sábado, 30 de abril de 2011

O conceito de plágio criativo

Gabriel Perissé
Escrever é tomar a decisão de descobrir o meu método pessoal para forjar o meu eu em forma de texto.

Clarice Lispector confidenciava: “Tive que descobrir meu método sozinha. [...] Me ocorriam idéias e eu sempre dizia: ‘Tá bem. Amanhã de manhã eu escrevo.’ Sem perceber que, em mim, fundo e forma é uma coisa só. Já vem a frase feita. Enquanto eu deixava ‘para amanhã’, continuava o desespero toda a manhã diante do papel em branco. E a idéia? Não tinha mais. Então resolvi tomar nota de tudo que me ocorria.”

Escrever é assim. Clarice tomou a decisão de tomar nota. Isso se chama trabalho. Trabalho que se traduz em rasgar muito papel, em reescrever muito, em recomeçar várias vezes. Só a ambição de estender aos outros a nossa ponte, a palavra, e através dessa ponte acompanhar os outros na sua solidão e na sua esperança, só esta ambição justifica e intensifica a concentração, a realização de tais e tais tarefas, a leitura sistemática, a consulta ao dicionário, o estudo da gramática, o desenvolvimento de idéias latentes, de imagens, sonhos, frases...

Em Assim falava Zaratustra, escrevia Nietzsche: “Como é agradável ouvir palavras e sons! Não serão as palavras e os sons os arco-íris e as pontes ilusórias entre as coisas eternamente separadas?” — e podemos nós, ousadamente, argumentar que são as palavras o que há de menos ilusório, são os verdadeiros arco-íris e as autênticas pontes impedindo a separação eterna entre as coisas e as pessoas.

E as palavras somos nós, preenchendo esses abismos.

Por mais prosaico que seja o texto que precisamos escrever, por mais objetiva que seja a necessidade de uma carta ou um e-mail, temos de levantar essas pontes com nossas palavras, com nossa personalidade, e fazer delas um caminho vivo para a comunicação interpessoal.

E essa comunicação precisa ser original.

Originalidade é o que se faz novo aos nossos olhos, com novas coerências, novo atrativo. Uma pessoa original é aquela que está sempre nos surpreendendo pelo fato de ser uma pessoa. Uma pessoa original é aquela que traz a marca da evolução contínua, da insatisfação consigo mesma, e da busca de maneiras novas de dizer o que todos já sabiam.

Mas o paradoxal nessa história toda (e até o absurdo, à primeira vista) é que a arte de ser original, e, concretamente, de escrever de maneira original, consiste na capacidade de repetir o que alguém já disse, de renovar o que alguém já pensou, já expressou, e fazê-lo de uma forma reconhecidamente inédita.

Carlos Drummond de Andrade ensinava, ironicamente, que o desenvolvimento da originalidade possui algumas etapas, a primeira das quais é imitar os modelos clássicos, e a última... imitar-se a si mesmo até a morte!

A solução para este aparente beco sem saída é entrar nele, corajosamente, acender uma luz o mais rápido possível, e compreender que, sim, existem saídas — podemos imitar de forma criativa. Podemos ser originais sem a necessidade de apelar para a extravagância. Podemos utilizar o que é alheio com a liberdade de quem tem esse algo como coisa própria.

Antes mesmo de pensar nos modelos clássicos, voltemo-nos para as frases mais corriqueiras, como “a união faz a força”, “estou com a faca e o queijo na mão”, “desisti de dar murro em ponta de faca”, “o tiro saiu pela culatra”, e outras centenas de preciosidades que, bem aquilatadas, são inspiradoras de nossa originalidade.

Não precisamos excluir do nosso horizonte esses clichês, essas expressões comuns, mas temos de apropriarmo-nos deles e reaproveitá-los em outros contextos, em muitos casos apenas alterando uma letra ou uma palavra, para descortinar percepções mais criativas da realidade.

Outro dia, uma menina de 3 anos de idade disse, sem perceber a beleza do que dizia, enquanto pedia ao pai que a ajudasse a abrir uma garrafa: “Pai, vamos misturar nossas forças?!” Mais do que unir, misturar! Ela estava aprofundando e renovando a idéia da união.

Ou se eu digo, por exemplo: alegria de pobre dura muito, estou relativizando o fatalismo de uma vida miserável e ressaltando que a pobreza — entendida num contexto positivo, de desapego das realidades materiais — não precisa identificar-se necessariamente com a infelicidade. Ao contrário! A pobreza pode é ajudar uma pessoa a entender o essencial da vida.

Quando Nelson Rodrigues diz que “o pior cego é aquele que não quer ouvir”, está levando nosso olhar para outros aspectos da questão. A pessoa que não quer ver é o pior cego, como ensina o dito popular, mas é ironicamente verdadeiro também que o cego pior é aquele que, além de cego, recusa-se a ouvir as orientações dos outros!

Mas ainda não entramos em cheio no problema do plágio.

O conceito de plágio é um conceito relativamente novo. Na Idade Média, as “leis da imitação” permitiam e estimulavam a busca de um exemplum, de um modelo do passado que servisse de base para fazer algo de novo com o antigo, mesmo que depois todos pudessem perceber ali, na obra realizada, mais o antigo do que o novo.

Talvez estivesse no bojo dessa mentalidade a idéia da imitatio Christi, que não era simples cópia do comportamento de Cristo, mas uma ascese que implicava na assimilação e na imitação pessoal do modelo da santidade cristã.

O medievalista Jacques le Goff menciona sempre o fato de que, naquela época (cujas trevas são mais nossas do que dela...), os professores e artistas usavam as fontes cristãs e greco-latinas com a liberdade de quem realmente podia apropriar-se, sem falsos escrúpulos, do que lhes parecia inspirador.

Não era, portanto, imitação pura e simples, mas plágio criativo. No século XII, por exemplo, John of Salisbury ensinava explicitamente aos seus alunos que o segredo da filosofia e do escrever bem estava em ler os grandes mestres do passado e redigir como se os estivessem encarnando num novo contexto histórico.

Mais do que meramente copiar, o escritor prestava uma homenagem ao imitado, dizendo, nas entrelinhas, que só o imitava porque nele encontrara um valor... inimitável.

O poeta Décio Valente publicou em 1986 um livro intitulado O plágio, em que faz uma arguta, e por vezes paranóica... identificação de cópias conscientes ou inconscientes, voluntárias ou involuntárias, mal feitas ou magistrais, de pensamentos, versos, poemas inteiros, cópias realizadas por autores conhecidos ou desconhecidos, geniais ou medíocres.

Identifica, por exemplo, uma “semelhança” entre o poema Mãe Preta, de Augusto Linhares, publicado em livro em 1948, e o poema bem mais conhecido de Manuel Bandeira, Irene no céu, escrito provavelmente no final da década de 1920:

Irene no céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene.

Você não precisa pedir licença.


Mãe Preta

Quando Dodora ao Céu chegar, é minha crença,e ao Chaveiro disser:

— Dá licença, meu Santo?
São Pedro, vendo-a, lhe dirá com certo espanto:
— Você, Dodora, não precisa de licença!...

E a porta lhe abrirá paternalmente.

E ela,para de todo ser feliz numa tal hora,seu cachimbinho acende.
Acende-o numa estrela;
mas São Pedro lhe diz:
— Não, aqui não, Dodora...


A semelhança foi procurada, e, mais ainda, o segundo poeta quis dialogar com o poema de Bandeira, trazendo, com uma ponta de ironia, o desfecho em que o branco volta a cercear a mãe preta, e lhe rouba o prazerzinho de fumar seu cachimbo.

Em outro momento, Décio Valente cita a si mesmo, mostrando que um pensamento de um livro seu — “As amizades são como porcelanas: para que durem muito, pouco nos devemos servir delas” — teria surgido dez anos depois numa quadrinha de Mário Quintana:

Olha! É como um vaso
de porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...

Há semelhança, sem dúvida, mas não parece tão incomum assim comparar a amizade à porcelana. Se Quintana leu o livro de Décio e ficou-lhe gravada a imagem, ou se concebeu esta metáfora devido a outras razões e devido a outras influências, temos de admitir que o poeta gaúcho apropriou-se da idéia original com seu estilo inconfundível e até melhorou a forma de expressá-la!

Na verdade, o escritor que procura, desesperadamente, dizer o que antes jamais se disse não conseguirá atingir esse objetivo, mesmo que se isole do mundo, e não leia mais nada, e não converse com mais ninguém. Desconhecer o que já foi feito será a única forma de iludir-se, de pensar que é totalmente original, que nada deve ao passado e... ao presente. Contudo, não conseguirá evitar, afinal, que em seu texto sejam identificáveis o pouco que leu ou ouviu em sua vida e, sem querer querendo, acabou imitando.

Se você quiser ofender um escritor com essa obsessão pela originalidade, diga-lhe que é um plagiador, que aquela passagem no seu texto é muito parecida com o que você leu em outro autor. Estamos às vezes de tal forma obcecados pela idéia de que a originalidade consiste em fazer coisas absolutamente novas, que mal nos damos conta de que também não é nem um pouco original pensar assim, na medida em que muitos pessoas “originais” vivem pensando que são originais!

Eu defendo, porém, o plágio criativo, com o qual “roubamos” da seara alheia (de autores conhecidos ou não) algo que pode tornar o nosso trabalho mais fértil e promissor. Mais ainda: devemos ser tão bons ladrões que ninguém perceba que fizemos com o alheio algo melhor. O plágio criativo perfeito é quando o roubo é seguido de assassinato, e nem precisamos citar a vítima, cuja alma absorvemos e cujo corpo escondemos dentro do nosso próprio texto.

