástica desse vírus é que sua influência, ao contrário dos outros, não aparece dentro da máquina, mas apenas na hora que ele é instalado no teleprompter, aparelho que permite às pessoas ler olhando diretamente para a televisão. É o que se usa normalmente nos telejornais, e teme-se que o vírus depois se propague, mas a intenção inicial é colocá-lo apenas para os discursos presidenciais. Não há dúvida de que esse vírus vai revolucionar e dinamizar todos os pronunciamentos feitos à nação.

Os testes realizados têm sido muito promissores mas ainda faltam alguns aperfeiçoamentos, pois, por mais que mexam na programação, o vírus ainda insiste em dar algum nexo a certos trechos do discurso. Os técnicos acham que esse pequeno problema poderá ser resolvido em pouco tempo, inclusive com o auxílio do próprio texto dos pronunciamentos. Já fico pensando nas maravilhas que poderiam acontecer. Oito horas da noite, todos sentados em frente à televisão, ansiosos pelas palavras do presidente, entra o emblema anunciando a cadeia nacional, contam-se os segundos regressivos e aparece a imagem simpática e descontraída do presidente Itamar. Olha direto para a câmara e começa:

“Senhoras e senhores, moços e moças. É fundamental, antes de mais nada, que neste pronunciamento eu informe à nação que o rato roeu a roupa do rei de Roma.
Mas só os pessimistas não percebem que isso nunca impedirá o nosso desenvolvimento porque, enquanto a aranha arranha a jarra, a jarra a aranha arranha.

É claro que ainda não dominamos a inflação, mas continua a nossa luta contra esse monstro, esse pato, que papou a pinta do Pluto, e o papa, num papo, passou um pito no Pepe, que pintava pipa no pé da papaia.

Aos detratores da nossa política econômica, respondo que o nosso desenvolvimento jamais se fará farinha farinhada, porque não esfarela farofa; de farofeiro fazendo farol, e às favas o povo.

Evidentemente que o Brasil é um país de características próprias, pois se aqui nevasse aqui se usava esqui, mas como aqui não neva aqui não se usa esqui.

Não posso deixar de dizer também que não sou daqueles que se intimidam na hora da batalha. Quanto maior o desafio, maior o meu empenho prenhe de pinho de pamonha do pampa.

Finalmente, para terminar, pois já está na hora da novela, afirmo que é claro que, quando aqui cheguei, constatei na hora que aqui há eco e que aqui o eco há. E aos céticos que me perguntarem: "O quê? Aqui há eco? Aqui há eco? Que eco é?" Eu respondo sem medo: "É o eco que há cá!'' (Veja. 2/2/94)


1) O texto presidencial se torna engraçado porque, ao término de cada parágrafo, ocorrem "quebras" que surpreendem o leitor. Que tipo de surpresa é essa?


2) Do ponto de vista da textualidade, as "quebras" que ocorrem no texto são de coesão ou de coerência? Justifique com base no texto.


3) Identifique, nos três primeiros parágrafos do texto, marcas de coesão textual que indiquem:
a) temporalidade:

b) causalidade:

c) simultaneidade:

d) oposição:


4) A textualidade só pode ser avaliada no contexto discursivo para o qual o texto foi produzido.


a) Considerando a situação em que o presidente fala à nação, o texto seria incoerente? Por quê?


b) Considerando que o discurso do presidente faz parte de uma crônica de um conceituado humorista, publicada numa revista de grande circulação nacional, o texto seria incoerente nesse outro contexto?


c) Qual seria, então, a função das "quebras" lógicas no texto?