(UFSCAR 2010) Leia o texto de Manoel Carlos.
Envelhecer já foi um milagre, um sonho e também
uma sentença cruel. Nossos poetas românticos, por exemplo, almejavam a vida curta,
cravejada de muita tosse, e olhos fundos, aureolados de acentuadas olheiras. E,
quando a vida se estendia, sentiam-se traídos pelo Destino, envergonhados
diante da posteridade. Consta mesmo que um deles, aos 22 anos, preocupado com a
hora final que tardava a soar, declarava-se com 20 anos – a fim de ampliar a
chance de ser colhido ainda na juventude. Acabou não desapontando ninguém, nem
a si próprio. Foi ceifado aos 23 anos.
Não fosse o fim precoce de seus autores, a maior
parte da poesia romântica não teria sido escrita. A maior e a melhor, porque em
toda a obra de Álvares de Azevedo poucos poemas se comparam à beleza de Se Eu
Morresse Amanhã. O poeta deu o último suspiro aos 20 anos.
(Veja, 15.07.2009.)
a) Identifique a vertente da literatura romântica
brasileira referida no texto e aponte duas de suas características.
b) Leia o poema de Álvares de Azevedo, transcreva
um fragmento e explique por que ele exemplifica as considerações sobre a
literatura romântica brasileira apresentadas por Manoel Carlos.
Se Eu Morresse Amanhã!
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
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