O plágio criativo é uma imitação inteligente de versos e metáforas, de idéias e frases, de resultados e conclusões de outros autores, e, devo esclarecer, esse processo criativo é utilizadíssimo pelos grandes escritores, que são ao mesmo tempo grandes leitores e descobriram o óbvio: nada existe de novo sob o sol... frase que o autor do Eclesiastes deve ter copiado de algum outro escritor.

Mário de Andrade “confessou” ter roubado inúmeras idéias de vários autores (e alguns trechos desses autores, textualmente) ao escrever Macunaíma, uma vez que toda a escrita, para ele, se construía como uma apropriação sem reservas do patrimônio cultural disponível.

T.S. Eliot retomava expressões e versos inteiros de outros escritores, inserindo-os em sua obra, e com eles criou uma poesia das mais originais do século XX e de todos os tempos.

Gilberto Mendonça Telles tem um livro muito interessante sobre como há na produção literária brasileira muitos trechos da (ou alusões à) obra de Camões, consciente ou inconscientemente assimilada pela leitura.

Podemos, claro, falar que tudo isso é reelaboração, paráfrase, (re)invenção e outros procedimentos do que se convencionou chamar “intertextualidade”. Mas eu gosto mesmo é da expressão plágio criativo. Expressão que roubei de alguém... cujo nome esqueci.

Portanto, para sermos originais, façamos o trabalho dos plagiadores! Conheçamos a fundo aquilo que lemos, ou aquilo que já imitamos sem pensar. Roubemos o que é de todos! Ou o que parece ser de um só. Mas dando a esse “roubo” um toque pessoal.

E podemos ir ainda mais longe, sistematizando-nos. Leiamos textos criados pelos profissionais do jornalismo, da crônica, do ensaio, da poesia, do teatro. Colecionemos frases, repitamos mentalmente essas frases, a tal ponto que não saibamos ao certo se são nossas ou de outros. Usemos o que existe de melhor em cada um dos autores que lemos, acrescentando a esse material a nossa personalidade e produzindo algo original... até para nós mesmos.

Estamos, na verdade, falando de administração de influências. E influência é o que flui para dentro de nós, e de nossa fala, e de nossos textos.

Administrar bem as influências exige três atitudes: aceitar as influências inevitáveis, provocar novas influências e selecionar influências especiais.

Aceitar as influências inevitáveis é conseguir olhar com bom-humor aquilo que, vamos dizer assim, inocularam em nós, aquilo que bebemos no leite materno. Aceitar como um fato. Certa vez, perguntaram a João Cabral de Melo Neto se ele tinha medo da morte. Ele respondeu que sim, e que esse medo estava associado às idéias de céu, inferno e purgatório que os irmãos maristas lhe tinham transmitido no tempo do colégio. O entrevistador insistiu: “Não acha tudo isso uma grande ingenuidade?” E o poeta, já naquela altura totalmente cego, respondeu, com um sorriso: “O que é que eu posso fazer? Foi uma influência que recebi na minha infância e que não superei até hoje.”

Não superou e não tinha por que superar. Porque não podemos superar o que é a base das nossas possíveis superações. Há em nós algo de imóvel e de fundamental que recebemos nos primeiros anos de vida. É o chão, o básico, sobre o qual poderemos construir nossa vida, mas do qual não podemos nos separar. Podemos criticar, podemos amaldiçoar, mas aí está, é a nossa influência fundamental, que permaneceu em nós como que “grudada” ao nosso ser, aos nossos genes, à nossa alma.

Nós não começamos do zero. Há uma estrutura inicial que recebemos e com a qual precisamos lidar. Quando olhei para mim, encontrei alguém que já estava ali! Alguém que, antes de mais nada, recebeu um corpo, ou melhor, que é um corpo; alguém que descobre em si mesmo uma série de inclinações temperamentais, e que logo, desde os primeiros meses, recebeu uma formação inicial, proveniente do ambiente familiar.

Esse alguém sou eu, e com esse eu... tenho que começar a conviver conscientemente, construtivamente.

As primeiras pessoas com quem nos relacionamos foram as primeiras a nos influenciar, e essa influência já representa um forte “ingrediente” a atuar em nossa vida. Mas há outros! A casa ou as casas em que morávamos, e a vizinhança, e a classe social em que nossa família foi incluída pelos economistas e especialistas em estatísticas; a região geográfica em que nascemos, em que aprendemos a andar, e, de modo extremamente relevante para nós, a língua com que tivemos o primeiro contato e na qual nossa mente encontrou, encontra, encontrará sempre os elementos (e os “alimentos”) necessários para desenvolver-se semanticamente, sintaticamente, com todas as limitações e alcances que cada idioma possui.

O idioma materno — não à toa utilizamos esse adjetivo — gera o nosso modo de falar, gera o nosso modo de entender o mundo e falar de nós mesmos, e entender a nós mesmos. Nele estão nossas raízes. Dele nos alimentamos. O poeta espanhol Juan Ramón Jiménez referia-se não apenas ao idioma materno, mas ao “español de mi madre”, porque aprendemos a ler e escrever desde o berço, desde os primeiros diálogos com a mãe, com o pai, com os parentes mais próximos.

Por mais idiomas que uma pessoa domine, nunca deixará de ter uma única língua, a língua que lhe foi ensinada pelos primeiros professores, os pais; língua que lhe permite aprender as outras! A língua materna, cujos sons, pele e perfumes são únicos e intraduzíveis, são a referência, eis a primeira grande influência que recebemos. Um idioma não apenas diz o que diz... mas é a melhor forma com que eu posso dizer o que sinto, o que sei, o que sou. Ou, como brincava Nelson Rodrigues — “eu sou monogâmico: só sei a minha língua.” Na realidade, só podemos saber a fundo, para valer, uma única língua. A nossa. E só nos sabemos nós mesmos mediante essa língua, mergulhando nessa língua.

Na língua materna estamos livres e presos. São as nossas asas, das quais não podemos nos livrar e só com as quais podemos voar. Na língua materna as palavras têm os sons que nos fazem entender mais profundamente o que está sendo dito. Sonhamos no idioma materno. Amamos no idioma materno. Morremos no idioma materno.

O filósofo Martin Heidegger, atentíssimo à questão da linguagem, explicava que o idioma é o ser, a casa do ser, e que, para ele, as coisas respondiam ao nosso chamado, como se fossem animais ou pessoas reconhecendo o uso do nome certo. Por isso a necessidade de mergulharmos em nosso idioma para podermos reconhecer a realidade circundante, e, assim, poder estudar uma ciência, escrever um poema e, prosaicamente, pedir, por exemplo, à mesa, que alguém nos aproxime uma travessa de salada ou a jarra de vinho.

O idioma é a carteira de identidade de uma pessoa. E quem escreve precisa tomar consciência de que nós somos aquilo que falamos-lemos-escrevemos e que toda a nossa vida consiste em aprender o nosso idioma, apaixonar-se por ele, respeitá-lo, ter com ele intimidade autêntica, para, nele, enxergar a realidade com mais clareza, comunicarmo-nos com os outros, expressar nossas idéias e perplexidades, nossas alegrias e dores, “morar” e “viajar” neste mundo com pleno direito.

Neste ponto, é inevitável referirmo-nos ao dicionário, aquisição necessária para quem vive de palavras, para quem lida com palavras, para quem ama as palavras.

O dicionário é pai dos inteligentes, daqueles que sabem que cada palavra tem a sua abrangência, o seu matiz, a sua personalidade. Uma porta aberta não é a mesma porta que está escancarada. Um homem hirsuto não é exatamente um homem zangado. Até aquela flor que denominamos bem-me-quer diferencia-se de si mesma quando a chamamos, também legitimamente, de malmequer...

O dicionário é fonte de inspiração, reflexão e ampliação da nossa consciência dentro desse “país” lingüístico, cujas fronteiras estão nas almas mais do que nos mapas.

O pensador Ralph Emerson afirmava que nenhum dicionário é ruim. Todos trazem a matéria-prima dos poemas e histórias que serão escritos. Nesse reino democrático das palavras (a única hierarquia é a ordem alfabética), mergulhamos como sedentos pescadores de conceitos e sentimentos que foram designados em nossa língua materna.

Em nossa língua, como em cada língua em particular, vamos perceber novas possibilidades bem próprias de exprimir-nos, como o curioso uso elogioso do palavrão filho-da-puta, uma recente conquista que muitos de nós já incorporarmos. Pois é. Em alguns casos, filho-da-puta é um elogio, verdadeiro paradoxo que faz pensar: “O filho-da-puta não estudou o ano inteiro e mesmo assim passou no Vestibular!”

Conhecer o nosso idioma é uma responsabilidade. Um ato de verdadeira cidadania. E de crescimento cultural e pessoal. Temos a responsabilidade de aceitar, aceitar é pouco — temos a responsabilidade de tocar e degustar o idioma em que surgimos a fim de criar um “idioma pessoal”, toque e degustação que se materializam em colocar “a mão na massa” para vencer a distância entre o que devemos ou queremos escrever (a carta, o romance, a redação, o diário, o testamento, a crônica, o relatório, a monografia, o relato de uma viagem, a autobiografia etc.) e o próprio idioma nacional.

Pôr a mão na massa consiste em familiarizar-se com a linguagem, com as palavras, com os significados e sentidos das palavras. A “massa” do escultor é o mármore, o bronze, o barro. A “massa” do pintor são as cores. A “massa” de um músico são os sons do seu instrumento. A “massa” do dançarino é o seu próprio corpo. A “massa” de quem escreve é a linguagem, as muitas palavras que estão no dicionário, e as que não estão ainda, ou dele deixaram de constar por algum motivo.

A palavra não cria as coisas do nada. Mas retira, sim, as coisas da sombra, do esquecimento, do exílio, ou do passado, ou do futuro. As palavras são embaixadoras da realidade. Trazem todo o universo para sentar-se ao nosso lado. Trazem reinos, aves exóticas, peixes monstruosos, estrelas do céu, flores de aromas impensáveis, anjos, demônios. Falamos a palavra, e o universo responde ao chamado, e os mortos ressuscitam, e nós nos iluminamos.

