Leia um fragmento do Sermão do Mandato, do orador barroco Antônio Vieira (1608-1697)
Sermão do Mandato
Começando pelo amor. O amor essencialmente é união, e naturalmente a busca: para ali pesa, para ali caminha, e só ali pára. Tudo são palavras de Platão, e de Santo Agostinho. Pois se a natureza do amor é unir, como pode ser efeito do amor o apartar? Assim é, quando o amor não é extremado e excessivo. As causas excessivamente intensas produzem efeitos contrários. A dor faz gritar; mas se é excessiva, faz emudecer: a luz faz ver; mas se é excessiva, cega: a alegria alenta e vivifica; mas se é excessiva, mata. Assim o amor: naturalmente une; mas se é excessivo, divide: Fortis est ut mors dilectio: o amor, diz Salomão, é como a morte. Como a morte, rei sábio? Como a vida, dissera eu. O amor é união de almas; a morte é separação da alma: pois se o efeito do amor é unir, e o efeito da morte é separar, como pode ser o amor semelhante à morte? O mesmo Salomão se explicou. Não fala Salomão de qualquer amor, senão do amor forte? Fortis est ut mors dilectio: e o amor forte, o amor intenso, o amor excessivo, produz efeitos contrários. É união, e produz apartamentos. Sabe-se o amor atar, e sabe-se desatar como Sansão: afetuoso, deixa-se atar; forte, rompe as ataduras. O amor sempre é amoroso; mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta os extremos mais distantes: enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos.
Responda:
1. O trecho transcrito do sermão de Vieira apresenta traços peculiares do barroco. Verifique, numa leitura atenta, esses traços e, a seguir,
a) mencione e explique uma característica do estilo barroco que Vieira explora com insistência no seguinte trecho: "O amor é união de almas; a morte é separação da alma: pois se o efeito do amor é unir, e o efeito da morte é separar, como pode ser o amor semelhante à morte?";
2. Vieira, em seu sermão, afirma que uma mesma causa pode produzir efeitos contrários, conforme a presença ou não de determinado fator. O fator que, segundo Vieira, é responsável por fazer com que uma mesma causa produza efeitos contrários é:
( A ) o amor
( B ) a morte
( C ) o excesso
( D ) a união
3. Indique o fenômeno físico que Vieira apresenta como uma das provas do que afirma.
4. Um papa do século XVII, Clemente X, disse a respeito de Vieira: "Devemos dar muitas graças a Deus por fazer este homem católico, porque se o não fosse poderia dar muito cuidado à Igreja de Deus". Comente.
5. Por que ler o sermões do Pe. Antônio Vieira, escritos e pregados a cerca de 350 anos?
6. Assista a um dos sermões proferido no filme "Dúvida" e responda qual é a intenção do sermão?