Leia os dois textos a seguir - o primeiro foi tirado da obra "A filosofia e a felicidade", de Phillipe van den Bosch, e o segundo de um livro de contos de Marina Colasanti.
Crise existencial
Há várias maneiras de vir a interrogar-se sobre a felicidade e todas elas são crises existenciais. Oscar Wilde dizia basicamente que há duas tragédias na existência: não conseguir satisfazer todos os desejos e conseguir satisfazer todos os desejos.Em suma, a existência é sempre trágica para Wilde, que é um grande otimista. O primeiro caso é tristemente corriqueiro: tendo chegado a certa fase da vida, percebe-se que não se consegue obter aquilo de que se precisa para ser feliz. Um abatimento, mesmo um desespero pode suceder a essa tomada de consciência, e isso pode levar à reflexão filosófica porquanto temos de encontrar uma outra via para atingir a felicidade. O segundo caso é mais raro. É do homem maduro que venceu em tudo na vida, que obteve tudo o que projetara ter, portanto tem "tudo para ser feliz", como se diz, porque precisamente não o é. Seu transtorno é maior ainda: que é que lhe pode então dar a felicidade? Já tem tudo o que se pode desejar. O mundo lhe parece vazio e tedioso. Para alcançar a felicidade, a meditação filosófica é, portanto, seu último recurso. É possível que a filosofia tenha sido inventada por homens assim. Mas não é necessário atingir uma idade madura para conhecer crises existenciais. O adolescente pode revoltar-se contro o modo de vida padronizado que a sociedade lhe propõe. Bem pressente que ele não lhe trará satisfação. Mas não sabe o que lhe propiciará a felicidade. Portanto, também ele deve começar a refletir para o saber e assim já tornar-se um pouco filósofo.Fica claro desde então que para encontrar a felicidade não podemos fazer economia de uma investigação filosófica, nem nos privar das luzes dos grandes pensadores.Phillipe van den Bosch
1. Com que finalidade, provavelmente, esse texto foi escrito?
2. Para atingir essa finalidade, o autor parte de temas que são importantes na vida de pessoas de todas as sociedades, em todos os tempos. Que temas são esses?
3. A forma usada para comunicar as ideias do texto (a seleção de palavras, a construção das frases, a organização das informações) é direta, objetiva? Ou o texto é construído de tal forma que permite interpretações diferentes do que está explicito?
Leia o miniconto a seguir e compare-o com o texto "Crise existencial".
Olhando para o horizonte da vidaSubitamente tocada pela mutabilidade da vida, parou e perguntou-se: "Meu Deus, onde estarei no ano que vem a esta hora?" E do futuro respondeu-lhe o tédio: "Aqui, quando então te perguntarás, onde estarei no ano que vem, e a resposta será aqui. Quando então te perguntarás, onde estarei..."
Marina Colasanti
Desse pequeno conto pode-se extrair um tema, mas, para isso, é necessário compreender o sentido por trás da organização do texto.
4. O que pode significar ser "subitamente tocado pela mutabilidade da vida"?
5. Ao pergunta-se "[...] onde estarei no ano que vem a esta hora?", a personagem revela um desejo que vai além de simplesmente saber em que lugar estará no próximo ano. Que desejo é esse?
a) o desejo de que algo em sua vida se modifique.
b) o desejo de prever o futuro.
c) o desejo de planejar os próximos anos.
6. Quem responde à pergunta é o tédio, exatamente do lugar onde a personagem estará dali a um ano.
a) Por que a resposta dada pelo tédio se opõe ao desejo da personagem?
b) Que ideia é reforçada pela repetição da pergunta ("Onde estarei no ano que vem a esta hora?") e da resposta ("Aqui")?
7. O tema de "Olhando para o horizonte da vida" é tratado em textos de Filosofia, mas pode aparecer também em textos literários. Releia as respostas dada às questões anteriores e responda:
a) O tema do miniconto de Marina Colasanti coincide com o tema do texto de Filosofia "Crise existencial". Que tema é esse?
b) Quanto à forma de apresentar o tema, em que os dois textos se diferenciam?
c) Qual dos dois textos pode ser considerado literário: "Crise existencial" ou "Olhando para o horizonte da vida"?
Fonte: Viva Português - volume 1