Devemos aceitar e abraçar o nosso idioma como um náufrago se abraça a um pedaço de madeira salvadora... Não, a imagem é ruim. Poderia parecer que o idioma é uma simples tábua de salvação, que abandonaremos tão logo apareça coisa melhor e mais segura, de preferência um belo navio em direção às ilhas gregas!

Devemos abraçar nosso idioma como a uma realidade pessoal e transpessoal, em que estão “arquivadas” as experiências e concepções de nossos antepassados. Em que estão nossos próprios antepassados. Pois são eles que nos influenciam. Pois foram eles que criaram coletivamente o idioma em que aprendi a falar “mamãe”, “agora”, “não quero”. Nós somos o que disseram antes de nós, o que está “gravado”, coletivamente memorizado nos provérbios, nas frases cheias de sabedoria, nos contos populares, no folclore, na literatura, nos textos todos, jurídicos, religiosos, burocráticos, científicos, históricos etc. Aí estão as nossas verdades... e as mentiras nossas.

Uma vez que o idioma é uma realidade inevitável em nós, pois dele precisamos e nele, desde os primeiros momentos de vida, começamos a forjar nossa maneira de dizer e desdizer tudo, cabe-nos a tarefa de incorporá-lo livremente. Ou seremos exilados em nossa própria terra!

Mas à medida que vamos tomando consciência de nossa realidade, descobrimos de imediato uma lei da vida, que o filósofo espanhol Julián Marías expressa da maneira mais simples e objetiva possível: “A vida faz-se para frente.”

Isto significa que estamos instalados no tempo, numa realidade que flui. De repente, o chão se torna trampolim. Eu posso projetar-me para o futuro. Provocar novas influências, permitindo-me experiências que vão enriquecer (ou não) minha maneira de ser.

Para quem escreve, a experiência por excelência é a da leitura.

Sim, sem dúvida, quem sou eu para negar que a experiência da vida é que é fundamental? Primeiro viver, depois ler! Mas na leitura meditada é possível realizar descobertas que a vida, em sua fluidez, nem sempre nos permite experimentar. Na leitura é possível enriquecer nossa bagagem intelectual e moral com uma prática reflexiva, com um atinado conhecimento do mundo, de nós mesmos e dos outros que nem sempre encontra suficiente espaço e tempo em nosso dia-a-dia concreto.

Devemos observar, porém, que esse diálogo com bons livros e bons autores, que poderia restringir-se a uma experiência solitária, particular e passageira, que poderia restringir-se a uma experiência fechada num “mundo de papel”, como diz o crítico de arte Benedito Nunes, amplia-se quando “voltamos”, renovando nossa visão do mundo real, ajudando-nos a redescobri-lo, a senti-lo e pensá-lo de uma forma menos rotineira e ilusória. A “mentira” do papel transfigura a verdade do mundo, tornando-a mais verdadeira.

Borges, um apaixonado incondicional da leitura, disse numa conferência, em 1978: “Se lemos um livro antigo é como se estivéssemos lendo durante todo o tempo que passou desde o dia em que esse livro foi escrito até o nosso momento presente.” Uma longa e intensa experiência! Ler, neste caso, é ganhar tempo, ganhar séculos de experiência, de vivência, de sabedoria. Um século se lemos Tolstoi, quatro séculos se lemos Shakespeare, vinte e um séculos se lemos Platão, e tudo isso em alguns meses.

Uma experiência intensa em virtude da qualidade dos textos, da sua relevância incontestável.

A leitura é, portanto, um tipo de influência que podemos (e devemos) provocar em nossa vida. Uma influência que recebemos de modo “seguro”, uma influência que recebemos na privacidade de quatro paredes, no silêncio de uma biblioteca, provavelmente sentados, sem derramamento de sangue, sem gastos econômicos excessivos. Mas, afinal, uma influência decisiva para o nosso aperfeiçoamento como pessoas, como seres pensantes, e como produtores eficazes de textos. Experiência perigosíssima... para a nossa mediocridade. Perigosíssima... para a nossa imaturidade existencial.

E vale a pena correr esse risco, para crescer, para tornar-se uma pessoa culturalmente, humanamente representativa.

Trata-se de uma influência que se recebe de modo voluntário e inesquecível.

O escritor Carlos Heitor Cony, por exemplo, tem um estilo agradável, tem uma conversa agradável, tem uma forma de ver o mundo agradável (mesmo que emita opiniões com as quais você ou eu não concordemos) porque leu grandes autores: Flaubert, Eça de Queirós, Balzac, Zola, Lima Barreto... Porque se predispôs a receber as palavras desses mestres, a conviver com eles, a receber de peito aberto influências deles, a dialogar com eles, a reutilizar suas palavras. Cony disse numa entrevista: “Condenei-me à leitura desde cedo, e o primeiro livro que me impressionou, que me deu vontade de tê-lo escrito, foi Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Releio sempre, e sempre com prazer. Minha obra está toda marcada por ele.”

O plágio criativo, uma realidade literária. Uma necessidade, acrescentaria eu.

É extremamente conhecida aquela passagem inicial do primeiro poema do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade: “Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

Passagem que marcou e inspirou pelo menos outros três poetas.

O poeta Torquato Neto: “Quando eu nasci / um anjo louco muito louco / veio ler a minha mão / não era um anjo barroco / era um anjo muito louco, torto / com asas de avião / eis que esse anjo me disse / apertando a minha mão / com um sorriso entre dentes / vai bicho desafinar / o coro dos contentes / vai bicho desafinar / o coro dos contentes.”

O poeta Chico Buarque de Holanda: “Quando nasci veio um anjo safado / O chato dum querubim / E decretou que eu tava predestinado / A ser errado assim / Já de saída a minha estrada entortou / Mas vou até o fim.”

E a poeta Adélia Prado, no primeiro poema do seu primeiro livro: “Quando nasci um anjo esbelto, / Desses que tocam trombeta, anunciou: / Vai carregar bandeira. / Cargo muito pesado pra mulher, / Esta espécie ainda envergonhada.”

E o que há de comum em todos eles, incluindo Drummond?

Que, sabendo ou não (ou sabendo com maior ou menor consciência), estão todos plagiando criativamente (inquirindo, transgredindo, relendo) a Anunciação descrita no início do Evangelho de São Lucas — um anjo, um arcanjo, desses que vivem na luz, disse a Maria: “Ave, gratia plena!” —, com a boa notícia da Redenção, uma cena que, por incrível que pareça, é também ela mais um plágio criativo, uma recriação (e uma contestação) da anunciação tentadora do anjo-serpente (desses que vivem rastejando...). No início dos tempos, este anjo de falsa luz procurou a primeira mulher, Eva, a mãe de todos os viventes, e lhe sussurrou: “Salve, Eva... E como és bela, cheia de graça! Porém mais bela e graciosa serás quando teus olhos enfim se abrirem! Tu serás como Deus... caso tenhas a coragem de desobedecer ao Deus invejoso, ao Deus que não quer que evoluas!” Interpretação que os antigos teólogos corroboram, afirmando que “Ave fit ex Eva”, ou seja, que a saudação latina Ave provém do nome Eva, deliberada inversão de letras para provar que a história da humanidade recomeçava naquele segundo momento, na pequena cidade de Nazaré.

A cultura literária é uma das melhores influências que podemos provocar em nós mesmos, e praticamente a única se quisermos escrever com mais segurança, com mais agudeza. Cultura é cultivo, é cultivar-nos, é receber de bom grado e desenvolver em nós o que outras pessoas já pensaram, já disseram, já escreveram. A formação cultural é a condição para desenvolvermos nossos talentos adormecidos, nossas inclinações ainda mal conhecidas, nossos raciocínios ainda esboçados, nossa criatividade talvez um pouco tímida, nossa originalidade necessitando crescer em intensidade.

Cultura é conhecer os cardápios e repertórios disponíveis no horizonte das produções musicais, pictóricas, cinematográficas etc. Um ouvido educado sabe apreciar os sons que instrumentos diferentes produzem, e distingui-los dentro de uma composição musical: o som de um oboé, de um trompete, de um clarinete. E um olfato educado sabe avaliar múltiplos perfumes, e um paladar educado está preparado para saborear os mais bizarros gostos, e uma visão educada sabe discernir diversos estilos da pintura, enfim, são todas essas conquistas sensoriais verdadeiras conquistas culturais de quem se deixa influenciar por bons perfumes, bons pratos, bons quadros, e, indo mais além, procura pessoas que lhe abram novas trilhas intelectuais, ensinando-lhe sobre temas tão díspares como a arquitetura judaica e o golfe, sobre o cinema indiano e a história dos persas.

Um leitor treinado, cujos olhos foram educados para ler o que há de melhor, forma seu senso crítico, sua capacidade de pensar o mundo, e, sobretudo, em termos práticos, qualifica-se para escrever melhor, para escrever textos que valham a pena ser lidos do ponto de vista da forma e do conteúdo, e que dêem, afinal, a necessária continuidade à tradição cultural de que se beneficiou.

De que se beneficiou e que agora constituirá fonte de elementos para o jogo do estilo, em que as citações ocultas, as referências cruzadas e o reaproveitamento inteligente são regras aceitas com toda a naturalidade.

As regras do plágio criativo. Que estão muito claras para os grandes escritores, todos eles cientes e conscientes daquele dogma que o crítico norte-americano Harold Bloom soube consignar numa frase contundente: “A grande escrita é sempre reescrita”, e que podemos colocar ao lado de outra frase, da autoria de Salvador Dalí: “De quien no quiere imitar a nadie, no sale nada.”

Neste ponto vale a pena recordar um exercício literário aberto de plágio criativo que o já falecido Osman Lins propôs, entre 1960 e 1970, a outros importantes nomes da nossa literatura. Tratava-se de escrever novas versões ao conto Missa do Galo, de Machado de Assis. O desafio foi lançado e o livro, publicado. Escreveram, entusiasmados pela proposta, Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Antonio Callado, Julieta de Godoy Ladeira, e o próprio Osman Lins, que explicou no prefácio a gênese de tudo:

Em 1964, eu Julieta de Godoy Ladeira combinamos escrever, cada um a seu modo, novas versões de um conto de Machado de Assis, considerado por todos autêntica obra-prima e cuja poesia, com o passar dos anos, parece intensificar-se: Missa do Galo. Havia exemplos semelhantes na pintura e na música: artistas retomando um tema já realizado por antecessores e desenvolvendo-o a seu modo. Também em literatura, são conhecidas, por exemplo, as inúmeras versões dos dramas gregos que, inspirados em Homero, chegam até os nossos dias, espelhando, sem perda da identidade, a visão e o modo de operar de escritores muito distanciados entre si no espaço e no tempo. Mas o que eu planejava era algo diferente. Imaginava um certo número de ficcionistas, cada um deles aceitando o desafio de refazer, com maior ou menor aproximação, o texto machadiano, que sabíamos insuperável.
(*)


Este é o plágio criativo explícito, que nas mãos de artistas da palavra gerou outras pequenas seis obras-primas, todas devedoras ao original, talvez um pouco ansiosas, mas ao mesmo tempo gratas ao texto mais forte, o de Machado. Devedoras (quase escrevi... devoradoras) como todos os textos o são, mas que nem sempre pagam ao modelo, ou aos modelos, o mesmo tributo. Em outras palavras, todos dependemos daquilo que foi escrito (especialmente do que foi bem escrito) e todos, mal ou bem, copiamos e recopiamos o que outros, mais brilhantes do que nós, ou mais lúcidos do que nós, ou mais engenhosos do que nós, já escreveram.

Mas nada de sentimentos de inferioridade! A diferença fundamental entre o que se fez e o que fazemos reside no resultado final. Se há no que escrevemos talento ou não, investimento pessoal nosso ou não.

E, só para arrematar melhor a idéia do tributo, quando plagiamos um grande escritor... não o estamos roubando mas pagando o justo preço da homenagem, porque o grande escritor sempre será grande, e o máximo que pode acontecer é que sejamos maiores do que, originariamente, estávamos destinados a ser antes de imitar um mestre.

Esta é, portanto, uma segunda maneira de administrar influências: provocarmos novas experiências, notadamente de caráter literário, impulsionados pela curiosidade intelectual, dialogando com o que já se escreveu, espelhando-nos nas descobertas verbais alheias, reutilizando-as com maior ou menor maestria, tendo insights que vão dos simples trocadilhos à criação de frases dignas de constar de um livro de citações.

Mas ainda há um terceiro tipo de influências a serem administradas, influências que poderíamos designar como influências-limite, e que extrapolam as naturais e culturais. São influências pelas quais optamos e que modificam radicalmente o rumo de nossas vidas. Influências decisivas, que “abalam” nosso modo de ser, e que só podemos chamar influências na medida em que as abraçamos com a plena liberdade de quem redescobriu seu destino. Influências pelas quais optamos, ainda que num quadro de fatalidades, ainda que sofrendo experiências involuntárias ou até indesejáveis.

Uma influência-limite é aquela que se dá no plano religioso, como a conversão arrebatadora de um Paul Claudel, que determinou sua produção poética numa linha católica transcendentalista; é aquela que se dá numa situação de grande risco, como a dramática passagem pelo campo de concentração de um Viktor Frankl, que, a partir do que sofreu e das pessoas que viu sofrendo e buscando um sentido para a vida, redefiniu sua maneira de encarar a psicologia, fundando a Logoterapia; é aquela que se dá numa circunstância de humilhação pública, como a prisão e os trabalhos forçados com que foi punido um Oscar Wilde, situação-limite que o fez escrever as páginas maravilhosas do De Profundis, reavaliando todo o seu comportamento anterior... em suma, estou me referindo a experiências que, assumidas com o peito aberto, promovem uma revolução interior e se refletem estilisticamente numa igualmente radical configuração da linguagem, no que diz respeito ao tom das descrições, da argumentação, da narração, no que diz respeito ao nível de compreensão do real, à escolha de palavras, aos pressupostos que dominam essa escolha, às intenções que orientam essa escolha.

Um outro tipo de experiência-limite — a que viveu Emil Cioran quando passou a morar na França e adotou o idioma francês para produzir sua obra. Cioran recusava-se a escrever em romeno, mesmo quando algum amigo se predispunha a traduzi-lo. Estava, desse modo, optando por uma quase que diria violenta influência. Embora confessasse sentir nostalgia dos sons da língua materna, respondia de maneira enigmática quando perguntavam de novo se não gostaria de escrever em romeno: “Non. J'ai besoin du français. Cette langue est pour moi une camisole de force” — ele tinha necessidade do francês como se precisasse de uma camisa de força! Para não enlouquecer... talvez?

Numa entrevista, dizia Cioran que, para ele, a língua francesa era uma disciplina mental imposta de fora, e que dela se utilizava para obter efeitos positivos de estilo. O idioma estrangeiro salvou o estrangeiro do delírio e da loucura: “É verdade que esta língua não condiz com a minha natureza, mas me ajudou no plano psicológico. O idioma francês tornou-se uma língua terapêutica.” Esforçando-se para pensar em francês, teve que ser exigente consigo mesmo, teve de reescrever seus livros muitas vezes, desconfiar de si mesmo a cada palavra, a cada frase, a cada aforismo, e consultar o dicionário, e pedir ajuda a outras pessoas, sem poder contar com a “facilidade” que o idioma natal poderia conceder-lhe. E assim acabou por se tornar um escritor francês, “roubando” o título de outros muitos franceses que, talvez, precisassem aprender romeno (ou alemão, ou chinês...) para serem mais coerentes consigo mesmos, e menos estrangeiros no seu próprio idioma!

Essa experiência-limite é de todas a mais pessoal, e intransferível.

Trata-se aqui do tipo de influência que decorre de um exílio, de um contato próximo com a morte, com a doença, com a dor, influência decisiva que decorre de um encontro amoroso, que decorre de um encontro vivo com algo que atua nas entranhas, espada afiadíssima que corta em nós (definitivamente, quem dera!) pedaços inteiros de mediocridade.

José Ingenieres, no seu incômodo O homem medíocre, alude às pessoas que renascem dessas experiências, e se transformam, e conseguem resistir à tirania das engrenagens niveladores, resistir às coações, aos servilismos, à massificação, à despersonalização. Ou, dizendo de um modo positivo: a pessoa submetida a uma experiência determinante, sabendo extrair dela, mais do que uma simples lição, um modo mais lúcido de ver e viver, ganha em coragem, essa coragem que, no pensamento do poeta francês Lamartine, “é a primeira das eloqüências, é a eloqüência do caráter.”

Há dois livros de que gosto muito e trazem títulos muito parecidos: A coragem de ser, de Paul Tillich, e A coragem de criar, de Rollo May. Não são parecidos por acaso. Rollo May, psicanalista norte-americano, revela no prefácio que o título lhe foi sugerido “pelo livro de Paul Tillich [...], e é com prazer que lhe confiro esse crédito”. Mas, referindo-se ainda à coragem de ser, Rollo May explica também que é impraticável ser no vazio, e que ser criativo é o modo essencial de ser, o modo essencialmente humano, essencialmente nosso.

O problema é que, para sermos humanos, para sermos criativos, é exigida de nós a virtude da coragem.

Mais concretamente, falando dos artistas (puxando aqui a citação para o artista da palavra), esses dois livros me fizeram entender que escrever é um ato de coragem.

Coragem para criar e autocriar-se eloqüentemente, com palavras e nas palavras.

Uma autocriação que parte dos elementos vitais que somos chamados a aceitar. Elementos de três tipos. Os que praticamente temos de aceitar (como a cor dos olhos, a altura, a duração média da vida, as determinações genéticas, as circunstâncias físicas do lugar em que nascemos etc.). Os que podemos procurar (elementos disseminados e potenciados no panorama cultural disponível). E aqueles que vêm ao nosso encontro, estranhamente desejados por algo que em nós, silenciosamente, pede radicalidade, pede conversão, pede transformação profunda...

A partir desses elementos temos de cultivar a coragem de criar-nos e, simultaneamente, criar a nossa comunicação escrita. O que temos de aceitar, o que podemos procurar e o que vem ao nosso encontro são as realidades reais, são o texto da nossa vida que temos de transformar na vida dos nossos textos! Escrever corajosamente é construir um método pessoal para afirmar (sem vaidade, sem megalomanias) o nosso eu em forma de palavras.

Essa coragem não se fundamenta na força física, mas na convicção. A convicção é a melhor inspiração. Lembrando um diálogo que Sócrates manteve com dois generais, Nícias e Laques, a coragem, mais do que na guerra, é uma virtude importante na nossa luta interior, a que travamos todos os dias: a luta para vencer nosso medo de ser nós mesmos, de descobrir quem somos, de investigar o que podemos ser, e o que estamos convocados a ser.

Muitas pessoas desejam escrever, ameaçam escrever, sonham em escrever, juram de pés juntos que gostariam de escrever, avisam que num glorioso dia irão escrever... mas não escrevem.

O livro só vale se for escrito. E no livro só vale o que estiver escrito. Se um escritor precisa explicar o que disse, por que o disse, ou por que não disse o que pensou dizer... é porque o livro não se sustenta sozinho. Não passou de um esboço. De uma tentativa. Faltou aquela coragem existencial que transformar o desejo vago em realidade. Escrever é concretizar o potencial de quem escreve. Escrever não é vontade etérea mas fruto da dedicação de quem vai ao extremo de si mesmo.

Ebner, um pensador austríaco, dizia que o problema da filosofia moderna é que as pessoas sonham com a verdade, em lugar de procurá-la efetivamente, ilusão causadora desses terríveis divórcios entre cultura e ética, entre beleza e bondade, e que levavam, por exemplo, um oficial nazista a ouvir, embevecido, belas sinfonias depois de um dia de intenso “trabalho”...

Analogamente, há escritores que imaginam o seu texto mas não se comprometem com a realidade das palavras. Há escritores que vivem no talvez, no quem sabe, no possivelmente, paralisados pelo perfeccionismo, atitude mental inimiga da perfeição. Há quase-escritores que não compreendem o mais elementar dos princípios: para escrever é preciso escrever, sair de si mesmo e lançar-se no deserto do papel.

Escrever para valer é um ato de entrega.

Escrever com coragem é escrever com tudo, mesmo que tudo seja muito pouco, ou quase um nada.

Esse tudo e esse nada estão aí, são o campo à espera de nossa colheita criativa.

O escritor deve imitar todos os grandes contadores de história. A arte de contar exige a consciência de que cada palavra é importante. De que uma palavra fora do lugar pode estragar tudo. De que é preciso manter a palavra numa tensão perfeita, de modo que, no final, o sorriso (ou o riso... ou o choro) de quem ouviu a história seja o aplauso implícito, a evidente aprovação.

O escritor, como um pássaro oculto entre as folhas de uma árvore, observa o mundo e conta a sua história...

Era uma vez um macaco que resolveu tornar-se escritor.

Leu muito durante muitos meses, mas rapidamente percebeu que para ser um bom escritor precisava conhecer as pessoas. Por isso, começou a visitar todo mundo. Como era muito simpático, foi convidado para inúmeras festas e eventos, sendo sempre bem acolhido. Todos gostavam de ouvir sua conversa. E nunca lhe faltava assunto. Política internacional, nacional ou municipal. Arte clássica, moderna ou pós-vanguardista. Filosofia antiga, medieval ou contemporânea. Mostrava-se invariavelmente elegante, inteligente, brilhante. Sempre, é claro, com o intuito secreto de investigar a natureza humana e retratá-la em seus futuros livros.

Até o dia em que o macaco sentiu-se apto a escrever.

E resolveu fazer um romance em que haveria ladrões espertos, capazes de enganar o mais experiente detetive. Ao escrever, usava os detalhes do comportamento que registrara nas raposas, o modo como, sorrateiras, entravam nos galinheiros e levavam, em silêncio, o almoço seu e dos filhotes. No entanto, a uma certa altura, o macaco lembrou-se que as raposas da selva poderiam um dia ler o seu romance e, em especial, uma das raposas que sempre lhe servia maravilhosas canjas nos dias mais frios.

Resolveu interromper o romance.

Dias depois, no entanto, ocorreu-lhe outra história. Escreveria um conto cujos personagens seriam oportunistas e aduladores, seres repugnantes que tudo obtêm com aquele comportamento que ele observara tantas vezes em suas conversas com as serpentes da selva. O texto ia de vento em popa quando, subitamente, deu-se conta de que o conto, publicado, poderia cair nas mãos daquelas mesmas adoráveis serpentes que continuamente elogiavam as suas piruetas verbais, os seus brilhantes comentários...

O macaco resolveu abandonar este conto envenenado.

Semanas mais tarde, uma nova inspiração. E se escrevesse um poema satirizando as relações amorosas? Quantas e quantas vezes percebera que machos e fêmeas se uniam e logo que os filhotes estavam um pouco maiores se esqueciam um do outro em busca de outros enlaces conjugais passageiros... Como eram superficiais e levianos em seu amor! Começou a escrever o genial poema. Quase no final, porém, tomou consciência de que, divulgado este poema satírico, poderia revoltar mais da metade dos habitantes da selva e atrair-lhe o ódio de todos os que sempre o trataram com tanto carinho nas festas de casamento.

Desistiu do poema. E de muitas outras obras que ainda projetou escrever: um ensaio sobre o ativismo das abelhas, uma crônica que explorasse a obtusidade das toupeiras, uma peça de teatro que retratasse o indisfarçável mau humor das hienas... Contudo, sempre recordava, no melhor do texto, que os seus leitores poderiam reconhecer-se e sentir-se ofendidos, fechando-lhe para sempre as portas.

Num belo dia, o macaco quase renunciou a tornar-se escritor. Salvou-lhe a derradeira idéia. Escreveria sobre a arte de escrever, aconselhando outros macacos romancistas, poetas ou ensaístas a jamais deixarem de escrever uma linha do que tivessem concebido criar, ainda que sentissem medo da reação desfavorável dos futuros leitores.


Fonte:
http://www.hottopos.com/videtur18/gabriel.htm

Um conto sobre plágio

Evitando plágio

Disponível em: http://br.geocities.com/alves_aq/plag.html
Acesso em 5 jun. 2007


Evitando Plágio
Ken Kirkpatrick
DePauw University


As orientações seguintes definem e descrevem o plágio e dão diretrizes gerais para o uso de fontes bibliográficas em redações.


As políticas sobre plágio podem variar de curso para curso, e em alguns campos a definição de plágio pode precisar ser estendida ou modificada. Se você tiver dúvidas, confira com seu professor ou com algum guia de documentação confiável no seu campo. DePauw University


As orientações seguintes definem e descrevem o plágio e dão diretrizes gerais para o uso de fontes bibliográficas em redações.


As políticas sobre plágio podem variar de curso para curso, e em alguns campos a definição de plágio pode precisar ser estendida ou modificada. Se você tiver dúvidas, confira com seu professor ou com algum guia de documentação confiável no seu campo.


O Plágio Definido


Plagiar é apresentar como seu o trabalho de alguma outra pessoa. Algumas vezes, a linha divisória entre tomar emprestado e roubar não é conhecida com clareza. Em uma comunidade intelectual, idéias circulam livremente. A maioria das investigações intelectuais não poderia ocorrer sem empréstimos dos trabalhos de outros. Escritores honestos e responsáveis indicam seus débitos para com outros ao fazer clara referência ao material tomado emprestado. Escritores desonestos ou irresponsáveis freqüentemente deixam de fazer referência aos seus empréstimos e, portanto, tornam-se culpados de plágio.


Um trabalho plagiado é fácil de reconhecer por não indicar claramente os empréstimos. Ele é cheio de fatos, observações e idéias que o escritor não poderia ter desenvolvido sozinho e é escrito num estilo diferente. Os escritores experientes, tanto quanto os plagiadores, se baseiam em outros escritores; eles sabem que suas idéias são geradas no contexto das idéias dos outros. Por uma questão de honra, eles indicam seus débitos para com outros escritores e, ao fazê-lo, indicam mais claramente sua própria contribuição original.


Algumas vezes é difícil decidir fazer ou não referência a uma fonte. Mas se você souber como usar e fazer referência a fontes e se for cuidadoso ao registrar os empréstimos, nunca terá um problema de plágio quando estiver escrevendo seu texto.


Palavras que Você Precisa Conhecer


Citação: uma cópia palavra por palavra do que alguém disse ou escreveu. Em um escrito, uma passagem citada é indicada pelo acréscimo de aspas no início e no fim da citação ou, se a citação for longa, pela sua colocação em um parágrafo separado do texto principal e recuado. A fonte da citação precisa, ainda, ser referenciada, seja no próprio texto ou em nota de rodapé. : uma cópia palavra por palavra do que alguém disse ou escreveu. Em um escrito, uma passagem citada é indicada pelo acréscimo de aspas no início e no fim da citação ou, se a citação for longa, pela sua colocação em um parágrafo separado do texto principal e recuado. A fonte da citação precisa, ainda, ser referenciada, seja no próprio texto ou em nota de rodapé.


Paráfrase: Numa paráfrase, você reformula com suas próprias palavras algo que sua fonte disse. Muitas redações são quase integralmente paráfrases. Um propósito de se parafrasear, ao invés de citar, é colocar algo em palavras que sua audiência irá compreender. Artigos em revistas populares de ciência freqüentemente parafraseiam artigos mais difíceis de periódicos científicos. Dizer algo com suas próprias palavras é, em si, uma atividade intelectual importante: ela demonstra que você compreende e é capaz de trabalhar com o material. Uma paráfrase tem que ser referenciada; caso contrário, ela será um caso de plágio tanto quanto uma cópia palavra por palavra sem referência à fonte. Dizer algo com suas próprias palavras não torna seu esse algo. : Numa paráfrase, você reformula com suas próprias palavras algo que sua fonte disse. Muitas redações são quase integralmente paráfrases. Um propósito de se parafrasear, ao invés de citar, é colocar algo em palavras que sua audiência irá compreender. Artigos em revistas populares de ciência freqüentemente parafraseiam artigos mais difíceis de periódicos científicos. Dizer algo com suas próprias palavras é, em si, uma atividade intelectual importante: ela demonstra que você compreende e é capaz de trabalhar com o material. Uma paráfrase tem que ser referenciada; caso contrário, ela será um caso de plágio tanto quanto uma cópia palavra por palavra sem referência à fonte. Dizer algo com suas próprias palavras não torna seu esse algo.


Resumo: Assim como a paráfrase, o resumo de uma fonte é feito com suas próprias palavras, mas um resumo é consideravelmente mais curto e não segue a fonte tão de perto quanto a paráfrase. Novamente, você deve referenciar a fonte do resumo. : Assim como a paráfrase, o resumo de uma fonte é feito com suas próprias palavras, mas um resumo é consideravelmente mais curto e não segue a fonte tão de perto quanto a paráfrase. Novamente, você deve referenciar a fonte do resumo.


Referência: identifica a fonte de uma citação, paráfrase ou resumo. A prática de referenciar varia consideravelmente em diferentes tipos de escrita. No jornalismo, usualmente é suficiente citar a fonte no próprio texto pelo nome do autor. Alguns escritos acadêmicos e profissionais requerem somente uma breve referência textual, usualmente o nome do autor, o título do livro ou periódico em que ele apareceu e, talvez, o número da página. Mas a maioria dos escritos profissionais e acadêmicos exige uma referência completa, seja no próprio texto ou numa combinação de referência entre parêntesis no texto e uma entrada bibliográfica completa numa Lista de Trabalhos Referenciados. : identifica a fonte de uma citação, paráfrase ou resumo. A prática de referenciar varia consideravelmente em diferentes tipos de escrita. No jornalismo, usualmente é suficiente citar a fonte no próprio texto pelo nome do autor. Alguns escritos acadêmicos e profissionais requerem somente uma breve referência textual, usualmente o nome do autor, o título do livro ou periódico em que ele apareceu e, talvez, o número da página. Mas a maioria dos escritos profissionais e acadêmicos exige uma referência completa, seja no próprio texto ou numa combinação de referência entre parêntesis no texto e uma entrada bibliográfica completa numa Lista de Trabalhos Referenciados.


Tipos de Plágio


1. Plágio Direto: Consiste em copiar uma fonte palavra por palavra sem indicar que é uma citação e sem fazer referência ao autor. : Consiste em copiar uma fonte palavra por palavra sem indicar que é uma citação e sem fazer referência ao autor.


2. Tomar emprestado o trabalho de outros estudantes: Dormitórios, repúblicas e fraternidades provêem atmosferas propícias para o empréstimo de textos. Não há nada errado em estudantes ajudarem uns aos outros ou trocarem informações. Mas você deve escrever seus próprios textos. Apresentando um texto que alguma outra pessoa escreveu é um caso especial de plágio direto. : Dormitórios, repúblicas e fraternidades provêem atmosferas propícias para o empréstimo de textos. Não há nada errado em estudantes ajudarem uns aos outros ou trocarem informações. Mas você deve escrever seus próprios textos. Apresentando um texto que alguma outra pessoa escreveu é um caso especial de plágio direto.


3. Referência Vaga ou Incorreta: Um escritor deve indicar onde um empréstimo começa e termina. Algumas vezes, um escritor faz referência a uma fonte uma vez, e o leitor presume que as sentenças anteriores ou parágrafos tenham sido parafraseados quando na verdade a maior parte do texto é uma paráfrase desta única fonte. O escritor


falhou na indicação clara dos seus empréstimos. Paráfrases e resumos devem ter seus limites indicados por referências — no começo com o nome do autor, no fim com referência entre parêntesis. O escritor deve sempre indicar quando uma paráfrase, resumo ou citação começa, termina ou é interrompida. : Um escritor deve indicar onde um empréstimo começa e termina. Algumas vezes, um escritor faz referência a uma fonte uma vez, e o leitor presume que as sentenças anteriores ou parágrafos tenham sido parafraseados quando na verdade a maior parte do texto é uma paráfrase desta única fonte. O escritor


falhou na indicação clara dos seus empréstimos. Paráfrases e resumos devem ter seus limites indicados por referências — no começo com o nome do autor, no fim com referência entre parêntesis. O escritor deve sempre indicar quando uma paráfrase, resumo ou citação começa, termina ou é interrompida.


4. Plágio Mosaico: esse é o tipo de plágio mais comum. O Escritor não faz uma cópia da fonte diretamente, mas muda umas poucas palavras em cada sentença ou levemente reformula um parágrafo, sem dar crédito ao autor original. Esses parágrafos ou sentenças não são citações, mas estão tão próximas de ser citações que eles deveriam ter sido citados ou, se eles foram modificados o bastante para serem classificados como paráfrases, deveria ter sido feito referência à fonte. : esse é o tipo de plágio mais comum. O Escritor não faz uma cópia da fonte diretamente, mas muda umas poucas palavras em cada sentença ou levemente reformula um parágrafo, sem dar crédito ao autor original. Esses parágrafos ou sentenças não são citações, mas estão tão próximas de ser citações que eles deveriam ter sido citados ou, se eles foram modificados o bastante para serem classificados como paráfrases, deveria ter sido feito referência à fonte.


Por que Estudantes Plagiam


Estudantes que plagiam geralmente se enquadram em duas categorias. A primeira inclui aqueles que têm dificuldade de escrever redações corretas e coerentes. Eles podem nunca ter recebido boas instruções de redação; eles podem nunca ter escrito muito; eles podem não ser falantes nativos de inglês e ter dificuldade de escrever em inglês. Seja qual for a razão, eles descobrem que, mesmo depois de trabalhar arduamente e por muito tempo, ainda recebem notas baixas em seus escritos. Devido à frustração e ao receio, eles podem plagiar um texto, copiando-o palavra por palavra ou fazendo somente algumas pequenas mudanças nas palavras (plágio mosaico).


Ao invés de plagiar, esses estudantes deveriam procurar assistência de seu professor, do Centro de Redação ou de um tutor ou conselheiro que possa ajudá-lo não somente com alguma dificuldade de aprendizagem, mas também com a frustração, o medo e o estresse.


A segunda categoria consiste de estudantes que, embora escrevam bem o bastante, consideram plagiar tentador. Geralmente, esses estudantes temem receber uma nota menor do que a esperada por eles ou por seus pais, ou, então, atrasaram-se nos trabalhos do curso e sentem que não têm mais tempo para escrever um texto. Eles podem sentir que não podem dar conta da tarefa determinada pelo professor ou que não têm nenhuma boa idéia sobre o assunto.


Comumente, não há motivo para esse último temor. Uma vez que você comece a escrever, usualmente descobrirá que tem algo a dizer.


Mesmo bons estudantes ocasionalmente se atrasam nos trabalhos de seu curso. Quando isso acontece, você deve discutir o problema com seu professor. Ele ou ela poderá penalizá-lo por entregar um trabalho com atraso, mas trabalho atrasado é preferível a trabalho plagiado. Se você acha que está sobrecarregado pelo seu trabalho de curso, que você está constantemente se atrasando e está sem condições de recuperar o atraso, você deverá marcar uma visita com um conselheiro de Assuntos Acadêmicos. Ele ou ela poderá lhe ajudar a administrar melhor seu tempo e o estresse da vida universitária.


Compreenda que plagiar um texto é sempre a pior solução para qualquer problema acadêmico.


Um Caso de Plágio


Richard Marius, em seu texto sobre plágio para a Universidade de Harvard, refere-se a um caso de plágio mosaico. G. R. V. Barratt, na introdução a uma antologia chamada The Decembrist Memoirs (l974), plagiou de vários trabalhos, incluindo The Decembrists (l966) de Marc Raeff. Em uma passagem, Raeff escreveu: The Decembrist Memoirs (l974), plagiou de vários trabalhos, incluindo The Decembrists (l966) de Marc Raeff. Em uma passagem, Raeff escreveu:


Em 1825, o dia 14 de dezembro era a data fixada para o juramento de submissão ao novo Imperador, Nicolau I. Somente alguns dias antes, em 27 de novembro, quando as notícias da morte de Alexandre I chegaram à capital, um juramento de submissão havia sido feito ao irmão mais velho de Nicolau, Grão Duque Constantino, Vice-rei da Polônia. Mas, em consonância com seu ato de renúncia feito em 1819, Constantino recusara a coroa. O virtual interregno agitou a sociedade e produziu intranqüilidade nas tropas, deixando o governo receoso da ocorrência de desordens e distúrbios. Agentes policiais relataram a existência de sociedades secretas e rumores de um golpe a ser dado por regimentos das Guardas. O novo Imperador ansiava que o juramento fosse tão calmo quanto possível. Os membros das instituições centrais do governo — Conselho de Estado, Senado, Ministérios — fizeram o juramento sem incidentes, de manhã cedo. Na maioria dos regimentos da guarnição o juramento também foi feito pacificamente.


Barratt apresentou o mesmo parágrafo, modificando somente umas poucas palavras e detalhes:


Em 1825, o dia 14 de dezembro era a data na qual os regimentos das Guardas em Petersburgo iriam jurar submissão solene a Nicolau I, o novo Imperador. Menos de três semanas antes, quando chegaram à capital as notícias da morte de Alexandre I vindas de Taganrog no mar de Azov, um juramento, não menos solene e legítimo, havia sido feito ao irmão mais velho de Nicolau, o Grão Duque Constantino, vice-rei da Polônia. Constantino, entretanto, havia declinado de ser imperador, em consonância com dois atos separados de renúncia feitos em 1819 e, secretamente, em 1822. O efetivo interregno causou intranqüilidade na sociedade e no exército. O governo temia alguma desordem — com certa razão, uma vez que agentes da polícia relataram a existência de vários grupos clandestinos e rumores de um golpe a ser efetivado por homens da Guarda. Nicholas ansiava que o juramento fosse feito pronta e calmamente. À primeira vista, parecia que as coisas se passavam como ele queria; senadores, ministros e membros do Conselho de Estado fizeram o juramento às 9 da manhã. Na maioria dos regimentos da guarnição, o juramento também foi feito pacificamente.


Exercício: Para ver porque esse mosaico é um plágio, compare as duas versões linha por linha. Quais mudanças Barrat fez? Por que você acha que ele fez essas mudanças? Por que esse é um caso de plágio apesar das mudanças feitas por Barrat? Para ver porque esse mosaico é um plágio, compare as duas versões linha por linha. Quais mudanças Barrat fez? Por que você acha que ele fez essas mudanças? Por que esse é um caso de plágio apesar das mudanças feitas por Barrat?


Modos de Evitar Plágio


Reserve muito tempo para pesquisar e escrever seu texto. Inicie a pesquisa suficientemente cedo para determinar se seu tópico é trabalhável. Estudantes que apresentam um trabalho sobre um tópico diferente do proposto ou daquele sobre o qual fizeram trabalhos preliminares são freqüentemente suspeitos de plágio. Quando você não consegue encontrar o material que precisa e não tem tempo suficiente para começar um novo tópico, plagiar é uma grande tentação. . Inicie a pesquisa suficientemente cedo para determinar se seu tópico é trabalhável. Estudantes que apresentam um trabalho sobre um tópico diferente do proposto ou daquele sobre o qual fizeram trabalhos preliminares são freqüentemente suspeitos de plágio. Quando você não consegue encontrar o material que precisa e não tem tempo suficiente para começar um novo tópico, plagiar é uma grande tentação.


Quando para escrever um texto você precisar consultar outras fontes bibliográficas, dê a si próprio tempo suficiente para digerir a pesquisa. Se você está trabalhando diretamente do livro fonte, você pode começar a fazer um plágio mosaico. Se você escrever uma primeira versão sem usar o material fonte, e, então, consultar novamente a fonte e incorporar as citações que você precisa e indicar seus empréstimos, você poderá perceber que produziu um texto mais original. A originalidade resulta da síntese do que você leu. . Se você está trabalhando diretamente do livro fonte, você pode começar a fazer um plágio mosaico. Se você escrever uma primeira versão sem usar o material fonte, e, então, consultar novamente a fonte e incorporar as citações que você precisa e indicar seus empréstimos, você poderá perceber que produziu um texto mais original. A originalidade resulta da síntese do que você leu.


Tome notas cuidadosamente durante a pesquisa, incluindo referências bibliográficas completas. Isso irá assegurar que você possa facilmente fazer referência à fonte quando estiver preparando a versão final. Muitos estudantes escrevem suas versões finais tarde da noite, depois da biblioteca estar fechada, e, quando percebem que esqueceram de anotar os dados bibliográficos, ficam tentados a não se preocupar com a referência à fonte. . Isso irá assegurar que você possa facilmente fazer referência à fonte quando estiver preparando a versão final. Muitos estudantes escrevem suas versões finais tarde da noite, depois da biblioteca estar fechada, e, quando percebem que esqueceram de anotar os dados bibliográficos, ficam tentados a não se preocupar com a referência à fonte.


Transforme num hábito colocar entre parênteses referências para todas as fontes de onde você fez empréstimos em cada versão que você escreve. Isso irá lhe poupar tempo porque você não terá que revisitar os textos referidos quando estiver preparando a versão final. . Isso irá lhe poupar tempo porque você não terá que revisitar os textos referidos quando estiver preparando a versão final.


Enquanto faz sua pesquisa e escreve seu texto, mantenha à mão um bom guia de documentação [um texto contendo as regras de como fazer referências bibliográficas]. [um texto contendo as regras de como fazer referências bibliográficas].


Confie em você mesmo. Até mesmo os melhores escritores freqüentemente não têm consciência de suas boas idéias e acham que não têm nada a dizer quando na verdade seus escritos dizem muito. Idéias originais resultam de se trabalhar estreitamente com idéias de outros, não de flashes de inspiração. . Até mesmo os melhores escritores freqüentemente não têm consciência de suas boas idéias e acham que não têm nada a dizer quando na verdade seus escritos dizem muito. Idéias originais resultam de se trabalhar estreitamente com idéias de outros, não de flashes de inspiração.


Saiba onde conseguir ajuda. Além de seu professor, também o Centro de Redação [Writing Center] pode lhe ajudar. Bibliotecários de referência podem lhe ajudar com sua pesquisa. Conselheiros universitários podem lhe ajudar com problemas como manejo do tempo, estresse e dificuldades de aprendizagem. Seus serviços são confidenciais e gratuitos. Finalmente, seu conselheiro acadêmico pode ajudá-lo a ter uma visão realista do seu trabalho de curso. . Além de seu professor, também o Centro de Redação [Writing Center] pode lhe ajudar. Bibliotecários de referência podem lhe ajudar com sua pesquisa. Conselheiros universitários podem lhe ajudar com problemas como manejo do tempo, estresse e dificuldades de aprendizagem. Seus serviços são confidenciais e gratuitos. Finalmente, seu conselheiro acadêmico pode ajudá-lo a ter uma visão realista do seu trabalho de curso.


Plágio na Internet


Existem hoje numerosos sites que vendem ou distribuem trabalhos universitários na Internet. Em alguns aspectos, eles são muito parecidos com as fábricas de trabalhos finais de curso [term paper mills] anunciadas na contracapa de revistas como Rolling Stone. Na Internet, suas ofertas são mais tentadoras porque os trabalhos podem ser baixados (e pagos) imediatamente — uma forte tentação para um estudante pouco endinheirado precisando de um trabalho às 4 da madrugada. Uma vez que os trabalhos são transmitidos eletronicamente, eles podem ser facilmente editados em um processador de textos.


Em outros aspectos, os sites com trabalhos de faculdade diferem das fábricas de trabalhos finais. Devido à montagem de um site ser barata, quando comparado à compra de espaço para anúncio em revistas, há mais sites "amadores" onde você pode comprar trabalhos. Esses oferecem um diferente tipo de trabalho. Trata-se de fábricas de trabalhos finais especializadas em trabalhos finais genéricos, os quais têm seu preço determinado pelo tamanho e pelo número de fontes citadas. Eles são escritos aproximadamente no nível de um bom ensaio de pesquisa de faculdade e não para uma publicação profissional e usam fontes que um estudante de faculdade provavelmente encontraria numa biblioteca da graduação. Entretanto, os professores facilmente reconhecem esses trabalhos. Eles tendem a ser genéricos — por exemplo, um trabalho de sete páginas sobre novos tratamentos para a esquizofrenia — e usualmente são escritos num estilo leve e informativo. Embora empreguem boas fontes, freqüentemente elas não são as mesmas discutidas em sala de aula, e, portanto, parecem um pouco deslocadas. Finalmente, eles são livres de erro, um pouco bom demais para ser verdade, principalmente para estudantes que não tenham escrito assim antes.


Site da Internet estão agora oferecendo verdadeiros trabalhos de estudantes, os quais são comprados diretamente de estudantes de faculdade. Para um professor, esses realmente se parecem com trabalhos reais, como se tivessem sido escritos em resposta a idéias levantadas em sala de aula e não como informação genérica sobre um tópico. Por exemplo, um trabalho que eu encontrei por acaso sobre Jane Ayre como uma romancista marxista poderia facilmente ter sido baseado numa discussão que eu fizera em sala sobre como Bronte e Marx viam a situação de classe na Inglaterra. O trabalho estava escrito na voz de um bom estudante do primeiro ano que estava explorando essas idéias pela primeira vez e havia alguns erros nele. Tivesse ele me sido entregue por um aluno meu, eu provavelmente não o teria percebido a fraude a não ser que o estilo da redação diferisse radicalmente do que eu já tivesse visto deste estudante.


A Internet fornece uma outra oportunidade para o plágio. Muitos professores estão montando sites para suas turmas, onde os estudantes colocam os trabalhos escritos para o curso. Isso permite aos estudantes de uma classe ler e comentar os trabalhos uns dos outros sem a necessidade de fotocopiar textos em massa normalmente envolvida neste tipo de trabalho em grupo. Uma vez que qualquer arquivo na Internet pode ser baixado como um arquivo de texto, esses trabalhos podem ser copiados por qualquer um que tenha acesso a eles.


Então, se pegar textos na Internet é tão fácil e barato, por que não fazê-lo?


Primeiro, há uma chance de que o roubo não ficará impune. No passado, a maioria dos professores relutaria em acusar um estudante de plágio a não ser que tivesse evidências diretas (usualmente, a fonte de onde o estudante fez a cópia). À medida que comprar e "tomar emprestado" trabalhos da Internet torna-se mais comum, é provável que os professores se disporão a fazer acusações de plágio com base em evidências indiretas, tais como uma notável diferença de estilo e vocabulário de dois textos apresentados pelo estudante. É provável que os professores também demandem rascunhos e peçam que as redações abordem temas específicos. Tais demandas limitam enormemente a oportunidade de plagiar.


Segundo, as penalidades pelo plágio da Internet podem ser mais severas do que os estudantes suspeitam. Todos os sites comerciais com trabalhos advertem que os trabalhos vendidos devem ser usados com propósito de pesquisa somente. Submetê-los para serem avaliados num curso é uma violação de direitos autorais e pode tornar o estudante sujeito a ser legalmente processado. Tais advertências podem não ter significado mais sério do que aquelas de que você deve ter mais 18 anos para entrar num site pornô. No entanto, algumas universidades estão discutindo meios de pressionar essas empresas a processar os estudantes que são surpreendidos apresentado esses trabalhos. Tais penalidades legais encontram-se acima e além das penalidades acadêmicas para plágio, as quais podem também ser severas.


Finalmente, há o problema da integridade pessoal. Os meios eletrônicos tornam fácil para qualquer um, não apenas para estudantes de faculdade, trapacear. Fotografias armazenadas digitalmente podem facilmente ser alteradas e distribuídas. Dinheiro pode ser desviado de uma conta para outra, freqüentemente sem deixar pistas. Notas podem ser falsificadas. Registros alterados. E, informação de todo tipo copiada e reorganizada. Em meio a tantas oportunidades, a integridade pessoal começa a contar para algo; ela começa a ser notada. E ela começa a ser correlacionada com criatividade. Uma cultura eletrônica onde todos "tomam emprestado" de todos logo começa a andar em círculos a procura de pessoas que possam fazer seu próprio trabalho. Se ao invés de aprender a pensar por conta própria e a expressar suas próprias idéias claramente por escrito você meramente aprender a achar coisas na Internet e modificá-las para seu próprio uso, isso provavelmente será tudo o que você aprenderá. E será preocupante a perspectiva de que a qualidade do seu trabalho possa se limitar à qualidade do que está na Internet.

Conclusão


Aprender a usar fontes bibliográficas é uma das coisas mais importantes que você tem para aprender na faculdade. Usando fontes bem e claramente indicando seus débitos para com essas fontes, seus escritos ganham autoridade, clareza e precisão. Uma discussão com uma pessoa bem informada e atenta nos ajuda a pensar mais claramente. Usar fontes bibliográficas num escrito é um meio de desenvolver tais discussões.


Escritores que plagiam perdem as vantagens de pertencer a uma comunidade intelectual. Se eles são profissionais, provavelmente terão a prática da sua profissão barrada ou seu trabalho pode não ser levado a sério. Se eles são estudantes, carregarão o estigma de ter plagiado. Professores suspeitarão de seus trabalhos e não se disporão a apoiá-los em


seus esforços futuros, escrever cartas de recomendação para eles, ou simplesmente trabalhar com eles. Plagiar é um dos maiores erros que alguém pode fazer.


Você não deve, porém, tornar-se muito inquieto acerca de plágio. Os escritores não podem ter a esperança de indicar ou mesmo de estar conscientes de todos os seus empréstimos, e há um ponto onde uma idéia tomada emprestado de alguém se torna, após longa reflexão, sua própria. Uma vez que você seja escrupuloso na indicação do material citado e dos empréstimos imediatos que feitos em paráfrases, você não será suspeito ou acusado de plágio.


Título do texto em Inglês: Avoiding plagiarism. Endereço do original (em 29 de set. de 2001): http://www.depauw.edu/admin/arc/plag.html Tradução: Jakson Aquino. Avoiding plagiarism. Endereço do original (em 29 de set. de 2001): http://www.depauw.edu/admin/arc/plag.html Tradução: Jakson Aquino.


Fonte:


http://www.geocities.com/jakson-aquino/plag.html


KIRKPATRICK, Ken. Evitando plágio. Trad. Jakson Aquino. Disponível em:

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O cérebro se modifica com a leitura




Ensinar a ler requer um processo de transformação física no cérebro similar à cirurgia, para estabelecer novas conexões neuronais entre a visão, o raciocínio e a fala. A capacidade de ler, algumas vezes se nos apresenta como uma tarefa muito complicada e tortuosa. A aprendizagem da leitura é um processo lento, pois requer a integração de habilidades e destrezas linguísticas.
Estudos revelam que 50% de alunos com problemas de aprendizagem, que atendem ao sistema especial de educação pública, apresenta deficiência na compreensão da leitura, alguns por falhas no processo de aprendizagem e não por motivos fisiológicos insolváveis.
Comprovou-se que os problemas de leitura afetam não somente a educação, mas também a saúde, pela qual auspiciam vários programas de investigação para encontrar as causas do fracasso na aprendizagem da leitura.
Investigadores dedicados ao estudo dos processos cognitivos dizem que “aprender modifica a estrutura física do cérebro”. Nesse sentido, os professores devem entender que “ler requer uma alteração na organização interna do tecido celular cerebral”, e se deve ser paciente com os que iniciam balbuciando.
A maioria das crianças aprende a ler independentemente do método de ensino. Entretanto, 20 a 30% destas, em idade escolar, experimentam dificuldades de aprendizagem, revelam as estatísticas.
As crianças se frustram com rapidez e se envergonham de suas dificuldades quando são conscientes de que seus companheiros de classe leem com fluidez. Problemas de conduta, abandono escolar e desinteresse para seguir estudos universitários, são algumas das consequências diretas das dificuldades de leitura, segundo indicam os experts.
Entre os indicadores mais comuns de potenciais problemas de leitura se encontra a transposição de letras e números. Os educadores hoje em dia preferem utilizar a aquisição do idioma para prevenir melhor os tropeços na leitura. Por sua parte, a falecida Jeann Chall, legendária especialista de leitura da Universidade de Harvard, sempre recalcou que “Contrariamente a linguagem falada, que não necessita de instrução, nossos cérebros requerem um método para aprender a ler.”
Uma das coisas mais importantes é entender a relação entre o abecedário e os sons das palavras. Outros experts recomendam que o ensino destas destrezas deva ser sistemática e cuidadosamente planificado para evitar confundir o estudante. Tomando em conta que cada criança aprende em um ritmo diferente, recomenda-se a utilização de vários métodos de instrução. Entre estes o ensino através da fonética, baseado nos sons de letras e fonemas; ou, do conceito de “idioma completo”, que consiste na aplicação e memorização de palavras.
Se a criança tem um problema de leitura, necessitará de mais tempo e prática. Mas, sobretudo, é vital manter uma disciplina de leitura diária. Os especialistas recomendam que os professores provenham livros de acordo com a habilidade de leitura do estudante para evitar frustrações.
Aos pais de família advertem-lhes que “desliguem os televisores”, pois quando as crianças não leem no ritmo que lhe é devido, estanca-se sua capacidade linguística e sua capacidade de pensar com coerência. Saber ler não é somente uma matéria, é uma habilidade do cérebro humano e como todas as habilidades dependem mais da maneira como a percebemos do que da capacidade.
Criar o hábito da leitura ajuda a melhorar os problemas de aprendizagem.
Artigo original em espanhol

Exercícios de leitura - cócegas no cérebro enferrujado

Consegues encontrar 2 letras B abaixo? Não desistas....

RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
RRRRRRRRRRRBRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
RRRRRRRRRRBRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

Uma vez que encontrares os B,

encontre o 1:

IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIII1IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Uma vez o 1 encontrado,

encontre o 6:

9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999699999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999
9999999999999999999999999999999999


Uma vez o 6 encontrado,

encontre o N (É díficil!):

MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMNMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMM

Uma vez o N encontrado...

encontre o Q:

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOQOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

sábado, 23 de abril de 2011

Ponto de vista

          Qualquer narrativa tem um ponto de vista e qualquer história é outra história se muda o ponto de vista. A variação do ponto de vista é um elemento chave em qualquer narrativa. Leia o texto a seguir e observe como ocorre a mudança do ponto de vista. 

Um dia de gato

Heloísa Seixas

       Tudo aconteceu muito rápido. Só me lembro de ter ouvido um estrondo, depois um tremor imenso, um grito em algum lugar distante – foi só. E o mundo acabou.

        Estava dormindo quando aconteceu. Ou adormeci depois, não sei. Acho que desmaiei. Mas é possível que o mundo tenha mesmo acabado porque a verdade é que agora abro os olhos, arregalando-os com toda força até senti-los secos e, ainda assim, não vejo nada.

        Tento mover meus músculos. Estico as costas com cuidado e, no silêncio enorme que me cerca, ouço os pequenos estalos das vértebras. Assim. Estou conseguindo. Devagar. Sinto alguma coisa fria – parece uma parede – colada à lateral do meu corpo, mas acho que se me arrastar para a frente conseguirei sair daqui. O chão está úmido, como se encharcado por uma substância viscosa. Talvez signifique perigo. Mas não devo pensar nisso agora. O importante é que o chão escorregadio facilita meu deslocamento. Vou em frente, esgueirando-me por espaços ínfimos, menores que meu corpo. Sou bom nisso.

        Após alguns minutos de esforço, sou recompensado. Percebo ao longe, como se ao fim de um túnel, uma claridade.

        Agora, aqui está. Mais este obstáculo e estarei livre. Empurro a pedra com o corpo. É uma lasca de cimento, afiada, que me raspa a orelha. Sinto uma dor aguda. Acho que me feri. Mas não vou desistir.

        A luz explode em meus olhos, seu clarão quase me cega. Sinto o ar frio de primavera nas narinas – e sei que este é o cheiro da liberdade. Mas, assim que minhas pupilas se ajustam à luz do dia, tomo um susto: a poucos passos de mim há um homem, segurando uma estranha máquina preta. Será que vai me matar?

* * *

        O cinegrafista ajeita sua câmera e começa a rodar. Diante dele, os escombros de uma casa nos arredores de Pristina, capital do Kosovo, na Iugoslávia. Mais uma casa destruída pelos bombardeios – apenas mais uma, entre tantas.

        De repente, alguma coisa se move entre os escombros. Ele ajeita o foco, atento. E vê, com surpresa, surgir de trás de uma lasca de concreto um gatinho branco, os olhos azuis piscando muito ante a claridade do dia. Sua orelha sangra, o pêlo do pescoço está escuro, as patas também, como se sujos de graxa, mas ele dá um salto para a frente, com grande agilidade. E depois fica parado, olhando o cinegrafista com sua máquina.

        Parece perplexo. Seus donos com certeza estão mortos. Muita gente está morta. Mas ele saiu ileso do bombardeio. Emerge daquele cenário de destruição, com seus olhos azuis cheios de perguntas. É um sobrevivente da fúria dos homens.

Atividades

1. Leia a tirinha a seguir e responda.



a) Que inferência podemos fazer a partir do retrato produzido pelo elefente?
b) Que importância a escolha do ponto de vista passa a ter no texto?

2. Escreva um parágrafo antes da descoberta de um corpo. Você poderá, talvez, descrever como ele se aproximou do cadáver que vai encontrar, ou o local, ou as duas coisas. Seu objetivo é atrair o leitor para o parágrafo seguinte e dar a ele o desejo de saltar algumas linhas para ler adiante, ao mesmo tempo mantendo o interesse pelo seu parágrafo.

3. Descreva uma paisagem através dos olhos de uma velha cujo marido - repelente e detestável - acaba de morrer. Não mencione nem marido nem morte. Variações:


- Descreva um lago pelos olhos de um rapaz que acaba de cometer um assassinato. Não mencione o crime. 

- Descreva um prédio visto por um homem cujo filho acaba de morrer num assalto. Não mencione o filho, o assalto ou o homem.

Depois descreva o mesmo edifício e as mesmas condições e hora do dia, do ponto de vista de um amante feliz. Não mencione amor nem amada.